quarta-feira, 21 de março de 2007

Lição de mãe

Quem conseguiria conter as lágrimas ao contemplar o beijo doloroso que a mãe do João Hélio deu na mãe da Alana Ezequiel, após a Missa de sétimo dia, celebrada no último dia 12, na Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro? Assim como a maternidade é, em muitos aspectos, incompreensível para nós, homens, penso que a dor de uma mãe também não pode ser compreendida em toda a sua profundidade por quem não sabe amar com um coração de mãe.
E nós, que não passamos por isso, nem experimentamos tão profundo sofrimento, ficamos como que perdidos, perplexos e atemorizados. Tememos que suceda o mesmo conosco, e não desejamos isso, ao mesmo tempo em que não sabemos bem ao certo o que fazer para consolar essas e muitas outras mães que sofrem, e nem como lutar para que essas brutalidades não se repitam.
Talvez se voltarmos nossa atenção para um acontecimento que marca a essência do cristianismo, possamos vislumbrar uma luz e um alento nesses tempos de penumbra e desolação. Todos já ouvimos de uma forma ou de outra, o relato da morte de Cristo na Cruz. Talvez nos passe despercebido, porém, que ao despregá-Lo do madeiro, deixaram-No por uns instantes nos braços de sua Mãe, que também chora. Derrama-se em dores por essa morte brutal e violenta de Seu Filho, que somente passou fazendo o bem.
Essa Mãe é capaz de entender em toda a profundidade e extensão a dor da mãe do João Hélio e da mãe da Alana Ezequiel, porque sentiu em sua alma a mesma dor.
Mas nós, que vemos de longe a mãe do João, a mãe da Alana e a Mãe de Jesus, ainda continuamos como que sem entender e sem saber o que fazer. Mas é que não olhamos de verdade e a fundo para elas.
A Mãe de Cristo, passados aqueles momentos de dor, uniu-se aos seus discípulos, aqueles que em breve inundariam o mundo com uma doutrina completamente nova. Esse pessoal sairia pregando aos quatro cantos do mundo que “não há maior prova de amor que aquele que dá a vida por seus amigos”, que “quem quiser perder a sua vida vai ganhá-la, mas quem quiser salvá-la, vai perdê-la”, vão dizer ainda que “quem não tome a sua cruz de cada dia e O segue não é digno de ser discípulo do Mestre”. E esses poucos malucos, apoiados por aquela Mãe, haveriam impregnar o mundo com a sua doutrina, com uma doutrina simples, compreensível por pescadores e marceneiros, mas profundamente bela, capaz de serenar com paz e alegria os corações que a acolheram.
E a mãe do João Hélio, ora, de novo uma mãe!, vinte séculos após, vem nos dar lição semelhante. Poderia ficar em casa, chorando, tomando anti-depressivos, esperando um legítimo consolo dos seus amigos e familiares. Não faria nada de mau se agisse assim. Porém, não, não foi assim. Saiu de sua casa e do aconchego dos seus e foi consolar outra mãe, que também chora e sofre.
Temos de aprender a lição das mães! Se o momento é mau, se as notícias são ruins e desalentadoras, façamos como elas. Não fiquemos encerrados em nosso mundinho. Trata-se de afogar o mal em abundância de bem. Os jovens e crianças de nosso tempo anseiam que lhes mostremos um sentido para suas vidas. Eles não pegarão em armas, não usarão drogas, não precisaram do ruído das festas raves para abafar o anseio irreprimível de felicidade e eternidade que trazem dentro de si, se nós os mostrarmos, mais com o exemplo do que com palavras, que a vida vale a pena.
E o sentido para a vida nos dão essas mães, sempre dispostas a esquecerem de si para fazer mais bela e amável a vida aos demais.

Termino revelando um segredo, caro leitor, um segredo que deve ser espalhado aos quatro cantos: o único problema que marca o nosso tempo é a grande carência de pessoas que saibam amar como ama um coração de mãe.

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