segunda-feira, 7 de abril de 2008

Eleições

Estamos em ano de eleições municipais. Trata-se de um acontecimento importantíssimo para todos nós, brasileiros. Porém, há muitos cidadãos que se mantêm distantes. Gabam-se de não participar,  dizendo muitas vezes, orgulhosos de si: “Eu fico longe da política”, ou, mais enfáticos: “eu não me meto nessa sujeira”. São pessoas bem intencionadas, que, por ouvirem as denúncias de irregularidades, muitas delas sem punição dos políticos que as praticam, acreditam que, ao se manterem distantes, resguardam a própria honestidade e honradez. Mas será mesmo louvável essa apatia de muitos eleitores?
Penso que a democracia, com todos os seus defeitos e imperfeições, é, na atualidade, o melhor regime de político. É o que melhor se afina com a liberdade dos cidadãos e permite que eles influam ativamente nas decisões a serem tomadas na condução dos rumos da sociedade.
Vivemos numa democracia. E, como tal, os governantes são eleitos pelo povo e em nome de quem exercem (ou deveriam exercer) o Poder (parágrafo único do artigo 1º da Constituição Federal). E, se os governantes são sempre eleitos pelo povo, deixar de exercer o direito de votar é, em última análise, delegar aos demais cidadãos a sua atribuição de escolher os dirigentes.
E isso ocorre em todos os âmbitos. Por exemplo, o condômino que não comparece à assembléia de condomínio, o morador que não participa das associações de bairro e o eleitor que não comparece às eleições municipais, ou, comparecendo, não escolhe o melhor candidato, estão sendo omissos na condução dessas entidades que devem zelar pelo bem comum.
No fundo, e sempre ressaltando o profundo respeito por quem pensa de forma diferente, os omissos agem como Pilatos. Lavam as mãos diante da escolha que é feita. E mais, sentem-se depois legitimados a criticar os eleitos, afinal, “não votei em ninguém”. Ora, por não votar em ninguém é tanto mais culpado de que pessoas despreparadas ou mal intencionadas estejam ocupando cargos públicos.
E a omissão, a meu ver reprovável, não se limita ao fato de não votar. Mas também em se escolher mal. Há que se investigar o que pensa cada candidato acerca de cada assunto relevante. O vereador, o deputado e o senador são titulares de um mandato. Como tal decidirão em nosso nome na elaboração das leis.
Assim, quando falta essa vigilância do eleitor, falta legitimidade no exercício do Poder, e as decisões políticas tomadas deixam de refletir exatamente o que pensam os eleitores. E isso ocorre muitas vezes. Por exemplo, estatísticas mostram que a esmagadora maioria dos brasileiros é contra o aborto. No entanto, uma proposta que tenta “legalizá-lo” tem grandes chances de ser aprovada no Congresso Nacional. Como isso pode ocorrer? Por certo que os eleitores não investigaram a fundo o que pensam seus candidatos sobre o tema. De forma nenhuma estamos sustentando que não se deva votar em candidatos favoráveis ao aborto. Quem é favorável a isso escolhe legitimamente tais candidatos. Mas o eleitor tem o direito e o dever de investigar o que pensa o candidato sobre os temas relevantes e votar em quem pensa como ele. Isso é democracia representativa.
E também o exercício da atividade político-partidária não pode ser tida como um demérito, algo que vá comprometer a honestidade do cidadão. Ao contrário, penso que aqueles quem têm vocação profissional para a política deixar de exercê-la com honestidade e profundo comprometimento com a ética significa uma terrível omissão, que abre espaço para os desonestos e aproveitadores. Há quem pense, porém, que não é possível entrar na política sem se corromper. Ora, são os corruptos os únicos interessados em difundir essa idéia. Isso porque se todo político é desonesto (o que não é verdade), os verdadeiros desonestos estariam justificados, na medida em que simplesmente fazem o que “todo mundo faz”.

Certa vez li o relato do desabafo feito aos seus pais por um jovem que se perdeu no mundo das drogas. Dizia ele: “porque fostes fracos no bem é que fomos fortes no mal”. Penso que essa frase deve ser meditada por todo cidadão e servir de estímulo a não desanimar, a não renunciar os meios de que dispõem para construir uma sociedade melhor.

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