segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

O “não” na educação

Quando e como se deve dizer “não” aos filhos? Trata-se de uma dúvida freqüente nos pais que se ocupam de verdade da educação de seus filhos.
Penso que não há uma regra geral, nem é possível traçar uma espécie de manual que possa ser lido pelos pais e nele encontrar a reposta para cada situação concreta. Apesar disso, há alguns parâmetros que podem ser úteis nessa árdua tarefa de educar.
Com relação às crianças bem pequenas, até aproximadamente os dois anos, dizer “não” é quase que inútil. É que, nessa fase, elas não conseguem se comportar da forma esperada. Por exemplo, a criança de um ano e pouco está trocadinha e com calçado novo para um passeio e, enquanto caminha, avista uma “deliciosa” poça d’água. Não há dúvida de que escolherá pisar na lama. Não adianta dizer “não pise aí!”, ou “filha, você está com sandálias novinhas”. No caso, a solução é, com muito carinho e afago, pegá-la no colo, distraindo-a com outras coisas.
Mas chega a idade em que impor limites é essencial, e então se terá de dizer mesmo que não se faça o que não convém. O segredo aqui será então dizer poucos “não”, mas sustentá-los até o fim, ainda que caia o mundo. Alguns pais têm certa tendência de dizer não a cada pedido do filho ou da filha, mas depois voltar atrás e consentir. Na verdade deveria ser o contrário. Deveriam ponderar antes de responder, negando o pedido somente quando objetivamente o que se pretende não é bom para a criança. Mas quando disserem um “não”, há de sustentá-lo, custe o que custar.
Imaginemos uma situação em que o filho faz um pedido e o pai (ou a mãe) o nega prontamente. Porém, após a décima quarta tentativa, o filho consegue o que queria. Nesse caso, a mensagem que se transmitiu ao filho é mais ou menos essa: insista, que vale a pena, pois ao final eu deixarei. Da próxima vez, o filho insistirá por quinze ou dezesseis vezes, pois sabe que ao final consegue. Pior ainda, esses pais transmitem a idéia de que não estão seguros acerca do que é e o que não é bom ao filho. Afinal, se o que pedia não era bom, por que consentiram após insistir quatorze vezes?
Nossos filhos têm direito a que lhes digamos o motivo por que se nega algum pedido. Afinal, boas razões, ditas com convicção, convencem, ainda que eles não admitam num primeiro momento. Penso que não deveríamos nunca dizer “não porque não”. A melhor forma de negar um pedido é expor por que o que o filho quer não é bom para ele. É que por vezes negamos algo porque nos incomoda, porque nos requer esforço, porque temos preguiça. E nesse caso é difícil mesmo, para não dizer impossível, explicar.
Mas há situações em que os reais motivos não podem ser ditos. Por exemplo, quando um filho adolescente quer ir a uma festa, e os pais têm fundada suspeita de que estarão presentes alguns colegas com comportamentos inadequados (drogas etc.). Não seria o caso de dizer isso ao filho, ou à filha, pois se corre o risco de cometer uma injustiça. No entanto, se a dúvida é razoável, seria temerário expor o filho ou a filha àquela situação. Nesse caso, há de se dizer que não vai à festa porque o pai e a mãe estão convencidos de que não é bom para o filho, e ponto final. Se isso for dito por amor e com convicção, amparados por bons exemplos dos pais, os filhos aceitarão, ainda que protestem num primeiro momento.
Soube do caso de uma adolescente que por vezes dizia às amigas que não iria a determinados lugares (festa, boate etc.) porque os pais não permitiam. Porém, isso não era verdade, pois os pais não a proibiam de fazer absolutamente nada. Em uma entrevista com um psicólogo, ele indagou à jovem o motivo da mentira. Ela não teve dúvida quanto à resposta: “é que os pais de minhas amigas frequentemente não permitem elas irem a certos lugares. Se eu disser que meus pais não me proíbem nunca, elas pensarão que meus pais não me amam, que não se importam comigo”.

Penso que essa jovem tem toda a razão: o “não”, se dito da forma adequada e no momento certo, é uma das maiores provas de amor.

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