Muitos de nós assistimos indignados ao fracasso da
atleta brasileira no salto com vara nas olimpíadas de Pequim. Quantas horas de
treino, quantos sonhos, quantos esforços, quanta luta e quanta esperança
depositados naquele momento único! E eis que, com um detalhe pequeno, uma vara
perdida, se joga tudo fora... Penso que o exemplo dessa dura desilusão pode nos
colocar diante de um questionamento fundamental: onde e em que estamos pondo
nossos sonhos e depositando nossas esperanças? É que disso depende, e muito, a
nossa felicidade e o nosso fracasso em nossas vidas.
Numa análise superficial parece que a vida foi muito
cruel com Fabiana Murer. As olimpíadas somente acontecem a cada quatro anos.
Talvez na próxima, a idade, implacável, e, com ela, a redução do vigor físico,
a mantenham de fora. Enfim, talvez fosse uma oportunidade única...
Porém, como uma verdadeira vencedora, não é assim que
ela reagiu: “Eu me tranqüilizei. Vou lá me divertir, brincar um pouco. Mas em
competições na Europa. Eu posso melhorar meu salto e conquistar grandes
resultados para o Brasil”. Depois da derrota injusta, segue ela com o firme
propósito de seguir lutando. Para si própria? Não, como diz a atleta, pelo seu
País.
E nós, será que estamos vivemos a espera de oportunidades
únicas que se esvaem tão fugazes quanto aparecem? Muitos parecem não viver, mas
aguardar que se realizem projetos para, então sim, serem felizes. Com efeito,
pensamos: “quanto eu fou desembargador (ou desembargadora)”, “quando comprar a
minha casa”, “quando tiver menos processos em atraso” então sim serei feliz. Nenhum
desses anseios é ruim, o problema é a importância que damos a eles em nossas
vidas.
Temos de colocar a nossa esperança e o nosso coração
em coisas que permanecem. Passar um dia todo “paparicando” um pai ou uma mãe
idosos, talvez os levando a um passeio que os agrada muito, ou visitar um amigo
ou parente doente, esforçando-se por levá-los consolo e alegria, são ações que
também se realizam em pouco tempo, mas selam a alma com uma alegria que
perdura. É que nessas iniciativas o foco de nossas ações não está em nós
mesmos, mas nos outros.
Dedicar tempo aos filhos. Sentar com eles e ajudá-los
na lição de casa, ainda que estejamos arrebentados de cansaço. Fazer passeios
juntos, pescar, jogar futebol, observando-os, corrigindo-os oportunamente e
estando de verdade com eles. É inegável que isso rouba o tempo que poderia ser
gasto em bebericar com amigos ou, pior ainda, lançar-se em ruinosas aventuras
extraconjugais. Porém, essas ações, egoístas e ilícitas, fecham a alma num
vazio sem fim, ao passo que aquelas a abrem para um universo fantástico onde
reina a alegria e a paz.
Há de se esmerar no trato com a esposa e com o marido.
Que cada um não faça do outro um simples objeto que se usa para alcançar algo e
que logo se esquece quando não mais representa uma utilidade. Note-se, pois,
que todo relacionamento exige esforço e luta constantes, mais heróicas e mais
perseverantes que o esforço e a luta dos atletas olímpicos. Mas quão saborosos
são os frutos que se experimentam a cada prova que se vence juntos! A cada
obstáculo que se transpõe de mãos dadas!
Penso que a nossa vida é sim uma grande olimpíada. Há
uma largada, inicialmente lenta, como uma maratona. Por vezes (quase sempre)
temos de saltar obstáculos, que vão ficando cada vez maiores... E nadamos,
afundamos e voltamos à superfície, remamos contra a corrente, velejamos contra
o vento. Lutamos, batemos e apanhamos. Mas tudo isso passa, tudo se supera.
Mas eis que um dia nos lançaremos num salto à
distância, duplo, triplo..., que nos remete não para um banco de areia, mas
para uma imensidão sem volta. E o que fica de todas as nossas ações em favor
dos pais, filhos, amigos, esposa, marido? Ficam os minutos, os segundos que,
por amor, soubemos dedicar a eles nesta vida. Esses ficam gravados para sempre
na alma daqueles a quem servimos, ao mesmo tempo que nos impulsionam fortemente,
mais ainda, nos arremessam mesmo para uma feliz eternidade, ou, se preferirem,
para uma eterna felicidade.
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