Nesta semana teremos a grata satisfação de receber a
visita do Papa Bento XVI. No entanto, em meio aos preparativos para a sua
chegada, uma pessoa, observando os detalhes de zelo e carinho dos fiéis para
com a hospedagem, transporte e vestimenta do Papa, soltou um comentário azedo,
mais ou menos do tipo: “Que absurdo! Para que tanto luxo? Jesus, que nasceu,
viveu e morreu pobre, o que pensaria disso tudo?”.
Antes de adentrar nesse tema, gostaria de abrir um
parêntesis. Dentre meus amigos leitores há muitos cristãos não católicos e
outros tantos que sequer são cristãos. A eles devo total respeito por suas
convicções, mais ainda, penso que um dos pilares do cristianismo seja o
respeito à liberdade das consciências. E eles sabem disso, porém, quando o
assunto é o Papa, essa ressalva deve ser feita com mais acento, para que não se
acirrem as divisões onde se espera que reine cada vez mais a concórdia.
Mas o fato é que a crítica a que me referia acima, não
raras vezes, parte de cristãos que se dizem católicos. E é com esses,
principalmente, que gostaria de ponderar um pouco sobre o assunto.
Penso que a resposta à indagação há de ser buscada no
próprio Evangelho.
O apóstolo João relata na passagem da unção de
Betânia, onde Jesus participou de uma ceia, que “Maria tomou uma libra de
perfume feito de nardo puro de grande preço, ungiu os pés de Jesus e os enxugou
com os seus cabelos; e a casa encheu-se com o cheiro do perfume” (Jo 12, 2-3). Diante
disso, alguns dos presentes se indignaram com o que seria um grande desperdício,
mas Jesus replicou: “Por que molestais esta mulher? Ela fez-Me verdadeiramente
uma obra boa. Porque vós tereis sempre pobres convosco, mas a Mim nem sempre Me
tereis” (Mt 26, 10-12).
Vê-se que o Mestre não recriminou o que parecia um
grande desperdício, ao contrário, elogiou a demonstração de generosidade e de
carinho que a mulher manifestou para com Ele. De fato, no cristianismo sempre
se pregou o desprendimento, e Jesus, sendo pobre, foi um constante exemplo
disso. Mas essa virtude há de brotar de dentro da pessoa, e não ser imposta
pelos outros.
Guardadas as devidas proporções, a mesma idéia se
aplica ao Santo Padre. Estou absolutamente convencido de que ele não está
apegado ao poder, nem às riquezas e, com grande leveza de espírito, serve ao
povo cristão desapegado disso tudo. Porém, consente que nós cristãos,
exageremos, tal como Maria, em nossas manifestações de carinho. E por certo ele
permite também que “quebremos o frasco de perfume”, tal como o Mestre permitiu,
não tanto porque ele precisa disso, mas porque sabe que isso faz um grande bem
às próprias almas generosas que não medem esforços para dar e dar-se.
E se aprofundarmos um pouco mais no relato dessa
passagem, veremos que a crítica que hoje se faz é muito antiga. É a mesma que
fez Judas Iscariotes. Disse ele: “Por que não se vendeu esse perfume por
trezentos denários para se dar aos pobres?”. E São João expõe o verdadeiro
motivo da crítica do traidor: “Disse isto, não porque se importasse com os
pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, roubava o que nela se deitava”.
Será que as críticas azedas que se fazem à calorosa recepção ao Santo Padre não
estariam equivocadas, assim como Judas estava equivocado?
Mas podemos aprofundar ainda um pouco mais. Na mesma
casa de Betânia, em outra ocasião, vemos o contraste entre Marta, que se
desgastava pelo serviço da casa e com a preocupação em servir a Jesus e aos
discípulos, ao passo que Maria permanecia ao Seu pé a escutá-Lo. E, diante da
queixa de Marta, de que a irmã não lhe ajudava, Jesus disse-lhe: “Marta, Marta,
tu afadigas-te e andas inquieta com muitas coisas, quando uma só coisa é
necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada”.
Também com isso podemos fazer um paralelo com a visita
do Papa. De fato, é muito bom nos ocupemos de que seja agradável para ele a
viagem, que seja bem recebido etc. Mas, mais que isso, importa que estejamos
muito bem atentos aos seus ensinamentos. Que, tal como Maria, saibamos escolher
a melhor parte.
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