A bola da vez nos meios
de comunicação é o “apagão aéreo”. O assunto tem lugar de destaque nos
noticiários e, fazendo eco disso, cada cidadão brasileiro se aventura a emitir
seu parecer. Que haja opiniões diferentes, e que essas se manifestem é saudável
numa democracia. Porém, são preocupantes as considerações negativas, que,
consciente ou inconscientemente, denigrem toda uma instituição por erros de um
ou alguns de seus membros.
Um dia desses, ouvia
num programa de rádio alguém que defendia uma remuneração maior aos militares
que trabalham como controladores de vôo. E o argumento era que a função é de
grande responsabilidade de modo que não pode receber o mesmo salário que o
outro sargento que “apenas ensina os soldados a marcharem”. Ora, a pretexto de se
defender uma remuneração mais digna para alguns, humilha-se os demais. Como
fica, diante disso, aquele militar sério, que todos os dias se levanta cedo e
procura cumprir com esmero e dedicação a sua missão? Não tem ele nada que ver com
o “apagão aéreo”, porém, sentir-se-á, com esses comentários, desestimulado.
E essa postura destrutiva
não atinge apenas as forças armadas. Ainda há pouco se falava dos altos salários
no Poder Judiciário. De novo, que rumo tomou o noticiário e a opinião pública?
Os juízes são uns “marajás” que ganham muito e trabalham pouco. Como ficam,
diante disso, os juízes sérios, que trabalham doze ou mais horas por dia, que
gastam fins de semana trabalhando, privados do convívio com os familiares e
amigos, e que, muitas vezes, recebem um salário líquido muito aquém do que se
estampam nos jornais? Sentir-se-ão estimulados a trabalhar com o mesmo empenho
diante do que pensam deles os cidadãos?
Não há dúvida de que há
maus juízes, que muito ganham pelo pouco que fazem, militares que desonram a
corporação, políticos que traem o eleitor, mas o que é perigoso e inaceitável é
que, diante de fatos negativos, voltem-se as opiniões contra todos, fazendo
ruir toda a instituição.
Já se disse muito
sabiamente que toda crise é uma oportunidade de melhora, tanto no plano pessoal
como institucional. Isso depende, porém, de como reagimos diante dela.
É preciso que sejamos
responsáveis e serenos ao analisar os fatos. Se alguns integrantes do exército
ou da aeronáutica agiram mal, descumprindo as regras de seu ofício, que recaia
sobre eles a punição devida, e que isso sirva para se pensar em como melhorar o
funcionamento da instituição, aprimorando-a para as necessidades atuais. O que
não é admissível é que, diante disso, cada um se sinta autorizado a atirar
pedra indistintamente em toda a instituição. É que, quando isso ocorre, superado
o incidente, a mídia se volta para outros fatos mais “quentes”, e fica a
instituição em frangalhos, sustentando-se como pode e sem saber como motivar
seus integrantes humilhados e desmotivados.
Em 19 de abril de 2006,
estive no quartel aqui de Campinas por ocasião da comemoração do dia do
Exército. Confesso que fiquei muito bem impressionado com o esmero com que são
cuidadas as instalações, bem pintada, grama aparada e tudo impecavelmente
limpo. Nas conversas descontraídas entre eles, nota-se ainda um grande respeito
pelo superior e que esse, sem perder a autoridade, esforça-se por ser solícito
aos seus subordinados. É claro, não tenhamos a ingenuidade de pensar que todo
dia seja as mil maravilhas dos dias de festa, mas tenho de admitir que entra
pelos olhos a ordem, a disciplina e o respeito que marcam uma instituição
séria.
Na próxima quinta-feira
a comemoração se repete. Aproveito para prestar aos nossos militares uma justa homenagem,
ao mesmo tempo em que conclamamos a todos os cidadãos a buscar a maturidade na
análise dos problemas que nos afligem. Que sejamos exigentes com a ética,
competência e espírito de serviço de todos os homens públicos. Que exijamos
rigor na apuração das faltas cometidas por aqueles que têm por missão servir à
nação. Mas também que saibamos agir com justiça nos comentários sobre pessoas e
instituições, de modo que as crises sirvam para as fortalecerem, aprimorando-as
para servir o povo como o povo merece ser servido.
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