O jornal é um local apropriado para o debate, o
confronto de idéias e pontos de vista diferentes. Nesse sentido, é natural que
haja críticas. Isso, porém, nos permite indagar sobre quando uma crítica pode
ser construtiva e quando não presta senão para humilhar ou ofender aqueles a
quem é dirigida.
Penso que um primeiro aspecto a se considerar é se o
fato é importante. Há pessoas que são capazes de fazer um verdadeiro carnaval
porque alguém apertou o tubo do creme dental pelo meio e não em sua extremidade.
Há pais que chegam a mostrar verdadeira indignação com o filho que coloca o
feijão sobre o arroz no prato, ou vice-versa. Ora, que importância tem isso? Vale
a pena se desgastar e causar aborrecimentos com coisas que não têm a menor
relevância?
Outro requisito de uma boa crítica é a intenção de
quem a faz. Há de se ter como propósito o bem daquele a quem é dirigida, ou das
pessoas que com ele convive. Por exemplo, se o pai ou a mãe nota a desordem e o
desleixo no quarto do filho, não podem se omitir, talvez pensando que, quando
crescer, irá adquirir a ordem por si só. Ao contrário, têm o dever de exigir do
filho para educá-lo. Mas há de o fazer por querê-lo bem e nada mais. É que
temos a tendência de criticar e exigir dos filhos no que nos incomoda, e não no
que lhe é verdadeiramente bom.
Talvez o aspecto mais importante da crítica bem feita
é a forma com que é dita. Sei de um marido que, no meio do jantar, preparado
pela esposa com muito esforço e carinho, resolveu fazer uma brincadeirinha:
“este arroz é da marca unidos venceremos?”. São também nefastas e destroem o
bom ambiente familiar as generalizações. Por exemplo, o marido entra em casa
após um dia estressante de trabalho e a primeira frase que recebe da esposa é:
“atrasado de novo!”.
Entre as nações, sabemos que há leis internacionais
tratando das guerras, definindo o que é lícito e o que não é durante um
confronto armado. Pois bem, se alguém se dispusesse a redigir uma espécie de
código das brigas entre o casal, penso que o artigo mais importante seria o
seguinte: “Durante uma discussão, é proibido usar as palavras sempre e nunca”.
De fato, não há o que fazer quando o outro diz: “você sempre faz isso”, ou
“você nunca faz aquilo”. Ora, se a pessoa chegou atrasada em seis dias da
semana e em um foi pontual, é o quanto basta para concluir que é injusta e
mentirosa a acusação de que sempre chega atrasado.
É importante que a crítica, além de bem intencionada
(com o propósito de ajudar) e feita de forma respeitosa, se atenha aos fatos
concretos. Por exemplo: “Querido, você chegou atrasado quatro dias desta
semana. Com isso, as crianças foram dormir sem poder ficar um pouco de tempo
com você. Eu sei que tem muito trabalho, mas poderia fazer um esforço nesse
sentido?”. É muito pouco provável que se zangue quem recebe tal crítica. E, se
zangar, é porque tem uma suscetibilidade muito exacerbada, e nesse caso quem
terá de se esforçar é ele.
Há alguns anos tive a imensa felicidade de ter como
meu superior no trabalho uma pessoa que era mestre em não falar mal de ninguém.
Soube por um terceiro que ele havia se envolvido em um acidente de veículo, no
qual o outro motorista, dirigindo embriagado e em alta velocidade, desrespeitou
o sinal vermelho e causou bastante estrago. Já sabendo por alto dos fatos,
perguntei a ele o que havia ocorrido, ao que ele confirmou o acidente. Porém,
da pessoa que o causou, limitou-se a dizer: “é um homem honestíssimo. Após a
batida compareceu na delegacia, assumiu a culpa e se dispôs a consertar o
veículo”.
Penso que as nossas famílias e os nossos locais de
trabalho estão muito carentes de pessoas como esse chefe que tive. Carentes de
homens e mulheres que não fazem comentários azedos ou ferinos. Ao contrário,
que sejam semeadores de paz e de alegria em todos os ambientes em que convivem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário