Em um domingo de Páscoa
de alguns anos atrás, armou-se uma confusão entre os meus filhos, que travavam
uma disputa em volta do ovo de chocolate. Aproximei-me decidido a por um fim na
briga quando, o que então era o mais novo, deu um grito: “Pára com isso! Páscoa
quer dizer vida nova, vocês têm de dividir e não pode brigar!”. Fiquei um tanto
espantado e surpreso com a firmeza dele e, além disso, a atitude inesperada do
pequeno me encheu de ternura e admiração.
Não sei ao certo por
que motivo, agora que essa festa mais uma vez se aproxima, a exortação daquela
criança parece recobrar toda a sua força: Páscoa é vida nova!
Todos nós temos anseios
de mudança, de um mundo melhor, mais humano, mais feliz para se viver.
Gostaríamos que houvesse mais segurança, que as pessoas agissem com mais ética,
enfim, temos desejos ardentes de que a paz reine em nosso meio.
Porém, ao mesmo tempo
em que nosso pensamento muito se ocupa em imaginar e sonhar com um mundo
melhor, normalmente damos pouca atenção para a mudança, a renovação interior.
Penso que nada do que
acontece em nossas vidas é indiferente ou sem sentido algum. Tudo o que nos
sucede, desde o momento em que acordamos até aquele em que nos recolhemos para
o descanso noturno, são ocasiões que nos permitem sermos melhores ou piores.
Por exemplo, quando se
acorda, cansado, com sono, remoendo algum problema, ou pensando no quão
estressante será o dia, é possível se esforçar por sorrir, por dar um beijo na
esposa (ou no marido), por acordar os filhos com um tom amável e acolhedor, ou,
ao contrário, sair esparramando mau humor e irritação ao redor.
Quando saímos de casa e
nos deparamos com as dificuldades do trânsito, pode-se sair xingando a todos e
espalhando grosserias, ou, ao contrário, esforçar-se por ser paciente, ainda
que se pense, por vezes com razão, que os motoristas e pedestres de nossa
querida Campinas exija uma paciência heróica.
Os dois tipos de
atitudes podem também ser escolhidas quando sofremos alguma decepção, uma
doença ou experimentamos o sucesso. Em todas elas, podemos nos esforçar por
compartilhar isso com os que nos cercam, ou, ao contrário, fecharmos em nós
mesmos, colocando-nos no centro do universo.
Um dia desses assisti a
um filme bem interessante, em que o ator, Bruce Willis, interpreta um
personagem que já adulto, se depara consigo mesmo quando garoto, E a criança
vai se frustrando ao se deparar com o que ela é no futuro, ainda que, sob certo
aspecto, fosse ele uma pessoa de “sucesso”, com carro conversível, uma bela
casa, rico, com uma profissão que lhe permite viagens, jantares em restaurantes
caros e etc, mas, apesar disso tudo, a criança o vai fazendo ver o quanto é
infeliz, apesar de ter e possuir isso tudo.
E o mesmo pode
acontecer conosco. Imaginemos, em nosso círculo de amizade ou de conhecidos,
dois tipos diferentes de idosos. Um deles, apesar das dores, doenças e
incômodos que a idade traz consigo, não costuma ficar se queixando a todo
tempo, sabem ser amáveis, sorridentes e prestativos. Outros, ao contrário,
vivem a se queixar disso, daquilo e, com uma voz melancólica, não cansam de
repetir “antigamente é que era bom...”.
Pois bem, poderemos ser
de um tipo ou de outro (se chegarmos até lá, é claro), e isso depende das
opções que tomamos agora, nos detalhes mais pequenos de nosso dia a dia. E a
Páscoa é um momento muito privilegiado para nos examinarmos sobre como temos
nos portado e, diante disso, fazermos propósitos sinceros e valentes de vida
nova, de mudança, de renovação.
Filhão, obrigado pela
lição: Páscoa, é vida nova!
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