segunda-feira, 16 de abril de 2007

Salvem as instituições

A bola da vez nos meios de comunicação é o “apagão aéreo”. O assunto tem lugar de destaque nos noticiários e, fazendo eco disso, cada cidadão brasileiro se aventura a emitir seu parecer. Que haja opiniões diferentes, e que essas se manifestem é saudável numa democracia. Porém, são preocupantes as considerações negativas, que, consciente ou inconscientemente, denigrem toda uma instituição por erros de um ou alguns de seus membros.
Um dia desses, ouvia num programa de rádio alguém que defendia uma remuneração maior aos militares que trabalham como controladores de vôo. E o argumento era que a função é de grande responsabilidade de modo que não pode receber o mesmo salário que o outro sargento que “apenas ensina os soldados a marcharem”. Ora, a pretexto de se defender uma remuneração mais digna para alguns, humilha-se os demais. Como fica, diante disso, aquele militar sério, que todos os dias se levanta cedo e procura cumprir com esmero e dedicação a sua missão? Não tem ele nada que ver com o “apagão aéreo”, porém, sentir-se-á, com esses comentários, desestimulado.
E essa postura destrutiva não atinge apenas as forças armadas. Ainda há pouco se falava dos altos salários no Poder Judiciário. De novo, que rumo tomou o noticiário e a opinião pública? Os juízes são uns “marajás” que ganham muito e trabalham pouco. Como ficam, diante disso, os juízes sérios, que trabalham doze ou mais horas por dia, que gastam fins de semana trabalhando, privados do convívio com os familiares e amigos, e que, muitas vezes, recebem um salário líquido muito aquém do que se estampam nos jornais? Sentir-se-ão estimulados a trabalhar com o mesmo empenho diante do que pensam deles os cidadãos?
Não há dúvida de que há maus juízes, que muito ganham pelo pouco que fazem, militares que desonram a corporação, políticos que traem o eleitor, mas o que é perigoso e inaceitável é que, diante de fatos negativos, voltem-se as opiniões contra todos, fazendo ruir toda a instituição.
Já se disse muito sabiamente que toda crise é uma oportunidade de melhora, tanto no plano pessoal como institucional. Isso depende, porém, de como reagimos diante dela.
É preciso que sejamos responsáveis e serenos ao analisar os fatos. Se alguns integrantes do exército ou da aeronáutica agiram mal, descumprindo as regras de seu ofício, que recaia sobre eles a punição devida, e que isso sirva para se pensar em como melhorar o funcionamento da instituição, aprimorando-a para as necessidades atuais. O que não é admissível é que, diante disso, cada um se sinta autorizado a atirar pedra indistintamente em toda a instituição. É que, quando isso ocorre, superado o incidente, a mídia se volta para outros fatos mais “quentes”, e fica a instituição em frangalhos, sustentando-se como pode e sem saber como motivar seus integrantes humilhados e desmotivados.
Em 19 de abril de 2006, estive no quartel aqui de Campinas por ocasião da comemoração do dia do Exército. Confesso que fiquei muito bem impressionado com o esmero com que são cuidadas as instalações, bem pintada, grama aparada e tudo impecavelmente limpo. Nas conversas descontraídas entre eles, nota-se ainda um grande respeito pelo superior e que esse, sem perder a autoridade, esforça-se por ser solícito aos seus subordinados. É claro, não tenhamos a ingenuidade de pensar que todo dia seja as mil maravilhas dos dias de festa, mas tenho de admitir que entra pelos olhos a ordem, a disciplina e o respeito que marcam uma instituição séria.

Na próxima quinta-feira a comemoração se repete. Aproveito para prestar aos nossos militares uma justa homenagem, ao mesmo tempo em que conclamamos a todos os cidadãos a buscar a maturidade na análise dos problemas que nos afligem. Que sejamos exigentes com a ética, competência e espírito de serviço de todos os homens públicos. Que exijamos rigor na apuração das faltas cometidas por aqueles que têm por missão servir à nação. Mas também que saibamos agir com justiça nos comentários sobre pessoas e instituições, de modo que as crises sirvam para as fortalecerem, aprimorando-as para servir o povo como o povo merece ser servido.

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