O Correio
Popular deste domingo relata o alarmante crescimento do consumo de extasy entre os jovens em Campinas. Sabemos
que o combate à dependência de substâncias entorpecentes, que assola e destrói
muitas famílias, somente é eficaz quando há um trabalho preventivo de formação
das crianças e adolescentes.
Conscientes disso, quase todos os pais conversam com
os filhos, desde a infância, sobre as drogas. É muito comum que façam
verdadeiro terrorismo na cabeça deles com frases do tipo: “a droga mata”. Isso
não é errado, afinal, é verdade o que se diz e é bom temer essa mal terrível,
pois assim será mais fácil fugir das situações em que lhes sugiram o consumo. O
problema é que é só isso que fazem pais para ajudar os filhos a não caírem nesse
flagelo. Porém, essa guerra exige estratégias muito mais bem elaboradas e
implementadas desde a primeira infância.
É necessário educar a vontade desde a infância. Por
educar a vontade, entenda-se, é ensinar a contrariar os gostos, quando fazer
algo de bom exija esforços. Por exemplo, exigir que as refeições sejam feitas
no horário certo e na mesa, e não que fiquem comendo o que querem, na hora em que
querem, deitados diante da TV; que sentem com uma postura correta para fazer
lição, e não que o façam como que “esparramados” na cadeira ou no sofá.
Não se trata de transformar a casa num quartel, mas é
necessário que se ensinem os filhos, desde cedo, a serem fortes, para fazer as
coisas que são boas, ainda que lhes custe. Do contrário, como terão fortaleza
para dizer com valentia NÃO ao traficante ou ao amigo que lhe sugere esse
“prazer irresistível”? Afinal, se sempre fizeram apenas o que é gostoso,
aprazível, o natural será que suas vidas sejam uma exclusiva busca do prazer
sensível, e ninguém duvida de que a droga proporciona, ainda que por breves
instantes, essa sensação prazerosa.
Além de educar a vontade, é necessário que os pais
saibam transmitir, mais com o exemplo do que com palavras, que a vida vale a
pena. A droga nada mais é que uma fuga. E não precisa fugir quem está muito bem
e feliz onde está. É muito pouco provável que vá enveredar pelos caminhos da
droga o filho que vê o pai constantemente alegre, apesar dos muitos problemas
que enfrenta, que chega em casa ao final de um dia de trabalho exausto, mas
contente, aberto para ouvir os filhos e ajudar a esposa. É também pouquíssimo
provável que a filha, que vê na mãe uma mulher, que se desdobra para atender os
filhos e solícita e carinhosa com o marido, e que exatamente por não pensar em
si é feliz e realizada, vá se perder no mundo das drogas.
Não basta incutir temor nos jovens sobre o problema
das drogas. Na adolescência, os pais deixam de ser heróis infalíveis e passam a
ser pessoas que, em geral, não têm razão no que dizem, ou quando menos sabem menos
do que eles sobre o mundo. Assim, o medo que cuidadosamente incutiram pode
ceder à curiosidade de experimentar o que o amigo já experimentou e afirma que
é muito bom. Além da curiosidade, há nos jovens uma natural rebeldia. E se os
filhos não têm nos pais bons exemplos a serem seguidos, uma boa forma de se
rebelarem contra eles é exatamente fazendo o oposto do que sempre aconselharam.
Não é fácil ser pai e ser mãe no mundo de hoje. A
dificuldade está em que se perdeu o sentido da vida, e por tê-lo perdido, não
se pode transmiti-lo aos filhos. Porém, é apenas isso o que eles esperam de
nós: que saibamos mostrar-lhes que não precisam fugir para lugar algum para
encontrar a felicidade a que tanto almejam, pois ela está bem próxima, na
simplicidade de cada momento, cada qual encarado como uma oportunidade única de
fazer o bem aos outros, com isso comprando gratuitamente centenas de “extasys”
que nunca se consomem nem acabam.
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