Um dia desses, enquanto tomava um café com um grande
amigo, o telefone dele tocou. Ele olhou no visor do aparelho e me disse: “é
muito importante, tenho de atender”. Em seguida, disse muito carinhosamente:
“Oi, querida, tudo bem?”. Era a esposa dele, com quem está casado há vinte e
cinco anos. E a conversa, que ele me havia dito que era muito importante,
correu sobre quem iria ao supermercado, quem buscaria o filho na escola e
algumas outras dessas trivialidades.
Ao presenciar esse magnífico exemplo, lembrei-me de
uma piada. Dois amigos tomavam cerveja num bar, quando a esposa de um deles o
chamou pelo telefone. Ele atendeu e se referia a ela cheio de “amabilidades”:
“oi, amorzinho”, “sim, querida”, “claro, meu docinho”. O amigo espantou-se e
perguntou: “Há quanto tempo você está casado?”. “Sei lá...”, respondeu ele,
“sei que são muitos”. E o amigo prosseguiu: “puxa, mas depois de tantos anos de
casado você ainda a trata assim?!”. E então ele respondeu: “sabe, é que eu me
esqueci o nome dela...”.
A piada é até engraçada, mas tenho de admitir que o
exemplo oposto do meu amigo é muito mais interessante. O contraste entre essas as
duas situações, a do meu amigo e a da piada, nos coloca diante de dois
panoramas distintos no relacionamento conjugal que merecem ser refletidos.
Durante o namoro, em que se acendem as paixões, com
freqüência o homem e a mulher se tratam com muito carinho. Nessa fase é até
comum que escolham naturalmente uma forma mais íntima de se chamarem. Com o
tempo, porém, há um esfriamento, mais que isso, surge uma dose de indiferença
na maneira com que se tratam. E então o “Meu Bem” ou o “Meu Amor” com que
convencionaram se chamar permanece agora como “Bem” ou “Mor”, mas como algo
rotineiro, que não mais exprime uma verdadeira ternura de um pelo outro. Mas
será que todo relacionamento conjugal duradouro está condenado a, na melhor das
hipóteses, desaguar nessa situação de duas pessoas que apenas aprenderam a se
suportar?
O que mantém vivo qualquer relacionamento, em
especial o conjugal, é qualidade dos momentos que se passam juntos.
Consideramos como bons amigos aqueles com que gostamos de estar, conversar e
trocar confidências. O mesmo ocorre, e em muito maior intensidade, com a esposa
e com o marido. E quando se fala em qualidade dos momentos, não se quer dizer
apenas os momentos bons, mas também os dolorosos. A doença ou mesmo a perda de
alguém da família pode contribuir para melhorar o relacionamento conjugal, ou,
ao contrário, deixar feridas difíceis de cicatrizar.
Nesse sentido, é possível fazer com que o
relacionamento seja cada vez melhor. A ternura, que vi refletida naquele meu
amigo, pode aumentar e assumir contornos muito mais sólidos, conquanto que haja
luta por ser cada vez melhor, ou seja, que se lute para que os momentos que se
passam juntos sejam bons.
Além disso, marido e mulher têm de aprender a conversar
serenamente sobre o que desagrada no outro. Certa vez soube de uma mulher que
conviveu por vinte anos com o marido e nunca teve coragem de dizer-lhe que ele
tinha mau hálito. Coisas como essa precisam ser ditas. É necessária delicadeza,
que se escolha o momento oportuno, mas devem ser ditas com valentia. Do
contrário, vão simplesmente enchendo o rol de maus momentos que tanto mal fazem
ao relacionamento.
Mas é também muito importante saber elogiar,
reconhecer o que há de bom no outro. Uma vez alguém me deu um conselho
fantástico, que serve para qualquer relacionamento, inclusive o profissional:
quando for necessário fazer uma crítica, faça ao menos dois elogios.
É necessário que haja compreensão. Uma vez deram um
conselho a um marido que se queixava de encontrar a casa desarrumada quando retornava
do trabalho: “Você já experimentou lavar um banheiro?”. Meio surpreso ele
respondeu que não. Então lhe disseram: “Faça isso apenas uma vez e verá como
será menos exigente e mais compreensivo com a sua esposa”.
Cada fase do casamento tem as suas peculiaridades, as
suas dificuldades e as suas coisas boas. Mas em todas é sempre possível lutar
por passar bons momentos juntos. E é somente isso que irá aumentar a ternura e,
com ela, a felicidade no relacionamento conjugal.
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