Nos últimos dias de 2006 o Correio Popular noticiou o drama dos quatro jovens perdidos na Mata
Atlântica. Como os conheço, passado o pesadelo, fui buscar na fonte o que
aconteceu. Não pretendo, nem seria possível, fazer aqui uma narração fiel do
drama vivido. Mas dos relatos podemos tirar algumas lições muito interessantes.
Quando indaguei a um deles o que mais o fazia
sofrer naquela situação, respondeu-me que era considerar o quanto estariam
preocupados com eles. Tinham dois aparelhos de celular – relatou ele –, mas em
nenhum local havia sinal suficiente para telefonar e simplesmente dizer que
estavam vivos. Como essas situações extremas desnudam a grandeza do coração!
Passavam fome, muita fome, foram quase três dias sem nenhum alimento, também
padeciam muitos incômodos com os insetos, a dureza da caminhada, a incerteza da
sobrevivência, as agruras da noite ao relento, mas nada disso os faziam sofrer tanto
como pensar que, com isso, faziam os outros sofrer. Será que é essa a nossa
postura nas nossas relações com os demais? Procuramos que nossos pensamentos e
ações estejam orientados, antes de tudo, ao bem dos que convivem conosco?
Mas não menos enriquecedoras foram as lições de
seus pais e familiares. A reportagem que o Correio publicou no dia 31 de
dezembro nos traz a frase da mãe ao reencontrar o filho em Campinas: “oi, meu
amor!”. Nada de repreensão, nem de cobrança, nem de atirar-lhe acusações pela
“travessura”, ao contrário, deixou que o coração falasse apenas da alegria do
reencontro. Como será que é a nossa postura com aqueles que, por culpa ou sem
culpa, nos fazem sofrer?
Foram poucas as manifestações dos pais com a
imprensa. Mas em todas elas se notou apenas um propósito: agradecer e elogiar o
profissionalismo, a dedicação e a seriedade com que trabalhou a equipe de
resgate. “Procuravam por nossos filhos como se fossem os seus filhos”, chegou a
dizer uma mãe. Como é importante em nossas relações com os demais a gratidão.
Dizem que “é de bem nascidos ser bem agradecidos”, mas essa virtude não surge
como que naturalmente, ao contrário, somente a tem aqueles que sabem se colocar
na posição do outro e, com essa postura, perceber como se dilata o coração
generoso. E nós, sabemos ser agradecidos com os que nos prestam serviços? Ou
mantemos a atitude soberba de pensar que o fazem por obrigação? Sabemos dizer
obrigado aos que realizam algum trabalho, ainda que sejam subordinados, ou
pensamos que isso viria a “retirar a autoridade”?
Impressionou-me também o relato que me fez
sobre o trabalho do COE – Comando de Operações Especiais da Polícia Militar.
Agiram com um profissionalismo, com competência, com esmero e com uma qualidade
técnica que colocam a nossa polícia no mesmo patamar que as dos chamados países
desenvolvidos, mas com algo a mais.
Ao ser resgatado, um dos rapazes se inquietava
ao considerar que poderia sofrer uma justa repreensão do comandante da
operação. Assim, umas das primeiras palavras ditas ao policial que o socorreu
foi no sentido de se desculpar de todo o transtorno causado. Como que em
resposta ao seu pedido de desculpas, o oficial lhe fez a seguinte indagação:
“Sabe quantas pessoas estavam envolvidas nesta operação?”. O meu amigo não
tinha nem idéia do que responder, de modo que policial o informou: “mais de cem
pessoas”. Mas, ao contrário do que se esperava, como que desanuviando a
conversa e impregnando-a de cordialidade, concluiu: “mas isso não tem
importância, afinal, uma vida humana vale muito e compensa todo o esforço. Uma
vida humana não tem preço, aliás, estávamos preparados para passar a virada do
ano procurando por vocês”.
Uma vida humana não tem preço! Que lição
maravilhosa nos proporcionou o COE da Polícia Militar nesse final de 2006.
Temos todo o 2007, mais que isso, toda a nossa vida, para meditar e aprender
com essa lição. Pense nisso, e um feliz 2007 a você, querido leitor, querida leitora, e
viva a vida neste novo ano!
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