segunda-feira, 18 de agosto de 2008

É necessário falar

Diz a sabedoria popular que a boca fala do que o coração está cheio. Essa frase nos remete para um assunto que é sempre oportuno considerar: a comunicação no casamento. É que da forma com que marido e mulher aprendem a se comunicar depende o sucesso da família a que eles se lançaram a construir.
E para que haja um relacionamento saudável, há que se cuidar do diálogo desde o namoro. Nessa fase, não há ainda as responsabilidades da vida quotidiana a dois, de modo que toda a atenção se concentra na alegria da contínua descoberta recíproca. Porém, além desse encantamento saudável, deveriam eles se ocupar de algo um pouco mais racional que afetivo, que são as expectativas que trazem para o relacionamento. Isso porque é muito comum crises sérias abalarem as famílias porque não se conversou antes do casamento a respeito do que cada um pensa sobre assuntos importantes: filhos, trabalho, família, lazer etc.
E uma vez estabelecida a vida a dois, a comunicação entre o casal passa a ter importância fundamental. Marido e mulher devem conversar francamente sobre o que esperam do outro, as atitudes dele (ou dela) que desagradam ou que não são boas. Porém, como o diálogo somente existe se houver dois lados, ao mesmo tempo que se fala, há de se estar disposto a ouvir e ponderar no que o outro diz.
Um dos grandes problemas do casamento é que marido e mulher não falam abertamente e com calma sobre o próprio relacionamento, sobre os defeitos do outro. Guarda-se o problema para si até que, de tanto não agüentar mais, explode-se, e então se fala mais que deveria, ofende-se, e, pior, impede que o outro enxergue um defeito ou um aspecto a melhorar. Tomemos um exemplo bem comum. Ele não gosta que ela se atrase para os compromissos. Enquanto se preparam para uma festa, ele, que já está pronto com muita antecedência, aguarda por ela aflito de olhos no relógio. E, de tanto segurar, acaba por explodir já no carro a caminho da festa.
Outro exemplo. Ela se aborrece muito quando ele informa que irá retornar a casa num horário e não cumpre. Talvez ela não diga numa primeira ocasião, nem noutra, porém, em algum dia em que surge algum desentendimento, solta frases do tipo: “você não liga para mim. Prefere o seu trabalho e os seus amigos à sua família”. Provavelmente ele não saberá o real motivo pelo qual ela está a dizer isso, e por certo terá defesas bem articuladas: “eu trabalho para ...”.
O ideal seria que marido e mulher conversassem sobre esses problemas com calma, quando não se está diante de uma situação tensa. No entanto, temos a tendência de desabafarmos, atirando acusações contra o outro quando estamos nervosos ou irritados e, quando tudo está calmo e sereno, nos custa voltar a tratar do assunto. Porém, são nesses momentos de serenidade que, com valentia, deveríamos nos lançar a ajudar o outro a ser melhor, esforçando-nos por corrigir o cônjuge para o seu bem. E o esforço há de ser maior ainda em ouvir e colocar em prática os conselhos recebidos.
Machado de Assis, na carta à sua noiva, escreve: “Dizes que, quando lês algum livro, ouves unicamente as minhas palavras, e que eu te apareço em tudo e em toda a parte? É então certo que eu ocupo o teu pensamento e a tua vida? Já mo disseste tanta vez, e eu sempre a perguntar-te a mesma cousa, tamanha me parece esta felicidade. Pois, olha; eu queria que lesses um livro que eu acabei de ler há dias; intitula-se: A Família. Hei de comprar um exemplar para lermos em nossa casa como uma espécie Bíblia Sagrada. É um livro sério, elevado e profundo; a simples leitura dá vontade de casar. Faltam quatro dias; daqui a quatro dias terás lá a melhor carta que eu te poderei mandar, que é a minha própria pessoa (...).

São frases ditas por alguém que entende muito de comunicação. Pode-se até dizer que o poeta e o escritor sabem desenhar o coração (o que sentem) em belas prosas e versos. E o Machado de Assis o faz com muita sabedoria ao se intitular como uma carta que dará à amada. De fato, esse livro, “A Família”, que no fundo marido e mulher  escrevem juntos, depende e muito do empenho que cada um faz por levar à boca e no momento certo os maravilhosos tesouros que trazem em seus corações.

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