Há um mês, o jornal O Estado de São Paulo trouxe uma
matéria sobre a Copa do Mundo, cuja introdução é a seguinte: “Febre de bola,
nervos à flor da pele e muita bebida alcoólica. A Copa do Mundo está chegando e
a indústria alemã do sexo está se preparando para trazer a excitação dos
estádios para as casas de prostituição, clubes de massagem e cinemas
pornográficos de todo o país. Estima-se que o número de prostitutas em
atividade na Alemanha cresça em 30% durante as quatro semanas de junho e julho
em que o mundial será realizado. Cerca de 40 mil novas profissionais devem ser
recrutadas pela indústria do sexo em países da Europa Oriental nos próximos
meses para atender à demanda esperada durante a Copa” (Edição de 19 de
fevereiro de 2006, Caderno E4).
Muito se lutou no século passado para que a mulher
alcançasse a igualdade de direitos com o homem. E, nesse intento,
conseguiram-se consideráveis avanços em vários aspectos. No caso da
prostituição, porém, as coisas caminham no sentido contrário. Ao invés de se
lutar para eliminar essa forma mais brutal de escravização e discriminação da
mulher, tem-se caminhado para uma artificial “legalização”.
Penso que o maior mal de nosso tempo seja o
relativismo. Soa como verdadeira heresia falar em verdades absolutas, válidas
para todos os seres humanos de todos os tempos e em todos as suas
circunstâncias. Igualmente ganha a pecha de retrógrado e antiquado quem ousa
sustentar a existência de um bem universal a nortear as ações humanas. Sustenta-se
que tudo é relativo, bem e mal, certo e errado dependem sempre do ponto de
vista, das opções pessoais de cada um, a tal ponto de se negar a existência de
uma verdade. Verdade, nessa concepção, é o que cada um pensa ser.
E sendo assim, ou seja, se cada um pode “inventar o
seu próprio pecado”, a conseqüência é encontrarmos cada vez mais pessoas
desorientadas, que, por mais que se esforcem, não conseguem encontrar um
significado verdadeiro para suas vidas. Mais que isso, se a noção de certo e
errado é relativa, pode ser inventada por quem quer que seja, surge a
necessidade de mecanismos para ao menos tornar possível a convivência em
sociedade. E então se passa a forjar paliativos, quase sempre sustentados pela
teoria do “mal menor”.
Tomemos como exemplo a questão do aborto. Numa
sociedade tomada pelo relativismo, surgirá um que dirá: “para mim, a vida
começa na quinta semana de gestação”; para outro: “para mim somente com o
nascimento com vida”; outro ainda dirá: “inicia com a concepção”. E quem está
certo? Essa pergunta não faz sentido numa sociedade relativista. Um autêntico
relativista dirá que todos estão, ou seja, há uma verdade para cada um.
Então deve entrar em cena a teoria do “mal menor”.
Como não há verdade absoluta, sequer sobre a vida humana, e há muitas mulheres
que morrem por ano fazendo abortos clandestinos, vamos “legalizar” o aborto e
ao menos isso se fará em condições de higiene, poupando a vida de milhares de
mulheres.
Ocorre que uma sociedade relativista cedo ou tarde se
converte em um rio que corre fora do leito. Cito outro exemplo. Temos observado
nos noticiários os casos de mães que abandonam os filhos em sacos de lixo ao
nascerem. Em breve virão os arautos do relativismo a sustentar que para algumas
pessoas a vida humana somente começa aos dois anos de idade, quando se tiram as
fraldas, então, será necessário que se criem instituições que ajudem-nas a
colocar os filhos indesejados no lixo, como um “mal menor”, evitando-se, com
isso, o sofrimento.
Que o leitor me desculpe a crueza dos argumentos, mas
é exatamente o que ocorre com a “legalização” da prostituição. Numa sociedade
relativista, dizer que a relação sexual é um ato de amor, de entrega total a
ser vivida entre um homem e uma mulher, na qual cada um busca o bem do outro e,
com essa doação mútua, abrem-se aos filhos, com a disposição de recebê-los e
educá-los soa como loucura, ou, pior ainda, frases ditas por quem sofreu
intensas sessões de lavagem cerebral e está fora de si.
Então, opta-se pelo “mal menor”. Como a prostituição
é algo milenar e não há como evitar, dizem os hipócritas de plantão, então
vamos legalizar para, com isso, buscar melhores condições de saúde à mulher que
se entrega a isso.
Formar instituições que as acolham com respeito, que
as dêem formação, mostrando a elas que podem sonhar em mudar de vida, encontrar
um trabalho honrado, constituírem uma família se quiserem e, sobretudo,
resgatar a dignidade como ser humano, nem pensar... Essas idéias são fruto de
uma sociedade machista e preconceituosa, dirão os relativistas. E concluirão eles:
“Afinal, tudo é relativo. Quem foi que disse que a prostituição é errado?
Depende do ponto de vista...”.
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