segunda-feira, 12 de maio de 2008

Bodas de diamante

Há poucos dias tive a grata satisfação de participar de uma comemoração de 60 anos de matrimônio. Com os passos lentos e cautelosos, como marca dos anos bem vividos, os dois se dirigiram até a frente do local em que ocorria a cerimônia e, um diante do outro, de mãos dadas, renovaram a promessa que há muito haviam feito:
EU, ..., TE RECEBO ..., COMO MINHA ESPOSA, E TE PROMETO SER FIEL...
Não sei o que se passa com o leitor, mas da minha parte tenho de confessar que me emociono muito nessas ocasiões, e é preciso muito esforço para conter as lágrimas. Dessa vez, porém, dei-me logo por vencido e não as contive.
Quantas e quão variadas lembranças se sucedem em nossa mente nesses momentos de intensa emoção! Enquanto contemplo aquele fantástico exemplo de duas vidas bem vividas, detenho-me nas palavras que agora repetem: ... te prometo ser fiel. Quanta alegria e felicidade brotam da fidelidade! E me lembro do que me dizia um grande amigo sobre a fidelidade no casamento.
“É fácil conquistar outras mulheres”, sustentava esse meu amigo. “Se nos dispomos a nos lançar numa nova aventura, cuidamos com esmero da roupa que usamos, trazemos a barba bem feita, o cabelo bem disposto, um toque de um bom perfume... E quando estamos com a pessoa a ser conquistada, cuidamos para parecer gentil, a levamos a um bom restaurante, falamos de coisas que a agrade, demonstramos uma sensibilidade que a encante... Surpreendemo-la com um presente! E, após tanto fingir, é provável que ela cometa a insanidade de pensar que somos sempre assim, que não temos defeitos. E, com isso, dependendo do grau de burrice dela, é possível que obtenhamos êxito nesse intento...”.
“O difícil”, afirma esse meu amigo, “é conquistar sempre a mesma mulher. Ela me viu mil vezes da cara emburrada quando sou contrariado. Todas as manhãs tem o desprazer de entrar no mesmo banheiro que acabei de usar... Com freqüência me vê reclamar do trabalho, do chefe, da empresa, do governo, do frio, do calor, do sol, da chuva... Enfim, ela já conhece todos os meus defeitos! O desafio”, conclui ele, “é fazer com que essa mesma mulher, apesar disso tudo, esteja cada dia mais enamorada de mim. Afinal, com o fácil se contentam os medíocres!”.
Agora tenho diante dos olhos um eloqüente exemplo de que esse meu amigo tem razão. Sessenta anos após esse senhor ainda vibra de alegria diante da esposa. E prossegue: ...NA ALEGRIA E NA TRISTEZA, NA SAÚDE E NA DOENÇA ...
Penso que nessa frase está um dos principais ingredientes do sucesso na vida conjugal, qual seja, saber enfrentar bem os momentos de dor. Mais grave que esquecer o dia do aniversário do marido ou da esposa (o que não deveria ocorrer jamais) é a indiferença com o outro nos momentos de dificuldades. Ao contrário, quando enfrentam juntos, um amparando o outro nos momentos de tristeza e de aflição, o relacionamento sai muito fortalecido. E, ao passar a tempestade, é como se descobrissem agora um amor mais sereno e forte, ainda que menos emotivo e instável.
... AMANDO-TE E TE RESPEITANDO POR TODOS OS DIAS DE MINHA VIDA.
Talvez o grande erro que cometamos com freqüência é o de não dar valor às pequenas coisas que acontecem em nossas vidas. Talvez vivamos esperando grandes oportunidades para demonstrar o que sentimos. Ocorre que as grandes chances nunca surgem, ou, se surgem, são pouco freqüentes. A vida, ao contrário, se desenvolve nos pequenos acontecimentos de cada dia.

Lembro-me agora do exemplo de outro grande amigo. Ele tem um dia fixo para sair e almoçar com a esposa. Certa vez, um amigo dele o convidou para almoçar e tratar de um assunto profissional importante, ao que ele respondeu prontamente: “hoje eu não posso”. “Puxa, não pode por quê?”, insistiu o amigo dele. “É que hoje eu tenho de almoçar com a minha esposa”. E depois completou: “e isso é muito importante para mim”. Talvez sejam detalhes aparentemente pequenos e sem importância como esses os que sustentam uma vida inteira juntos e felizes. Afinal, um edifício também se constrói com milhares de pequenos e insignificantes tijolos.

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