Gosto muito de recordar a história de vida de um colega
e amigo. Há pouco formado e recém empossado como promotor de justiça não exitou
ele em se afastar da profissão, sem remuneração, para acompanhar a esposa por
alguns anos no exterior, onde ela faria a sua pós-graduação.
Lembro-me também da história de outro jovem casal.
Casaram-se muito novos, e, diante da proximidade da vinda do primeiro filho,
acirraram-se as pressões familiares para que ela permanecesse na casa dos pais
e assim pudesse concluir os estudos e ser ajudada nos cuidados da criança que
estava por vir. Porém, também ela foi muito corajosa em sua decisão. Fitando o
esposo nos olhos, disse-lhe: “irei com você para onde você for. O melhor para a
nossa família é estarmos juntos desde o começo”.
Infelizmente, porém, poderíamos encontrar outros
tantos exemplos contrários a esses, em que a profissão do homem ou da mulher
são colocados num primeiro plano, com isso ensejando a ruína do relacionamento.
O trabalho profissional é muito importante. E não
apenas como meio de se conseguir os recursos para sustentar a família, mas
também como forma de a pessoa desenvolver a própria personalidade. Quem já teve
a oportunidade de estar por algum tempo desempregado sabe o quanto é cruel para
um homem viver nessa situação.
No entanto, o homem e a mulher que se lançam num
casamento não podem se esquecer que o “eu” e o “meu” se torna muitíssimo
relativo: o meu emprego, o meu trabalho, as minhas coisas etc., devem dar lugar
muito cedo ao “nós” e ao “nosso”. Nesse sentido, mais do que reclamar atenção,
consideração e afeto, cada um deve estar disposto a se entregar pela felicidade
do outro. E isso muito particularmente com relação ao trabalho do cônjuge.
Penso que uma das ervas mais daninhas do casamento
seja a competição entre marido e mulher. Aquela que surge quando cada um quer
se destacar mais no seu trabalho profissional. Ora, se pensarmos bem não há
nada mais ridículo do que isso! O sucesso profissional dela é, em grande medida,
dele também, pois, com o casamento, formam uma comunhão plena de vida. E o
sucesso profissional dele deveria ser festejado enormemente por ela.
Ainda que muito se fale hoje em dia em liberdade,
igualdade, tolerância e respeito pelas diferenças, a nossa sociedade ainda é
muito cruel em fazer distinção das pessoas em função da profissão que exerce e,
principalmente, de sua situação econômica. Confesso que fiquei muito emocionado
em uma palestra a que assisti em que o palestrante perguntou: “qual trabalho é
mais importante, o do juiz ou o do lixeiro”. E antes que a platéia pudesse
esboçar uma resposta ele disse: “é mais importante aquele que é feito com mais
amor”.
Verdadeiramente não faz nenhum sentido fazer distinção
entre as pessoas em função do trabalho que exercem. Todos os trabalhos honestos
são dignos e expressam e imensa dignidade da pessoa humana que os realiza.
Mas se todos os trabalhos são iguais em dignidade,
acredito que há um que é mais sublime e nobre que os outros. Refiro-me ao
trabalho da mãe que se dedica inteiramente, de corpo e alma, ao cuidado de sua
família. Não estou a cometer a insensatez de sustentar que a mulher não deva
exercer trabalho fora do lar. É inquestionável que elas são extremamente
competentes em todas as profissões. Nesses trabalhos externos, ainda que com
grande garbo, elas produzem bens e prestam serviços úteis aos demais. Porém, no
lar, elas forjam seres humanos de caráter que aprendem do doce afago de seus
abraços o valor incomensurável da vida humana.
Aproxima-se a celebração de mais uma Páscoa. Talvez
nos ajude a tirar boas conclusões contemplar o trabalho que desempenharam o pai
e da mãe daquele Menino na pequena aldeia de Nazaré. Com que valentia e
perseverança ele suportava as fadigas de trabalhar a madeira, transformando-a
em objetos úteis aos seus concidadãos. E ela, por certo muito se afanava em
cuidar do Menino, da casa, do esposo. Se hoje em dia não é fácil a vida dos
pobres, imaginemos como não seria naquela época! Mas apesar de todos os
percalços por que passavam, não se afligiam. Ao contrário, entregavam-se
mutuamente num trabalho intenso e desinteressado, movido por uma vontade forte
e um desejo ardente de manifestar, cada um ao outro, um amor incondicional.
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