quarta-feira, 21 de setembro de 2005

Todo mundo é corrupto. Será?

Em meio a tantos noticiários de corrupção nos meios políticos, um dia desses vi uma frase estampada em um carro, diante da qual não escondo uma grande preocupação. Dizia ela: “meu voto é nulo”.
O preocupante disso é que, com ou sem votos nulos, continuaremos sendo governados por políticos e, se descuidarmos de escolher bem, corremos o risco de as coisas piorarem. Mas há ainda algo de mais grave nesse clima de estarrecimento que nos invadiu nesses últimos tempos. Refiro-me ao perigo da generalização. Com efeito, diante de tantas denúncias, corremos o risco de acreditar sinceramente que não adianta fazermos nada. Afinal “todo mundo é corrupto”.
Porém, se pensarmos um pouco melhor, a quem interessa essa frase? Não seria ela um prato cheio para os próprios corruptos? Isso porque, se todos o são, estariam eles justificados, na medida em que fariam apenas o que “todo mundo faz”.
Confesso que tenho uma certa desconfiança daquelas pessoas em cujas conversas são constantes essas alusões: “todo mundo é desonesto”. Há uns anos  tive um vizinho, cujas conversas chegavam a ser pedantes, de tanto que repetia frases do tipo dessas. Um tempo após, ficamos sabendo que estava foragido e procurado pela polícia, dado o envolvimento que teve com crimes graves. Desde então, fiquei com essa desconfiança: será que essas pessoas não repetem tanto isso como forma de “massagear suas próprias consciências” para que não se acusem tanto elas de suas desonestidades?
Penso que diante da gravidade da situação política o que é mais importante é a serenidade. Se um doente padece de uma infecção grave e generalizada, há que se tratar da infecção e não matar o doente ou dá-lo por desenganado. O mesmo ocorre com as “doenças sociais”, como o é a corrupção. Se há políticos que cometeram ilícitos, há que se exigir com rigor a punição deles, mas isso não nos autoriza taxar todos de corruptos e, por conseqüência, botar a perder todo o sistema.
Aliás, a degradação moral que atinge certos ocupantes de cargos públicos, talvez seja reflexo de uma mesma crise ética que assola as bases da própria sociedade. Façamos um breve exame que nos ajuda a entender isso: quando um vendedor dá um troco a maior, devolve-se imediatamente o que se recebe a mais? Quando se encontra um dinheiro perdido, há um pesar por isso fazer falta a quem o perdeu, ou se alegra com isso porque “o achado não é roubado”? Como empregador, pagam-se salários justos? Como empregado, esforça-se por trabalhar bem, por dever de justiça? Como servidor público, ocupa-se de servir o público, razão de ser de seu emprego? Como pais, dá-se aos filhos a educação e atenção que lhes é devida?
É hora de sermos mais exigentes no cumprimento de nossas obrigações familiares, profissionais e sociais. E não deixa de ser desonestidade descuidar desses deveres, grandes ou pequenos. Isso porque honestidade é algo que não comporta medidas, ou se tem ela ou não.
E há pessoas, infelizmente, que não recebem “mensalão” não porque são honradas, mas porque não são deputados.

Portanto, há que se resgatar a justiça pelo local onde ela se encontra de verdade, que é no recôndito das consciências. Isso porque justiça é, acima de tudo, dar a cada um o que é seu. E fazê-lo é missão de todos, não apenas de políticos.

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