Em meio a tantos noticiários de corrupção nos meios políticos, um dia
desses vi uma frase estampada em um carro, diante da qual não escondo uma
grande preocupação. Dizia ela: “meu voto é nulo”.
O preocupante disso é que, com ou sem votos nulos, continuaremos sendo
governados por políticos e, se descuidarmos de escolher bem, corremos o risco
de as coisas piorarem. Mas há ainda algo de mais grave nesse clima de
estarrecimento que nos invadiu nesses últimos tempos. Refiro-me ao perigo da
generalização. Com efeito, diante de tantas denúncias, corremos o risco de
acreditar sinceramente que não adianta fazermos nada. Afinal “todo mundo é
corrupto”.
Porém, se pensarmos um pouco melhor, a quem interessa essa frase? Não
seria ela um prato cheio para os próprios corruptos? Isso porque, se todos o
são, estariam eles justificados, na medida em que fariam apenas o que “todo
mundo faz”.
Confesso que tenho uma certa desconfiança daquelas pessoas em cujas
conversas são constantes essas alusões: “todo mundo é desonesto”. Há uns
anos tive um vizinho, cujas conversas
chegavam a ser pedantes, de tanto que repetia frases do tipo dessas. Um tempo
após, ficamos sabendo que estava foragido e procurado pela polícia, dado o
envolvimento que teve com crimes graves. Desde então, fiquei com essa
desconfiança: será que essas pessoas não repetem tanto isso como forma de
“massagear suas próprias consciências” para que não se acusem tanto elas de
suas desonestidades?
Penso que diante da gravidade da situação política o que é mais
importante é a serenidade. Se um doente padece de uma infecção grave e
generalizada, há que se tratar da infecção e não matar o doente ou dá-lo por
desenganado. O mesmo ocorre com as “doenças sociais”, como o é a corrupção. Se
há políticos que cometeram ilícitos, há que se exigir com rigor a punição deles,
mas isso não nos autoriza taxar todos de corruptos e, por conseqüência, botar a
perder todo o sistema.
Aliás, a degradação moral que atinge certos ocupantes de cargos públicos,
talvez seja reflexo de uma mesma crise ética que assola as bases da própria
sociedade. Façamos um breve exame que nos ajuda a entender isso: quando um
vendedor dá um troco a maior, devolve-se imediatamente o que se recebe a mais? Quando
se encontra um dinheiro perdido, há um pesar por isso fazer falta a quem o
perdeu, ou se alegra com isso porque “o achado não é roubado”? Como empregador,
pagam-se salários justos? Como empregado, esforça-se por trabalhar bem, por
dever de justiça? Como servidor público, ocupa-se de servir o público, razão de
ser de seu emprego? Como pais, dá-se aos filhos a educação e atenção que lhes é
devida?
É hora de sermos mais exigentes no cumprimento de nossas obrigações
familiares, profissionais e sociais. E não deixa de ser desonestidade descuidar
desses deveres, grandes ou pequenos. Isso porque honestidade é algo que não
comporta medidas, ou se tem ela ou não.
E há pessoas, infelizmente, que não recebem “mensalão” não porque são
honradas, mas porque não são deputados.
Portanto, há que se resgatar a justiça pelo local onde ela se encontra de
verdade, que é no recôndito das consciências. Isso porque justiça é, acima de
tudo, dar a cada um o que é seu. E fazê-lo é missão de todos, não apenas de
políticos.
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