Há poucos dias tive a grata satisfação de participar
de uma comemoração de 60 anos de matrimônio. Com os passos lentos e cautelosos,
como marca dos anos bem vividos, os dois se dirigiram até a frente do local em
que ocorria a cerimônia e, um diante do outro, de mãos dadas, renovaram a
promessa que há muito haviam feito:
EU, ..., TE RECEBO ..., COMO MINHA ESPOSA, E TE
PROMETO SER FIEL...
Não sei o que se passa com o leitor, mas da minha
parte tenho de confessar que me emociono muito nessas ocasiões, e é preciso
muito esforço para conter as lágrimas. Dessa vez, porém, dei-me logo por
vencido e não as contive.
Quantas e quão variadas lembranças se sucedem em
nossa mente nesses momentos de intensa emoção! Enquanto contemplo aquele
fantástico exemplo de duas vidas bem vividas, detenho-me nas palavras que agora
repetem: ... te prometo ser fiel. Quanta alegria e felicidade brotam da
fidelidade! E me lembro do que me dizia um grande amigo sobre a fidelidade no
casamento.
“É fácil conquistar outras mulheres”, sustentava esse
meu amigo. “Se nos dispomos a nos lançar numa nova aventura, cuidamos com
esmero da roupa que usamos, trazemos a barba bem feita, o cabelo bem disposto,
um toque de um bom perfume... E quando estamos com a pessoa a ser conquistada,
cuidamos para parecer gentil, a levamos a um bom restaurante, falamos de coisas
que a agrade, demonstramos uma sensibilidade que a encante... Surpreendemo-la
com um presente! E, após tanto fingir, é provável que ela cometa a insanidade
de pensar que somos sempre assim, que não temos defeitos. E, com isso,
dependendo do grau de burrice dela, é possível que obtenhamos êxito nesse
intento...”.
“O difícil”, afirma esse meu amigo, “é conquistar
sempre a mesma mulher. Ela me viu mil vezes da cara emburrada quando sou
contrariado. Todas as manhãs tem o desprazer de entrar no mesmo banheiro que
acabei de usar... Com freqüência me vê reclamar do trabalho, do chefe, da
empresa, do governo, do frio, do calor, do sol, da chuva... Enfim, ela já
conhece todos os meus defeitos! O desafio”, conclui ele, “é fazer com que essa
mesma mulher, apesar disso tudo, esteja cada dia mais enamorada de mim. Afinal,
com o fácil se contentam os medíocres!”.
Agora tenho diante dos olhos um eloqüente exemplo de
que esse meu amigo tem razão. Sessenta anos após esse senhor ainda vibra de
alegria diante da esposa. E prossegue: ...NA ALEGRIA E NA TRISTEZA, NA SAÚDE E
NA DOENÇA ...
Penso que nessa frase está um dos principais
ingredientes do sucesso na vida conjugal, qual seja, saber enfrentar bem os
momentos de dor. Mais grave que esquecer o dia do aniversário do marido ou da
esposa (o que não deveria ocorrer jamais) é a indiferença com o outro nos
momentos de dificuldades. Ao contrário, quando enfrentam juntos, um amparando o
outro nos momentos de tristeza e de aflição, o relacionamento sai muito
fortalecido. E, ao passar a tempestade, é como se descobrissem agora um amor
mais sereno e forte, ainda que menos emotivo e instável.
... AMANDO-TE E TE RESPEITANDO POR TODOS OS DIAS DE
MINHA VIDA.
Talvez o grande erro que cometamos com freqüência é o
de não dar valor às pequenas coisas que acontecem em nossas vidas. Talvez vivamos
esperando grandes oportunidades para demonstrar o que sentimos. Ocorre que as
grandes chances nunca surgem, ou, se surgem, são pouco freqüentes. A vida, ao
contrário, se desenvolve nos pequenos acontecimentos de cada dia.
Lembro-me agora do exemplo de outro grande amigo. Ele
tem um dia fixo para sair e almoçar com a esposa. Certa vez, um amigo dele o
convidou para almoçar e tratar de um assunto profissional importante, ao que
ele respondeu prontamente: “hoje eu não posso”. “Puxa, não pode por quê?”,
insistiu o amigo dele. “É que hoje eu tenho de almoçar com a minha esposa”. E
depois completou: “e isso é muito importante para mim”. Talvez sejam detalhes
aparentemente pequenos e sem importância como esses os que sustentam uma vida
inteira juntos e felizes. Afinal, um edifício também se constrói com milhares
de pequenos e insignificantes tijolos.
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