Estamos em ano de eleições municipais. Trata-se de um
acontecimento importantíssimo para todos nós, brasileiros. Porém, há muitos
cidadãos que se mantêm distantes. Gabam-se de não participar, dizendo muitas vezes, orgulhosos de si: “Eu
fico longe da política”, ou, mais enfáticos: “eu não me meto nessa sujeira”. São
pessoas bem intencionadas, que, por ouvirem as denúncias de irregularidades,
muitas delas sem punição dos políticos que as praticam, acreditam que, ao se manterem
distantes, resguardam a própria honestidade e honradez. Mas será mesmo louvável
essa apatia de muitos eleitores?
Penso que a democracia, com todos os seus defeitos e
imperfeições, é, na atualidade, o melhor regime de político. É o que melhor se
afina com a liberdade dos cidadãos e permite que eles influam ativamente nas
decisões a serem tomadas na condução dos rumos da sociedade.
Vivemos numa democracia. E, como tal, os governantes
são eleitos pelo povo e em nome de quem exercem (ou deveriam exercer) o Poder
(parágrafo único do artigo 1º da Constituição Federal). E, se os governantes
são sempre eleitos pelo povo, deixar de exercer o direito de votar é, em última
análise, delegar aos demais cidadãos a sua atribuição de escolher os
dirigentes.
E isso ocorre em todos os âmbitos. Por exemplo, o
condômino que não comparece à assembléia de condomínio, o morador que não
participa das associações de bairro e o eleitor que não comparece às eleições
municipais, ou, comparecendo, não escolhe o melhor candidato, estão sendo
omissos na condução dessas entidades que devem zelar pelo bem comum.
No fundo, e sempre ressaltando o profundo respeito
por quem pensa de forma diferente, os omissos agem como Pilatos. Lavam as mãos
diante da escolha que é feita. E mais, sentem-se depois legitimados a criticar
os eleitos, afinal, “não votei em ninguém”. Ora, por não votar em ninguém é
tanto mais culpado de que pessoas despreparadas ou mal intencionadas estejam
ocupando cargos públicos.
E a omissão, a meu ver reprovável, não se limita ao
fato de não votar. Mas também em se escolher mal. Há que se investigar o que
pensa cada candidato acerca de cada assunto relevante. O vereador, o deputado e
o senador são titulares de um mandato. Como tal decidirão em nosso nome na
elaboração das leis.
Assim, quando falta essa vigilância do eleitor, falta
legitimidade no exercício do Poder, e as decisões políticas tomadas deixam de
refletir exatamente o que pensam os eleitores. E isso ocorre muitas vezes. Por
exemplo, estatísticas mostram que a esmagadora maioria dos brasileiros é contra
o aborto. No entanto, uma proposta que tenta “legalizá-lo” tem grandes chances
de ser aprovada no Congresso Nacional. Como isso pode ocorrer? Por certo que os
eleitores não investigaram a fundo o que pensam seus candidatos sobre o tema.
De forma nenhuma estamos sustentando que não se deva votar em candidatos
favoráveis ao aborto. Quem é favorável a isso escolhe legitimamente tais
candidatos. Mas o eleitor tem o direito e o dever de investigar o que pensa o
candidato sobre os temas relevantes e votar em quem pensa como ele. Isso é
democracia representativa.
E também o exercício da atividade político-partidária
não pode ser tida como um demérito, algo que vá comprometer a honestidade do
cidadão. Ao contrário, penso que aqueles quem têm vocação profissional para a
política deixar de exercê-la com honestidade e profundo comprometimento com a
ética significa uma terrível omissão, que abre espaço para os desonestos e
aproveitadores. Há quem pense, porém, que não é possível entrar na política sem
se corromper. Ora, são os corruptos os únicos interessados em difundir essa
idéia. Isso porque se todo político é desonesto (o que não é verdade), os
verdadeiros desonestos estariam justificados, na medida em que simplesmente
fazem o que “todo mundo faz”.
Certa vez li o relato do desabafo feito aos seus pais
por um jovem que se perdeu no mundo das drogas. Dizia ele: “porque fostes
fracos no bem é que fomos fortes no mal”. Penso que essa frase deve ser
meditada por todo cidadão e servir de estímulo a não desanimar, a não renunciar
os meios de que dispõem para construir uma sociedade melhor.
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