Uma ilustre leitora me fez o seguinte pedido: “Gostaria
que o senhor, na próxima matéria, falasse um pouco sobre as sogras. Porque
para uns são umas grandes cobras e para outros uma segunda mãe que a gente
nunca esquece e se apega tanto que quando elas se vão junto a casa de
"DEUS", sofremos muito (...)”. Atendo ao com muito gosto. De fato,
trata-se de uma relação cheia de tensões, mas qual seria o motivo disso?
Em nosso tempo, perdeu-se a noção do que é o
matrimônio e das verdadeiras implicações disso. Na essência, a união do homem
com uma mulher é perene, é para durar por toda a vida, na exata medida em que,
pelo casamento, forma-se uma comunhão plena de vida. Quanto aos filhos, porém, ainda
que os amemos muitíssimo, não nos “casamos” com eles. Ao contrário, geramos
filhos para o mundo. Temos de educá-los, formá-los, mas sabendo que um dia
sairão da “barra da saia”, vão formar outras famílias, enfim, seguirão os seus
caminhos.
Embora isso seja óbvio, muitos homens e mulheres agem
de forma exatamente contrária. Ou seja, quando vêm os filhos, a mulher deixa de
dar a devida atenção ao marido, e esse de se dedicar à esposa, afanando-se
ambos exclusivamente por fazer e dar de tudo à prole. E, quando esse filho ou
essa filha começa a se interessar por alguém ou a namorar, é freqüente que o
pai ou a mãe pensem que o namorado dela, ou a namorada dele, não os trata com
todo o carinho e atenção que os pais deram a ele (ou a ela).
A tensão nasce, frequentemente, de uma postura
possessiva dos pais, que geraram e educaram os filhos sem considerar que um dia
partiriam para o mundo. Como conseqüência disso, no início do casamento deles,
são freqüentes as intervenções indesejadas: “é que esse meu genro só pensa em
jogar futebol com os amigos”, “é que essa minha nora não sabe cuidar das
camisas de meu filho”.
Os pais têm de considerar que o momento de conduzir a
vida dos filhos já passou, agora eles vivem por si sós. É claro que os pais
terão pelo resto da vida a obrigação de aconselhar e orientar, porém, há de se
ter bom senso para saber quando e como podem intervir, e quando têm de deixar
que aprendam com os próprios erros.
Mas a culpa dessa tensão não é apenas dos pais. É uma
característica de nosso tempo pensar que tudo o que é moderno é bom, e que o que
é antigo, ficou ultrapassado. Com essa mentalidade, é comum que os jovens
casais pensem que a experiência dos pais não serve para nada, “que isso ocorreu
em outra época, e que agora os tempos são outros”. E, com essa atitude soberba,
recusam uma ajuda que lhes poderia ser valiosa.
Mas há um terceiro ponto desencadeante dessa tensão.
Refiro-me à falta de afeto, de carinho, de doação nas relações humanas em
geral, e, em especial, no seio das famílias. E quanto a isso, cara leitora, não
sou eu que tenho a dizer-lhe nada. É você quem nos ensina:
“Minha sogra foi uma dádiva de DEUS para mim,
companheira, confidente, me ajudava em tudo e nunca brigamos. Quando adoeceu, chegou-se
a pensar em colocá-la no asilo, porque já não andava, usava fraldas e precisava
de ajuda, mas sempre foi uma pessoa trabalhadora e que ajudou muito os filhos.
Nesse momento foi muito difícil, mas decidi-me a cuidar dela. Ela ficou comigo
durante 18 meses. Nesse tempo, ela não falava, tinha de dar comida na boca, não
mexia com o corpo. Fui trabalhando com ela até voltar a comer, beber, fazer as
unhas e ir ao cabeleireiro sozinha, mas sempre com sua cadeira de rodas e uma
das enfermeiras acompanhando (...). Só tenho que agradecer por ter tido essa
honra de poder cuidar dela até o momento em entrou no hospital, quando já não
tinha mais condições de sobrevivência, mas assim mesmo perguntou se eu ainda
amava, ao que disse que a amaria eternamente” (Walquiria Andrade Neves).
Cara Walquíria, muito obrigado e, coincidência ou
não, você tem o mesmo nome da minha sogra (Walkíria). Por prudência, acho
melhor dizer que considero a minha também como uma dádiva de Deus, ou... pelo
menos não é uma cobra. A propósito, Walkíria (falo agora para a minha sogrona),
estou pensando em fazer uma viagem só com a sua filha e... que tal passar um
final de semana cuidando de seus netinhos adoráveis?...