Se alguém nos lançasse de surpresa a seguinte
pergunta: “o que você espera do que lhe resta de sua vida?”, que resposta
daríamos?
É possível que, num primeiro momento, começasse a se
desenhar em nossa mente tudo o que nos aflige: uma doença, própria ou de algum
amigo ou familiar, que gostaríamos que desaparecesse; um defeito do cônjuge, do
filho, do colega de trabalho, que gostaríamos que sumisse como num passe de
mágica; uma dificuldade econômica que desejamos superar; pode ainda ser algo
relacionado ao trabalho, uma dificuldade com o chefe, o sócio ou com os
colegas; talvez alguém se lembre de uma crise conjugal que gostaria de ver
superada.
Pode ocorrer que, diante da indagação, não se pense
nos problemas, mas que nos venha à mente todos os nossos sonhos ainda não
realizados: a casa própria, o sucesso profissional, a saúde e a educação dos
filhos, o carro novo, uma viagem, enfim, tudo o que ainda não temos e que
julgamos que, se tivéssemos, seríamos realizados e felizes.
Mas é muito pouco provável que, se nos perguntassem o
que esperamos da vida, que alguém respondesse algo do tipo: “espero ser melhor
como pessoa”, “gostaria de ser mais paciente e carinhoso (ou carinhosa) com o
marido (ou com a esposa)”, “quero ser mais laborioso, e fazer do meu trabalho
um serviço aos demais”, “buscarei ser um pai ou uma mãe mais dedicado e atento
à educação dos filhos”.
E a razão disso, infelizmente, é que com freqüência
colocamos nossos projetos e sonhos no que haveremos de ter e não no que seremos
enquanto seres humanos.
Não é ruim sonhar em ter um trabalho melhor, uma
situação econômica mais digna, proporcionando melhores condições à família. Não
há nada de errado em sonhar com uma casa ou com uma viagem de lazer. Afinal,
onde está dito que essas boas coisas da vida não devem ser desfrutadas?
Porém, muito mais empenho deveríamos colocar em sermos
melhores enquanto pessoas. E se formos sinceros conosco mesmos, teremos de
admitir que nos julgamos perfeitos, e, com freqüência, pensamos que são os outros
que devem mudar e não nós. E isso não é verdade.
Apenas para constatar isso, convido ao leitor que faça
uma experiência: peça à esposa ou marido, ou ao colega de trabalho, que façam
uma lista de três defeitos que eles vêem em você. Mas não se preocupe,
ao ler a lista, em dar desculpas. Não, apenas agradeça ao amigo (ou cônjuge) e,
depois, devagar, medite no que está escrito.
Quando nos examinarmos, veremos que há muitos pontos
em que se pode melhorar. Podemos ser mais ordenados com nossos objetos pessoais,
tanto em casa quanto no trabalho, podemos ser mais pacientes com as pessoas,
podemos ouvir a esposa, e a esposa poderá se ocupar em dizer coisas agradáveis
ao marido e não apenas lançar-lhe uma lista diária de reclamações.
E isso há de ser um esforço constante, todos os dias. Alguém
poderá pensar no que se ganha com isso, ou, qual a vantagem em buscar esse
aprimoramento constante?
Talvez se olharmos para o “fim da linha” fica mais
fácil vislumbrar a vantagem. Observemos dois tipos de idosos, que por certo
teremos contato em nossas vidas: um deles, a todo tempo reclamando de suas
dores doenças e sempre a dizer que “antigamente eu era isso, eu fazia aquilo e
etc.”; outros, ao contrário, apesar da idade, ainda sonham, sorriem, não se
preocupam consigo, mas estão sempre atentos a servir aos demais, na medida de
suas possibilidades, é claro.
Alguém ousaria pensar que esses jovens idosos, sempre
solícitos e sorridentes são assim por acaso? Estou certo de que não. É que
eles, consciente ou inconscientemente ocuparam suas vidas em serem melhores
como pessoas. E agora trazem a marca da alegria que nasce serena e forte em
quem não se ocupa de si mesmo, mas faz de suas vidas um serviço aos demais.
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