segunda-feira, 7 de maio de 2007

A visita do Papa

Nesta semana teremos a grata satisfação de receber a visita do Papa Bento XVI. No entanto, em meio aos preparativos para a sua chegada, uma pessoa, observando os detalhes de zelo e carinho dos fiéis para com a hospedagem, transporte e vestimenta do Papa, soltou um comentário azedo, mais ou menos do tipo: “Que absurdo! Para que tanto luxo? Jesus, que nasceu, viveu e morreu pobre, o que pensaria disso tudo?”.
Antes de adentrar nesse tema, gostaria de abrir um parêntesis. Dentre meus amigos leitores há muitos cristãos não católicos e outros tantos que sequer são cristãos. A eles devo total respeito por suas convicções, mais ainda, penso que um dos pilares do cristianismo seja o respeito à liberdade das consciências. E eles sabem disso, porém, quando o assunto é o Papa, essa ressalva deve ser feita com mais acento, para que não se acirrem as divisões onde se espera que reine cada vez mais a concórdia.
Mas o fato é que a crítica a que me referia acima, não raras vezes, parte de cristãos que se dizem católicos. E é com esses, principalmente, que gostaria de ponderar um pouco sobre o assunto.
Penso que a resposta à indagação há de ser buscada no próprio Evangelho.
O apóstolo João relata na passagem da unção de Betânia, onde Jesus participou de uma ceia, que “Maria tomou uma libra de perfume feito de nardo puro de grande preço, ungiu os pés de Jesus e os enxugou com os seus cabelos; e a casa encheu-se com o cheiro do perfume” (Jo 12, 2-3). Diante disso, alguns dos presentes se indignaram com o que seria um grande desperdício, mas Jesus replicou: “Por que molestais esta mulher? Ela fez-Me verdadeiramente uma obra boa. Porque vós tereis sempre pobres convosco, mas a Mim nem sempre Me tereis” (Mt 26, 10-12).
Vê-se que o Mestre não recriminou o que parecia um grande desperdício, ao contrário, elogiou a demonstração de generosidade e de carinho que a mulher manifestou para com Ele. De fato, no cristianismo sempre se pregou o desprendimento, e Jesus, sendo pobre, foi um constante exemplo disso. Mas essa virtude há de brotar de dentro da pessoa, e não ser imposta pelos outros.
Guardadas as devidas proporções, a mesma idéia se aplica ao Santo Padre. Estou absolutamente convencido de que ele não está apegado ao poder, nem às riquezas e, com grande leveza de espírito, serve ao povo cristão desapegado disso tudo. Porém, consente que nós cristãos, exageremos, tal como Maria, em nossas manifestações de carinho. E por certo ele permite também que “quebremos o frasco de perfume”, tal como o Mestre permitiu, não tanto porque ele precisa disso, mas porque sabe que isso faz um grande bem às próprias almas generosas que não medem esforços para dar e dar-se.
E se aprofundarmos um pouco mais no relato dessa passagem, veremos que a crítica que hoje se faz é muito antiga. É a mesma que fez Judas Iscariotes. Disse ele: “Por que não se vendeu esse perfume por trezentos denários para se dar aos pobres?”. E São João expõe o verdadeiro motivo da crítica do traidor: “Disse isto, não porque se importasse com os pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, roubava o que nela se deitava”. Será que as críticas azedas que se fazem à calorosa recepção ao Santo Padre não estariam equivocadas, assim como Judas estava equivocado?
Mas podemos aprofundar ainda um pouco mais. Na mesma casa de Betânia, em outra ocasião, vemos o contraste entre Marta, que se desgastava pelo serviço da casa e com a preocupação em servir a Jesus e aos discípulos, ao passo que Maria permanecia ao Seu pé a escutá-Lo. E, diante da queixa de Marta, de que a irmã não lhe ajudava, Jesus disse-lhe: “Marta, Marta, tu afadigas-te e andas inquieta com muitas coisas, quando uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada”.

Também com isso podemos fazer um paralelo com a visita do Papa. De fato, é muito bom nos ocupemos de que seja agradável para ele a viagem, que seja bem recebido etc. Mas, mais que isso, importa que estejamos muito bem atentos aos seus ensinamentos. Que, tal como Maria, saibamos escolher a melhor parte.

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