segunda-feira, 23 de março de 2009

A mensagem de Alagoinha

Semanas atrás a imprensa nacional e internacional ocupou-se da polêmica gerada pela gravidez de uma menina de apenas nove anos de idade, vítima de estupro do próprio padrasto. Há um consenso de que a atitude desse criminoso é inaceitável: trata-se de um crime hediondo. Porém, diante desse fato e de tantas outras histórias de pedofilia e abusos sexuais que se tem noticiado, penso que devemos nos fazer um questionamento: nos tempos modernos, qual é a linha divisória entre o certo e o errado, o lícito e o ilícito, o moral e o imoral nas relações sexuais?
Até algumas décadas atrás se pensava que esse relacionamento haveria de se estabelecer entre um homem e uma mulher que contraíram matrimônio, ou, quando menos, que houvessem se unido de uma forma estável, com o propósito de formar uma família. Hoje se propõe uma nova concepção sobre as relações sexuais, que podem ser mantidas sem qualquer compromisso: dentro ou fora do casamento, com a esposa (ou com o marido) ou com estranhos, com pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto, quando há um relacionamento estável ou em encontros meramente ocasionais, enfim, vale tudo, o que importa é o prazer.
O problema grave que se coloca nessa nova concepção, porém, é estabelecer um limite. Por que o padrasto, já com quase trinta anos, não pode manter relações com a enteada de nove? Se ela tivesse mais de dezesseis (ou de dezoito) tudo bem? E entre pessoas do mesmo sexo, há alguma regra? É necessário que ambos sejam maiores de dezoito anos, ou basta que tenham dezesseis? E o adultério, é palavra que deve ser riscada de nossos dicionários? O compromisso de fidelidade que se assume no casamento e que ainda consta do nosso Código Civil foi revogado na prática?
Enquanto um rio corre dentro de seu leito as suas águas estão sob controle e tudo segue em perfeita harmonia. Quando, porém, suas águas transbordam pela margem rompida, surge uma catástrofe de conseqüências imprevisíveis. Penso que algo de muito semelhante está a acontecer com o tema de que estamos tratando. Se o relacionamento sexual não é mais um ato de amor de um homem que entregou toda a sua vida a uma mulher (e a dela a ele) e que se uniram de forma perene para formar uma família, então o que é na verdade?
Vivemos uma onda de laicismo e de ódio aos valores cristãos tão acentuados que muitos parecem querer destruir o que o cristianismo prega não porque se pensou e se concluiu que algo não é bom, mas simplesmente porque é cristão. Essa corrente tem obtido êxito em abalar os valores da família, do casamento, da paternidade responsável, dentre outros. Porém, não se preocupou em colocar nada no lugar. E o resultado catastrófico disso é que já começamos a colher os frutos amargos: lares desfeitos, jovens desorientados e incapazes de entender o verdadeiro sentido do amor, criminalidade, drogas etc.
Ninguém é obrigado a ser católico, assim como ninguém é obrigado a ser cristão. Mas precisamos ter bem claro que há valores que são universais e eternos, que não mudam ao sabor de contingências históricas, independentemente do credo religioso. Nisso se insere a família, como entidade formada por um homem e uma mulher que selam entre si um compromisso sério e duradouro, abertos a gerar e educar os filhos que brotarem como frutos maravilhosos desse amor sincero e incondicional.
Enquanto escrevia essas palavras, fui interrompido por minha filha, de dois anos, que me pedia que ficasse com ela em sua cama até que dormisse. Atendi o seu pedido. Deitada em sua cama ela me perguntou: “Papai, onde é o seu trabalho, no Fórum?”. “É, filha, no Fórum”, respondi. “Papai, quero conhecer o seu trabalho, você me leva?”. “Levo, filha. Então você vai conhecer a minha sala, a minha mesa de trabalho”. E ela completou: “É, vou conhecer seus amigos. Pai, eu não conheço seus amigos”. Essa frase dela, com um claro toque feminino me emocionou muito: mais que com o local de trabalho, ela se importa com as pessoas. E depois de um tempo de conversa, já quase rendida pelo sono, ela apertou-me ao pescoço num caloroso abraço e me disse: “Papai, eu te amo muito!”.

Nesse momento, senti-me a pessoa mais feliz desse mundo ao poder regozijar-me de tão grande dádiva. E ficou-me então ainda uma pergunta, cuja resposta deixo a cargo do leitor: alguém conseguiria construir um ambiente de paz, alegria e felicidade tão forte quanto esse que acabei de relatar sem que seja no seio de uma família, formada por um homem e por uma mulher que se amam e que, na medida desse amor, estão dispostos a se doarem entre si e aos filhos por toda uma vida?

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