quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Lições da selva

Nos últimos dias de 2006 o Correio Popular noticiou o drama dos quatro jovens perdidos na Mata Atlântica. Como os conheço, passado o pesadelo, fui buscar na fonte o que aconteceu. Não pretendo, nem seria possível, fazer aqui uma narração fiel do drama vivido. Mas dos relatos podemos tirar algumas lições muito interessantes.
Quando indaguei a um deles o que mais o fazia sofrer naquela situação, respondeu-me que era considerar o quanto estariam preocupados com eles. Tinham dois aparelhos de celular – relatou ele –, mas em nenhum local havia sinal suficiente para telefonar e simplesmente dizer que estavam vivos. Como essas situações extremas desnudam a grandeza do coração! Passavam fome, muita fome, foram quase três dias sem nenhum alimento, também padeciam muitos incômodos com os insetos, a dureza da caminhada, a incerteza da sobrevivência, as agruras da noite ao relento, mas nada disso os faziam sofrer tanto como pensar que, com isso, faziam os outros sofrer. Será que é essa a nossa postura nas nossas relações com os demais? Procuramos que nossos pensamentos e ações estejam orientados, antes de tudo, ao bem dos que convivem conosco?
Mas não menos enriquecedoras foram as lições de seus pais e familiares. A reportagem que o Correio publicou no dia 31 de dezembro nos traz a frase da mãe ao reencontrar o filho em Campinas: “oi, meu amor!”. Nada de repreensão, nem de cobrança, nem de atirar-lhe acusações pela “travessura”, ao contrário, deixou que o coração falasse apenas da alegria do reencontro. Como será que é a nossa postura com aqueles que, por culpa ou sem culpa, nos fazem sofrer?
Foram poucas as manifestações dos pais com a imprensa. Mas em todas elas se notou apenas um propósito: agradecer e elogiar o profissionalismo, a dedicação e a seriedade com que trabalhou a equipe de resgate. “Procuravam por nossos filhos como se fossem os seus filhos”, chegou a dizer uma mãe. Como é importante em nossas relações com os demais a gratidão. Dizem que “é de bem nascidos ser bem agradecidos”, mas essa virtude não surge como que naturalmente, ao contrário, somente a tem aqueles que sabem se colocar na posição do outro e, com essa postura, perceber como se dilata o coração generoso. E nós, sabemos ser agradecidos com os que nos prestam serviços? Ou mantemos a atitude soberba de pensar que o fazem por obrigação? Sabemos dizer obrigado aos que realizam algum trabalho, ainda que sejam subordinados, ou pensamos que isso viria a “retirar a autoridade”?
Impressionou-me também o relato que me fez sobre o trabalho do COE – Comando de Operações Especiais da Polícia Militar. Agiram com um profissionalismo, com competência, com esmero e com uma qualidade técnica que colocam a nossa polícia no mesmo patamar que as dos chamados países desenvolvidos, mas com algo a mais.
Ao ser resgatado, um dos rapazes se inquietava ao considerar que poderia sofrer uma justa repreensão do comandante da operação. Assim, umas das primeiras palavras ditas ao policial que o socorreu foi no sentido de se desculpar de todo o transtorno causado. Como que em resposta ao seu pedido de desculpas, o oficial lhe fez a seguinte indagação: “Sabe quantas pessoas estavam envolvidas nesta operação?”. O meu amigo não tinha nem idéia do que responder, de modo que policial o informou: “mais de cem pessoas”. Mas, ao contrário do que se esperava, como que desanuviando a conversa e impregnando-a de cordialidade, concluiu: “mas isso não tem importância, afinal, uma vida humana vale muito e compensa todo o esforço. Uma vida humana não tem preço, aliás, estávamos preparados para passar a virada do ano procurando por vocês”.

Uma vida humana não tem preço! Que lição maravilhosa nos proporcionou o COE da Polícia Militar nesse final de 2006. Temos todo o 2007, mais que isso, toda a nossa vida, para meditar e aprender com essa lição. Pense nisso, e um feliz 2007 a você, querido leitor, querida leitora, e viva a vida neste novo ano!

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