Na semana passada tive a grata satisfação de
participar na comemoração do aniversário de um jovem adorável, que fazia seus
oitenta anos. E tive a oportunidade de conversar com a esposa dele. Também ela
mantinha o semblante jovial, aquele que somente as pessoas que encontraram a
paz interior conseguem manter. E me contou ela muito satisfeita que em breve
completariam sessenta anos de casado. “O casamento é uma coisa boa”, dizia ela,
“não sei por que hoje em dia não é mais valorizado”. E depois aconselhou com a
autoridade de quem já quase perfaz as bodas de diamante: “O segredo do
casamento são os três erres: respeito, responsabilidade e renúncia”. Quanta
sabedoria contém esse conselho!
Respeito. Todo ser humano é dotado de uma imensa
dignidade, de modo que deve ser tratado com um profundo respeito. Mas tanto
mais respeitoso deve ser o nosso relacionamento com aquele ou aquela com quem
se decidiu livremente formar uma comunhão plena de vida. Há alguns anos ouvi de
um homem, que também tivera a fortuna de manter uma longa e feliz vida
matrimonial, contar o segredo desse sucesso: “o segredo do casamento é a
educação”. Com essa expressão queria dizer que marido e mulher devem se esmerar
por manter cada vez mais a delicadeza no trato. É que as brusquidões,
grosserias e frases irônicas vão pouco a pouco apagando a chama do amor
conjugal, assim como as cinzas atiradas sobre a brasa ardente destroem o seu
brilho e calor.
Responsabilidade. A liberdade é um dos maiores dons
que possuímos. Contudo, a liberdade somente é legítima se for exercida com
responsabilidade. Somos livres, mas exatamente por isso é que somos
responsáveis pelos atos e decisões que livremente tomamos.
Há quem sustente que o casamento é um contrato. Penso
que não é exatamente assim. Na verdade, no ato em que é contraído, o casamento
é um contrato, pois depende da livre manifestação da vontade dos noivos. Após
isso, porém, vínculo matrimonial não tem natureza contratual. Mas, conceitos a
parte, podemos estabelecer semelhanças entre o matrimônio e os demais contratos.
Em todo contrato há sempre um intercâmbio de bens (ou serviços) entre os
contratantes. Por exemplo, na compra e venda, um entrega um bem a outro, e esse
retribui com certa soma de dinheiro. Na locação, o proprietário cede o uso de
um bem seu e, em troca, recebe um aluguel mensal. Mas e no casamento, que bens
(ou serviços) um dos contraentes entrega ao outro? Na verdade não assumem
apenas obrigação de entregarem bens ou serviços, mas dão-se mutuamente a si
próprios. Com isso, as pessoas que livremente decidiram por se casar assumem
essa grave responsabilidade de se doarem a si próprios sem reservas, sem
condições.
Renúncia. Eis aqui outra palavra que, ao lado da
entrega, parece ensejar forte resistência. Quando a pronunciamos com relação ao
casamento, talvez a primeira idéia que vem à mente é a resignação diante dos
dissabores e insucessos de um relacionamento difícil. Devemos ponderar que a
renúncia não é algo em si bom nem ruim. Ao contrário, depende do que se
renuncia e em função do que se exerce essa renúncia. Por exemplo, o atleta não
considera como perdido ou como uma bobagem as suas horas de treino por dia,
ainda que com isso renuncie a muitas outras coisas prazerosas de que poderia
desfrutar. Também a pessoa ambiciosa não mede esforços para conseguir atingir o
posto a que se propôs, ainda que isso signifique passar por grandes
sacrifícios.
Não há dúvida de que a condição de casado impõe a
ambos muitas renúncias. Contudo, essas valem a pena, pois aquilo a que se
renuncia são bens muito pequenos e insignificantes, se comparados com as
alegrias e felicidades que proporcionam o relacionamento conjugal.
Respeito, responsabilidade e renúncia. Com quais e
quanto desses ingredientes temos temperado o nosso relacionamento conjugal?
Nenhum comentário:
Postar um comentário