segunda-feira, 22 de setembro de 2008

A auto-estima na educação

“Eu sei que sou um caso perdido, mas mesmo assim vou tentar ser uma pessoa melhor”. Essa frase foi extraída de uma redação de uma menina de onze anos. Ocorreu que a mãe, sempre muito dedicada e zelosa, num dia em que não estava bem, com excesso de trabalho e preocupações, vendo que a filha ia mal dos estudos, não conseguiu conter o desabafo, e disse à criança: “Eu desisto, você é um caso perdido!”. Quando a mãe leu posteriormente a redação, não conseguiu conter a emoção. No fundo, não queria rotular negativamente a filha, porém, sem saber como agir corretamente, acabou por fazer esse grande estrago.
Essa mãe teve a sorte de ver, ainda que por essa via amarga, que essas frases negativas não são jamais a melhor forma de educar. Mas será que nós, sem nos darmos conta do grande mal que causamos aos nossos filhos (ou aos nossos alunos), também não fazemos algo semelhante? Talvez muitos de nós já tenhamos proferido frases do tipo: “você não tem jeito mesmo”, ou “já te falei mil vezes, mas não adianta nada, parece que entra por um ouvido e sai por outro!”. E, por vezes, o desabafo é mais destrutivo ainda: “você parece o seu pai, deixa tudo jogado pela casa!”, ou “você é igualzinha a sua mãe, não consegue terminar nada que começa!”.
Todos sabemos que não conseguiremos nenhuma melhora nos filhos com frases dessa natureza. Porém, o que muitos ignoram, é que essas frases causam um mal muito difícil de reparar. É que se as crianças ouvem isso do pai ou da mãe, no fundo, pensam elas que têm mesmo os defeitos de que são acusadas e que lhes é impossível mudar. E a crítica ainda é mais grave quando se diz que têm o mesmo defeito do pai ou da mãe. Nesse caso, tanto menos possível será lutar por vencê-lo, afinal, pensarão “se meu pai (ou minha mãe) também é assim!”.
Todo ser humano tem uma necessidade irreprimível de ser e de se sentir amado sendo exatamente quem é. O educador (pai, mãe, professor ...) que ignora isso ou que não o leva em consideração não será eficaz em seu trabalho. As crianças, em especial na primeira infância, necessitam muito de se sentirem queridas. E para isso, não se há de poupar os beijos e os abraços, e que sejam olhadas com atenção e ternura. Sem isso, não conseguem alcançar um desenvolvimento adequado e saudável.
Mas essa necessidade de ser e se sentir amado não é exclusivo das crianças pequenas. Todos nos a temos numa medida muito maior do que pensamos. E os jovens, a quem nos aventuramos educar, também a tem. Evidentemente, a forma com que se manifesta isso será diferente da que manifestamos em relação à criança de dois anos. Mas na essência, há de ser a mesma. Trata-se de interessar-se de verdade por ele ou por ela. Lembro-me de um professor que se aproximou de um aluno, enquanto ele tentava resolver um problema de física, e perguntou-lhe como estava a saúde do pai, que há algum tempo sofrera um acidente. O gesto é pequeno, mas denota uma grandiosidade interior.
Não se trata de ser mole, de “passar a mão na cabeça” diante de qualquer situação. Aliás, não exigir dos filhos (ou dos alunos) é um terrível sinal de que não os queremos bem de verdade. A pessoa omissa em corrigir e em exigir, no fundo, pode ser um egoísta, ou, quando menos, tem uma forte dose de covardia e age assim apenas para não “ter problemas”, para evitar confrontos. No entanto, esses são necessários, pois, do contrário, os nossos filhos (ou alunos) não serão melhores.
Quando tivermos de corrigir nos nossos filhos ou os nossos alunos, o melhor que podemos fazer é iniciar por reconhecer algo que eles fazem bem, começar por um elogio. Porém, devemos estimulá-los a serem melhores em outro aspecto em que ainda não estão bem, mas sempre com um sentido positivo, mostrando-lhes que, se se esforçam, podem ser melhores.

Mas tenhamos todos nós a firme convicção de que, como já disse um grande sábio, “as pessoas, como o vinho, melhoram com o tempo”. De fato, o vinho melhora com o tempo se for armazenado, do contrário, avinagra. Nossos filhos e alunos também serão melhores como pessoas, conquanto bem guardados, ou melhor, bem educados por pessoas que lhes querem bem de verdade.

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