O mundo ficou estarrecido com a notícia do jovem que
matou vários alunos e uma professora
numa escola da Finlândia, após o que pôs fim à sua própria vida. Quando nos
deparamos com tragédias como essa, talvez o que mais nos intriga é indagar os
motivos que levam uma pessoa a tomar tal atitude.
Não sou psicólogo. Também não disponho de
conhecimento técnico nem de dados para supor o que se passava com esse infeliz
que pôs cabo à sua existência terrena de maneira tão triste. Mas penso que o
incidente pode nos levar a pensar sobre os mecanismos de inclusão e exclusão
existentes em nossa sociedade. É que ninguém ignora que o fator desencadeante,
e talvez a causa de tragédias dessa natureza, seja a incapacidade de ser aceito
e amado no meio social em que se vive, mais que isso, é a falta de sentido da
vida.
Lembro-me agora das primeiras aulas que tive em um
colégio em que estudei a partir do segundo ano do ensino médio. Vinha de uma
pequena cidade do interior, onde estudei em escolas públicas. Naquela cidade
grande, tudo era estranho. Via filhinhos de papai riquinhos cuja conversa eram
viagens à Disney, intercâmbio cultural e muitas outras coisas que me eram
totalmente desconhecidas. Desde aquele momento se notava os critérios para ser
ou não ser da “turma”: freqüentar ou não freqüentar tal clube, ser dos que
estudavam muito, ou ser dos preguiçosos nos estudos, ingerir ou não bebida
alcoólica etc. Felizmente não tive muita dificuldade em encontrar amigos com
quem me identificasse e ter a “minha turma”. Mas confesso que sempre me causou
certa inquietação por saber qual foi o destino daqueles colegas “esquisitos”,
que se isolavam no canto da sala, que não tinham amigos, talvez porque não se
identificassem com o que gostavam, pensavam ou faziam os demais.
Na Universidade não foi muito diferente. Há os que
freqüentavam as festas badaladas e os que não, os que se dedicavam com esmero
aos estudos e os que “estudavam para passar de ano”, os que eram de direita e
os que eram de esquerda. E uma vez formada a turma, o que mais faziam seus
integrantes era criticar os que “estavam de fora”.
É interessante notar que os critérios de exclusão e
inclusão com que nos deparamos no colégio e na Universidade, de certa forma,
perduram por toda a vida e assumem em outros ambientes contornos mais cruéis.
Nas empresas, costumam ser isolados aqueles que não contam com a simpatia do
chefe, pois, quando tiver de “rolar a cabeça”, os seus amigos podem cair
juntos. Isso sem contar os conchavos e as uniões e desuniões por puro interesse,
daqueles que não vêem nos semelhantes pessoas, mas degraus para serem subidos.
Lembro-me de uma conversa que tive com o meu avô (que
saudades daquelas estórias intermináveis das vésperas de Natal!). Lembro-me que
contava a ele que conheci um bom sujeito na Universidade, mas que não conseguia
me aproximar dele, afinal, ele não gostava de tomar uma cervejinha conosco no
centro acadêmico. Mas o meu avô me respondeu imediatamente: “não é apenas o
gosto pela cerveja que pode ser algo em comum de modo a alimentar uma amizade.
Eu gosto de tomar pinga, mas eu tinha um tio que não bebia, mas éramos grandes
amigos. É que gostávamos de caçar e então a conversa sobre caça nos mantinha
juntos. Se você quiser, sempre achará coisas em comum com qualquer pessoa. E
isso pode ser o começo de uma grande amizade”.
Quanto bem me fez essas considerações do meu avô! De
fato, é claro que todos somos diferentes entre si, mas o que importa é
encontrarmos, com qualquer pessoa, o que une, não o que divide. E há um ponto
em comum em todo ser humano: é que todos possuem um irreprimível anseio de amar
e ser amado tal como é. E para isso basta que as pessoas se esforcem por
compreender, não para serem iguais ao demais, afinal, cada um é único e
irrepetível.
Se o jovem finlandês soubesse disso!... Se você e eu
também nos portássemos de forma coerente com isso!...
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