segunda-feira, 21 de maio de 2007

Quem não se forma, deforma

Se alguém nos lançasse de surpresa a seguinte pergunta: “o que você espera do que lhe resta de sua vida?”, que resposta daríamos?
É possível que, num primeiro momento, começasse a se desenhar em nossa mente tudo o que nos aflige: uma doença, própria ou de algum amigo ou familiar, que gostaríamos que desaparecesse; um defeito do cônjuge, do filho, do colega de trabalho, que gostaríamos que sumisse como num passe de mágica; uma dificuldade econômica que desejamos superar; pode ainda ser algo relacionado ao trabalho, uma dificuldade com o chefe, o sócio ou com os colegas; talvez alguém se lembre de uma crise conjugal que gostaria de ver superada.
Pode ocorrer que, diante da indagação, não se pense nos problemas, mas que nos venha à mente todos os nossos sonhos ainda não realizados: a casa própria, o sucesso profissional, a saúde e a educação dos filhos, o carro novo, uma viagem, enfim, tudo o que ainda não temos e que julgamos que, se tivéssemos, seríamos realizados e felizes.
Mas é muito pouco provável que, se nos perguntassem o que esperamos da vida, que alguém respondesse algo do tipo: “espero ser melhor como pessoa”, “gostaria de ser mais paciente e carinhoso (ou carinhosa) com o marido (ou com a esposa)”, “quero ser mais laborioso, e fazer do meu trabalho um serviço aos demais”, “buscarei ser um pai ou uma mãe mais dedicado e atento à educação dos filhos”.
E a razão disso, infelizmente, é que com freqüência colocamos nossos projetos e sonhos no que haveremos de ter e não no que seremos enquanto seres humanos.
Não é ruim sonhar em ter um trabalho melhor, uma situação econômica mais digna, proporcionando melhores condições à família. Não há nada de errado em sonhar com uma casa ou com uma viagem de lazer. Afinal, onde está dito que essas boas coisas da vida não devem ser desfrutadas?
Porém, muito mais empenho deveríamos colocar em sermos melhores enquanto pessoas. E se formos sinceros conosco mesmos, teremos de admitir que nos julgamos perfeitos, e, com freqüência, pensamos que são os outros que devem mudar e não nós. E isso não é verdade.
Apenas para constatar isso, convido ao leitor que faça uma experiência: peça à esposa ou marido, ou ao colega de trabalho, que façam uma lista de três defeitos que eles vêem em você. Mas não se preocupe, ao ler a lista, em dar desculpas. Não, apenas agradeça ao amigo (ou cônjuge) e, depois, devagar, medite no que está escrito.
Quando nos examinarmos, veremos que há muitos pontos em que se pode melhorar. Podemos ser mais ordenados com nossos objetos pessoais, tanto em casa quanto no trabalho, podemos ser mais pacientes com as pessoas, podemos ouvir a esposa, e a esposa poderá se ocupar em dizer coisas agradáveis ao marido e não apenas lançar-lhe uma lista diária de reclamações.
E isso há de ser um esforço constante, todos os dias. Alguém poderá pensar no que se ganha com isso, ou, qual a vantagem em buscar esse aprimoramento constante?
Talvez se olharmos para o “fim da linha” fica mais fácil vislumbrar a vantagem. Observemos dois tipos de idosos, que por certo teremos contato em nossas vidas: um deles, a todo tempo reclamando de suas dores doenças e sempre a dizer que “antigamente eu era isso, eu fazia aquilo e etc.”; outros, ao contrário, apesar da idade, ainda sonham, sorriem, não se preocupam consigo, mas estão sempre atentos a servir aos demais, na medida de suas possibilidades, é claro.

Alguém ousaria pensar que esses jovens idosos, sempre solícitos e sorridentes são assim por acaso? Estou certo de que não. É que eles, consciente ou inconscientemente ocuparam suas vidas em serem melhores como pessoas. E agora trazem a marca da alegria que nasce serena e forte em quem não se ocupa de si mesmo, mas faz de suas vidas um serviço aos demais.

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