quarta-feira, 1 de novembro de 2006

A democracia para os vencidos

Nesses dias que sucedem à escolha do novo Presidente, observam-se reações muito diferentes entre os eleitores. Os que votaram no vencedor, salvo poucas exceções, caem numa apatia, como que sem esperança de que a vitória possa representar alguma mudança em suas vidas. Dentre os que votaram no vencido, ao contrário, não é raro encontrar uma expectativa do tipo “quanto pior melhor”, uma postura agoureira, esperando que tudo dê errado apenas para poder dizer: “Não falei? Ainda bem que não votei nele!”.
Tais reações são muito comuns em todas as decisões colegiadas. Quem vive em condomínio conhece as grandes divisões que surgem nas intermináveis assembléias. O grupo da situação espera temeroso que a decisão seja acertada, o da oposição aguarda ansioso o malogro para provar que estava com a razão. Mesmo em família se observa problemas semelhantes. Há situações em que o pai é da opinião de proibir que o filho faça algo (ir a uma festa, por exemplo), e a mãe pensa em consentir. Por fim, um acaba cedendo. Mas se algo der errado, coitado daquele cuja opinião prevaleceu, vai ter de ouvir daquele que cedeu, com ares de dono (ou dona) da razão: “Não te disse? Não deveria ter deixado”.
Quem participa de decisão tomada por maioria precisa ter a grandeza de espírito para saber se comprometer com o que se decidiu. Mais que isso, deve lutar de verdade para que dê certo, mesmo quando não concorda. Do contrário, a família, o condomínio, a empresa, enfim, qualquer instituição, irá caminhar, mas arrastando o peso morto dos vencidos. É como se fosse um trem com duas locomotivas, cada uma puxando os vagões em sentidos opostos, de tal sorte que a mais forte arrasta no seu sentido, mas a custa de terrível esforço, com tremenda lentidão e prestes a romper, botando tudo a perder a qualquer momento.
A mesma observação se aplica para a escolha dos governantes numa democracia. Proclamado o resultado das eleições, goste-se ou não, confie-se ou não, tenha-se votado no eleito ou não, é preciso reconhecer que é a autoridade legitimamente constituída, que merece respeito e também submissão às decisões que essa autoridade, no exercício da função que lhe cabe, vier a tomar.
Em um passado não muito distante, um partido que perdeu as eleições presidenciais em nosso País, veio com a idéia de fundar um “governo paralelo”. Ora, nada mais ridículo e antidemocrático que isso. Tratou-se de uma iniciativa de desmoralizar o governante eleito, cuidando de que desse errado para colher frutos políticos dos fracassos do vencedor.
É tempo de vencedores e vencidos aprender a empurrar o trem na mesma direção: no sentido da ética, no sentido do trabalho honrado, sério e competente, no sentido da educação, com especial enfoque na formação dos valores, no sentido de proporcionar saúde, e saúde não apenas num atendimento tecnicamente competente nos hospitais e postos de atendimento, mas também na atenção que se presta ao doente, com aquele interesse que nem sempre cura o corpo, mas conforta a alma.
Mas o governante eleito tem também uma parcela enorme de responsabilidade nesse propósito de unir a nação. Primeiro, há de ser ele próprio exemplo de ética e transparência na condução da coisa pública. E depois, deve ter programas sólidos e consistentes, que aglutine eficazmente esforços na persecução do bem comum. Enfim, deve ser aquele que une, e não o que semeia divisões.

Esse querido Brasil, que se orgulha de ser a maior nação cristã do planeta, tem direito a que seu governante, exatamente por ser o primeiro, seja o que serve a todos. E ao mesmo tempo em que se exige isso do Presidente, há de se estar decididamente disposto a não cair na nefasta tentação do “quanto pior, melhor”.

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