A barbárie voltou à
tona. Semana passada nos deixou atônitos a notícia de morte de um jovem.
Motivo? Era torcedor do time adversário, o dos homicidas! Nas delegacias de
polícia continuam freqüentes as ocorrências de roubos em que os bandidos
invadem casas à luz do dia, humilham, maltratam, ferem, por vezes, matam,
destroem e deixam nas vítimas o sabor amargo, um quê de medo ou de repugnância.
E, quando nossas mentes conseguem abafar um pouco essas tragédias, trazem-nos
de volta as notícias da velha corrupção nos meios políticos.
Contemplando isso
tudo é natural que nos indaguemos, por quê? Por que tanto ódio? Por que tanta
violência? Por que tanta ganância e sede de poder? Tais questionamentos são
comuns diante de tal adversidade. Mas num convite à reflexão podemos inverter
as perguntas e talvez isso nos ajude a tocar no fundo do problema. Ou seja, por
que respeitar o semelhante? Por que exercer um trabalho digno? Enfim, por que
ser honesto?
Como sempre, os
pontos positivos e negativos de nossa sociedade são reflexos do que há no
interior das pessoas que a compõem. Isso implica considerar que uma resposta
adequada às causas da crise social depende de uma análise apurada do que se
passa no interior de seus integrantes. Há que se investigar, portanto, quais
são as verdadeiras aspirações e indagações dos seres humanos e de como eles têm
respondido a isso.
Leo Trese inicia sua
obra a fé explicada propondo uma
série de perguntas, que, por certo, de uma maneira ou de outra, todos já nos
propomos: “Será o homem um mero acidente biológico? E o gênero humano, uma
simples etapa num processo evolutivo cego e sem sentido? Será que esta vida
humana não passa de uma cintilação entre a longa escuridão que precede a
concepção e a escuridão eterna que virá após a morte? E eu, serei apenas um
grão de poeira insignificante no universo, lançado à existência pelo poder
criador de um Deus indiferente, como a casca de laranja inútil que se joga fora
sem pensar? Tem a vida alguma finalidade, algum plano, algum propósito? Enfim,
de onde é que eu venho? E por que estou aqui?”
A resposta a essas
indagações, mais que isso, a opção de vida coerente com essa resposta é que
pode justificar as ações a que mencionamos acima. Se a vida humana não passa de
uma cintilação, como diz Leo Trese, posso dar a ela o sentido que quiser,
inclusive ter como meta destruir, a qualquer custo, a torcida uniformizada do
outro time. Por quê? Sabe-se lá... Porque há algo com que preencher os dias e
se escolhe isso por não achar algo melhor que o valha.
Se, enquanto ser
humano, sou “um grão de poeira insignificante no universo”, ou uma “casca de
laranja inútil que se joga fora sem pensar”, posso concluir que as demais
pessoas também igualmente o são. Nesse caso, por que não posso tratar os demais
como algo desprezível, invadindo-lhes as residências, roubando, ofendendo,
matando?
O problema, ou pior,
a tragédia, é que, com essas infelizes opções de vida, cedo ou tarde se
perceberá que o coração humano é muito grande e, além disso, tem um enorme coeficiente
de dilatação. Ele não se satisfaz com carros, iates, viagens e nem com muitos dólares
na cueca para preenchê-lo. É que foi feito para abrigar o próprio Criador, e,
por amor a Ele, todos os irmãos que tiveram a mesma sorte de lhes ser confiado
o dom da vida.
Não tenhamos, pois,
mais dúvidas: não há sociedade doente, o que há são corações cansados de
abrigar coisas podres que nos impedem de trazer na face o selo da verdadeira
alegria. E essa, não a têm os bandidos enquanto contam o produto de seu roubo,
nem os torcedores homicidas enquanto comemoram a triste vitória sobre a vida do
adversário, nem os corruptos enquanto constroem seus castelos sobre a areia.
Têm-na, ao
contrário, aqueles que se dedicam a contar histórias às crianças do Boldrini,
os que gastam alguns minutos de seu precioso tempo visitando um doente, ouvindo
um idoso contar a mesma história de sempre, enfim, quem tem a sabedoria de
descobrir na face daquele que sofre a alegria e o desafio de servir, caminhando
neste mundo como que de passagem, sem medo da vida e sem medo da morte.
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