segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Cartões de Natal

Ocupando-me em retirar da mesa os enfeites natalinos, distraí-me relendo alguns cartões que recebi, como que procurando algo de comum neles. Grande parte deles continha desejos de prosperidade para o Ano Novo. Quase todos falavam de paz e felicidade. Alguns deles pediam saúde no ano vindouro. Disso tudo que nos disseram nas mensagens de um feliz ano novo, o que será verdadeiramente importante e imprescindível? Penso que esses questionamentos são muito proveitosos sempre que se inicia uma nova etapa (ou um novo ano) em nossas vidas.
Será imprescindível a prosperidade? Mas o que é e o que se entende por uma vida próspera? Será ganhar bastante dinheiro, ter um bom emprego, adquirir os bens a que aspiramos, tais como casa, carro, eletrodomésticos, equipamentos eletrônicos?
Tudo isso são coisas boas. No mais das vezes, necessárias ou ao menos úteis em nossas vidas. No entanto, se nos faltar, seremos infelizes por isso? Se perdermos o emprego, sofrermos um revés econômico, ou, se simplesmente não realizarmos esses sonhos de consumo, poderemos dizer, ao final do ano, que 2008 foi um fracasso? Penso que não. É muito comum os casais, após anos de vida em comum, quando já possuem uma situação econômica mais confortável, olham para traz, nos tempos do começo do casamento, e lembram do apartamento minúsculo que moravam, dos apertos que passaram, das dificuldades que souberam enfrentar com valentia e, nem por isso, pensam que foram anos infelizes. Foram difíceis, por certo, mas guardam deles uma doce lembrança, quiçá exclamando: “como éramos felizes apesar de tudo!”.
Será, então, a saúde o que nos é mais importante, sem o que não seremos felizes no próximo ano? Quase todos nós já dissemos ou ouvimos algo semelhante a isso: “o importante é ter saúde. Do resto, a gente dá um jeito”. Mas será mesmo assim?
No dia 31 de dezembro de 2007, em uma celebração de final de ano, tive o privilégio de observar uma mãe com um filho com uma deficiência física. Pelo jeito, não tinha movimento nos braços, nem nas pernas, de modo que quase que vegetava em sua cadeira. Apesar disso, tinha o garoto um semblante sereno e alegre. E, quando olhava para sua mãe, essa lhe devolvia um sorriso terno e afetuoso, tanto que é impossível descrevê-lo. Seria verdadeiramente de se invejar aquele garoto, que apesar da sua imensa limitação física, possui uma mãe assim. Ela escondia em sua face jovial e alegre os muitos sofrimentos que por certo a vida lhe trouxe. Não acredito que essa mãe considere a saúde como imprescindível para a felicidade. Ao menos não é o que diziam seus olhos e os de seu filho que, no último dia do ano, davam um exemplo eloqüente de paz e felicidade que não se encontra e muitas pessoas nas quais sobra “saúde”.
Será então paz e felicidade o que é verdadeiramente imprescindível? Penso que sim. Porém, como encontrá-las? Será na ausência de contratempos, contrariedades e acontecimentos indesejáveis?
Gosto muito de recordar o que ocorreu com um amigo. Contou-me ele que, desde quando acordou até o cair da tarde, tudo lhe deu errado: o carro quebrou, tomou chuva no ponto de ônibus, o chefe estava de mau humor e lhe fazendo críticas azedas, a esposa, por mais de uma vez, telefonou-lhe se queixando de coisas da casa. Ao final do dia, ele pensava: “com isso tudo, não dá para estar em paz?” Porém, logo em seguida, veio-lhe uma inspiração que deu um novo rumo a sua vida. Pensou ele: “Quem é que deu ao carro, ao clima, ao chefe ou mesmo a minha esposa o direito de me tirar a paz?”. “Não”, concluiu ele, “somente eu é que a posso perder se não souber reagir bem a tudo isso”.
De fato, todos esses acontecimentos aparentemente ruins por que passamos em nossas vidas, podem ser oportunidades que temos de sermos pessoas melhores, mais maduras, mas experientes, com uma felicidade construída em alicerces mais sólidos.

E é isso o que desejo sinceramente a todos neste Novo Ano: a paz e a felicidade que os acontecimentos deste ano não nos podem tirar, porque plantadas com boa semente bem no íntimo de nossos corações.

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