Diz-se que o casamento estabelece uma comunhão plena
de vida. Mas se as vidas do homem e da mulher que se unem em matrimônio se
entrelaçam tão radicalmente, é necessário que saibam decidir e sonhar juntos.
Como solução para as crises conjugais, há quem
proponha que cada um dos “cônjuges” tenha vida completamente independente, por
exemplo, que more cada um no seu apartamento, mantendo-se a “liberdade” para
evitar conflitos e para que o casamento “não sufoque a individualidade” de cada
um. Ocorre que essa opção, muitas vezes justificada pelo propósito de respeitar
a liberdade, na verdade, tem uma acentuada dose de egoísmo, posto que cada qual
busca no outro apenas a satisfação de anseios pessoais (sexuais, afetivos etc.)
mas sem que haja a mínima disposição de se doar.
Talvez muitos casais não optem por ter cada um o seu
próprio apartamento mas é igualmente ruim para o casamento que marido e mulher passem
a levar, ainda que inconscientemente, vidas paralelas. É o que acontece quando
deixam de ter coisas em
comum. Ele tem o seu trabalho, os seus amigos, as suas horas
de lazer. E ela, por seu turno, também as suas coisas, das quais ele está
totalmente excluído. Isso pode gerar uma indiferença mútua e, com ela, o veneno
que mata o amor conjugal.
Mas se as vidas paralelas são um mal para o casamento,
também o é aquela situação de total absorção de um pelo outro, sufocante e que
impede que cada qual desenvolva a sua personalidade. É que, por mais que as
vidas se interpenetrem no casamento, marido e mulher, em alguns aspectos,
continuam com suas individualidades. Algumas pessoas, muitas vezes movidas pelo
ciúme, tendem a buscar um controle total do que faz e pensa o marido ou a
esposa, o que também é extremamente prejudicial para o casamento.
Se pudéssemos descrever graficamente a situação de um
casamento ideal, talvez devêssemos imaginá-lo como dois círculos que se
interpenetram, mas sem que se reduzam a um círculo apenas e, principalmente,
sem que um círculo passe a conter totalmente o outro. Ou seja, em alguns
aspectos da vida do homem não podem ter qualquer ingerência da mulher e vice
versa. Dentre esses está, por exemplo, o relacionamento da pessoa com Deus, a
sua fé, a sua consciência.
Há vários outros aspectos, porém, da vida de ambos,
que se inter-relacionam, de modo que as decisões precisam ser compartilhadas.
Por exemplo, a escolha do trabalho profissional, a educação dos filhos, a
moradia da família. Dentre esses aspectos da vida de do casal que precisam ser
compartilhados, no processo de tomada de decisões, também há algumas
considerações, conforme as conseqüências que essa decisão acarreta à família.
Assim, se a escolha do trabalho, ou qualquer outra
decisão que precise ser tomada, implique mudança de cidade, penso que a decisão
deve ser tomada em
conjunto. Se os reflexos na família forem menores, por
exemplo, a esposa assumir um trabalho que lhe exigirá estar fora de casa
algumas noites na semana, talvez a escolha seja exclusiva dela, mas deve
consultar antes o marido. Enfim, não há regras fixas, mas o importante é que o
casal aprenda a decidir corretamente. É que grande parte dos desentendimentos
são decorrência de uma imaturidade na tomada das decisões.
Porém, mais que decidir juntos, é fundamental que
marido e mulher aprendam a sonhar juntos. No filme Um Homem de Família, o personagem Jack Campbell (Nicolas Cage) de
repente se vê inserido numa família, casado com a antiga namorada, Kate (Tea
Leoni). É interessante notar como os desentendimentos surgem, dentre outros
motivos, porque não têm sonhos em comum.
O grande desafio que temos para manter sempre jovem o
amor conjugal é aprender a sonhar juntos. Talvez um exercício interessante que
nos estimule a melhorarmos nisso é cada qual pedir ao outro que descreva como
gostaria que fossem as suas vidas daqui a alguns anos. E penso que tanto mais
feliz será esse relacionamento quanto maior o destaque que cada qual der ao
outro nesse cenário.
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