segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Lições de solidariedade

A recente tragédia das enchentes em Santa Catarina sensibilizou o País. Ao contemplar aquele cenário desolador cada um reage de uma forma diferente. É que a nossa casa, de uma forma ou de outra, é o abrigo onde nos sentimos protegidos. E  quando vemos aquilo que foi o lar de alguém, inundado até o telhado, leva-nos a pensar como se sentem aquelas pessoas que, da noite para o dia, viram tudo o que possuíam indo literalmente por água abaixo.
Mas embora as reações das pessoas diante da catástrofe sejam muito pessoais, e cada um a enxergue sob seu ponto de vista, as pessoas pendem, ora mais ora menos, em dois sentidos opostos: uns arregaçam as mangas e lançam-se em campanhas humanitárias de ajuda aos desabrigados; outros, com ares de “senhor da verdade” e sem a disposição de mover uma palha para aliviar o sofrimento dos semelhantes, se limitam a proferir duras críticas aos “governantes irresponsáveis” que nada fizeram para evitar a tragédia.
Na verdade essa segunda postura é tão antiga quanto a própria humanidade. Em sua raiz está o egoísmo que se manifesta em pensar que não temos nada que ver com o sofrimento dos demais. E para aliviar, ou melhor, para fugir da própria consciência, empenha-se em atribuir a culpa aos outros. Mas embora essa postura não seja uma exclusividade dos tempos modernos, atualmente ela tem assumido uma característica muito peculiar. É que a ciência evoluiu muito. A medicina, a engenharia, a informática alcançaram níveis de desenvolvimento fantásticos. Com isso, as pessoas passam a buscar a sua segurança exclusivamente na tecnologia e espera-se que ela venha a afastar por completo de nossas vidas a dor e o sofrimento.
De fato, o avanço tecnológico é muito bom. Seria um terrível engano considerar a tecnologia como algo intrinsecamente ruim. E esses conhecimentos podem e devem ser utilizados para melhorar a qualidade de vida das pessoas. As novas técnicas de engenharia devem ser utilizadas para evitar as enchentes. Nesse sentido, não há nada de errado em se taxar de irresponsáveis os governantes que, sabendo do problema, nada fizeram para o evitar.
Mas, por mais que a ciência avance, ela não conseguirá jamais afastar por completo da humanidade a dor e o sofrimento. Assim, quando as tragédias surgem, é bom que serenamente se pense em suas causas e o que se pode fazer para evitar que  repita. Porém, mais importante ainda, é levar alento (e muito alimento) àqueles que sofrem hoje e agora as suas conseqüências.
Além disso, mesmo quando se vive na “plena segurança” que a tecnologia proporciona, ainda assim, muitos estarão sedentos de algo que os equipamentos não podem proporcionar. Por exemplo, um doente poderá estar num hospital com o seu quadro estável e sem risco graças aos equipamentos e técnicas que a medicina lhe proporciona. Porém, nada disso substitui o carinho e o afeto dos parentes e amigos.
Penso que devemos cada vez mais nos empenhar para que a ciência evolua a serviço da vida. Que as construções sejam seguras. Que se façam as obras para evitar as enchentes. Que não haja favelas e que não falte alimento a todos. Mas, além disso, muitos homens e mulheres de nosso tempo vivem com a aparente segurança de alguns bens, mas inseguros sobre assuntos mais transcendentes e, exatamente por isso, infelizes. Muitos vivem em locais que jamais será inundado pelas águas do verão, mas também vivem sedentos de um pouco de atenção. Enfim, muitos vivem em casas bem edificadas e abastecidas, porém, com a alma vazia daquilo que verdadeiramente importa para serem felizes.

É maravilhoso contemplar quantas pessoas se engajaram em arrecadar e transportar alimentos aos nossos irmãos de Santa Catarina. Nesse momento em que também nós, brasileiros, podemos nos orgulhar de desfrutarmos dos avanços da tecnologia, com essa atitude valente, mostramos ao mundo e a nós mesmos que o fantástico progresso da ciência que vivenciamos tem por fundamento e está a serviço da vida. Dessa vida que hoje se vive permeada de celulares, laptops, TV digital, mas que não pode prescindir jamais de um colo aconchegante para chorar uma dor ou de braços bem abertos para festejar um amor.

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