Tempos atrás, encontrava-me nas proximidades de um
estádio de futebol e tive de pedir informações a um policial militar. Fiquei
surpreso com a sua educação e urbanidade. Pensei que pudesse se tratar de um
caso isolado, mas, no mesmo dia, ao intervir numa briga entre dois torcedores,
outro policial agiu com uma firmeza e profissionalismo que por certo não o
deixa aquém de seus colegas do chamado primeiro mundo. Recentemente, no jogo
entre o Corinthians e o rival argentino, novamente a nossa Polícia Militar deu
mostras de preparo e competência ao conduzir a situação, sem o que as
conseqüências poderiam ter sido bem piores.
Os recentes acontecimentos, ao contrário, expõem uma
lastimável fragilidade em nossas polícias, que mostram uma aparente
incapacidade de combater com eficácia o crime organizado.
Passada a perplexidade que marca nossa primeira
reação diante dessa barbárie, começa a surgir uma dúvida ainda sem resposta:
esses incidentes são passageiros e serão prontamente controlados? Ou teremos de
aprender a conviver com uma espécie de guerrilha?
Quero crer que em breve a situação esteja sob
controle, mas é certo que o crime organizado deu mostras de que pode fazer
estragos e, se não fizermos nada, ganhará cada vez mais força. Mas como combatê-lo
com eficácia?
Uma primeira estratégia nessa guerra é de todos
conhecida: é preciso equipar e formar melhor nossas polícias. É necessário que
sejam melhor equipadas, que recebam uma remuneração digna, que tenham uma
formação adequada e continuada. Mas isso tudo não basta. O combate eficaz à
criminalidade somente se consegue com a participação efetiva da sociedade.
Certa vez, uma empregada doméstica que trabalhava em
minha casa, contou-me a tragédia que presenciou. Um rapaz, fugindo de um
traficante com quem tinha dívida, entrou correndo na casa dela, onde foi
covardemente assassinado pelo bandido, que lhe desferiu vários tiros, caindo
morto sobre o seu sofá. E o pior, contou-me ela, é que a cena grotesca foi
presenciada por seus filhos pequenos. Perguntei a ela se sabia quem era o
assassino e se contou isso à polícia, ao que ela me respondeu: “claro que sei
quem é o bandido, passa todos os dias na minha rua, mas disse à polícia que não
sabia de nada não, pois se disser, estou morta”.
Essa é a arma mais poderosa dos bandidos: o medo e,
com ele, o “não sei de nada”, “não vi nada”, “não me comprometa”. Não tenhamos
dúvida, o objetivo das organizações criminosas já foi atingido. Mataram dezenas
de pessoas inocentes, a imprensa contribuiu com eles, fazendo um verdadeiro
estardalhaço, e agora estamos todos aterrorizados, e já recebemos, ainda que
inconscientemente, o recado bem claro: não delatemos os criminosos, pois eles
são poderosos, vejam do que foram capazes!
E essa ação engenhosa desses “gênios do crime” pode
trazer outra conseqüência ainda mais perigosa e desastrosa: colocar a população
contra a polícia. O policial existe para proteger as pessoas de bem, e se essas
pessoas se voltam contra ele, ou o trata com desprezo, não valorizam sua
profissão, a conseqüência será uma desmoralização do policial e, por
conseqüência, a desmotivação em lutar pela segurança da sociedade.
É necessário e é urgente restabelecer uma sadia
cumplicidade entre a polícia e a sociedade. Para isso, num primeiro momento, o
cidadão deve estar seguro de que será eficazmente protegido quando denunciar
ações criminosas de que tenha conhecimento. Trata-se de estruturar o programa
de proteção a testemunhas, que implante medidas eficazes de resguardo a quem
coopera com o combate ao crime.
É necessário e é urgente que se faça uma campanha de
valorização do trabalho do policial. O policial tem de ser o herói das
crianças, o porto seguro dos idosos e o guardião respeitado por todos como
alguém que está disposto a dar a vida para nos proteger. Isso, mais do que bons
salários, é o que importa para que se resgate a dignidade de quem escolheu por
profissão nos defender.
Enfim, é necessário e é urgente que se resgate os
valores cristãos em nossas famílias, em nossa sociedade, em nossa Pátria. A canção
da Polícia Militar de São Paulo assim resume a missão da corporação:
Legião
de idealistas
Feijó e Tobias
Legaram-na aos seus
Tornando-os vigias
Da Lei e Paulistas
"Por mercê de Deus"
Feijó e Tobias
Legaram-na aos seus
Tornando-os vigias
Da Lei e Paulistas
"Por mercê de Deus"
Não é hora de divisão nem de acovardar-se, pois é a isso que almejam esses bandidos. É hora de nós, cidadãos, apoiarmos e estimarmos nossos policiais. Que nos olhos de todos brilhe o agradecimento e o reconhecimento àquele que "por mercê de Deus" dignou-se escolher por profissão nos defender.
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