segunda-feira, 13 de abril de 2009

Paz, Justiça e ... Casa

Recentemente o Governo Federal anunciou a construção de milhares de moradias populares como parte do programa de aceleração do crescimento. Penso que essa notícia é motivo de comemoração, mas também ocasião para estarmos atentos com relação à forma com que será implementado o projeto e quanto aos reais objetivos de seus idealizadores.
São muito bem-vindos e deve nos motivar projetos que visem dar moradia digna a todos. Já faz alguns anos que foi consagrada na Constituição Federal (artigo 6º) a moradia como um direito social, sem que fossem tomadas medidas eficazes para que isso se tornasse realidade. A casa, o lar é imprescindível para que qualquer ser humano desenvolva com dignidade a sua personalidade. É primordialmente nela que marido e mulher podem manter um relacionamento saudável e feliz. E é também num lar assim construído que o casal pode, com total liberdade, gerar filhos e educá-los com responsabilidade. Assim, o Estado, que consagra a família com base da sociedade (artigo 226 da Constituição Federal) deve se empenhar de verdade para dar moradia digna a quem não a tem.
Mas a mesma notícia é motivo para estarmos alertas. É que temos amarga lembrança em nossa história da construção de casas populares com material e técnicas de péssima qualidade e com dimensões que mais parecem confinar que abrigar pessoas. Argumenta-se que retirar as pessoas das favelas e de outros locais inóspitos para colocá-las nesses imóveis já é um grande avanço. De fato, é um avanço, porém, não raras vezes o preço que se paga por esses cubículos são tão elevados que, se melhor empregados, poderiam edificar casas dignas de serem ocupadas por seres livres. E a diferença entre o que se paga e o que custam essas obras serve para enriquecer empresários inescrupulosos e... – não sejamos ingênuos – financiar propagandas eleitorais. Convém não esquecer que 2.010 é ano de eleições gerais.
Nesse assunto, penso que devemos fazer eco mais uma vez da Campanha da Fraternidade deste ano: A Paz é fruto da Justiça. Justiça é, essencialmente, dar a cada um o que lhe é devido. E a todo ser humano é devido, por direito natural, uma moradia digna. Mas também a um povo honrado e trabalhador são devidos governantes honestos e competentes.
O mundo está imerso numa crise econômica. Acima de nós vemos uma grande nação na qual toda a população tem acesso a muitos bens e que desenvolveu elevadíssimos níveis de consumo. Porém, experimenta agora os amargos frutos da redução desse exagerado consumismo como fonte de desemprego, com os problemas sociais disso decorrentes. Em nosso País, ao contrário, grande parcela da população está à margem do consumo de bens imprescindíveis para terem uma vida digna. Pode parecer utópico, mas acredito que é o momento ideal para empregarmos recursos e trabalho para produzir bens necessários a quem não os tem.
Mas isso deve ser feito com honestidade, responsabilidade e, principalmente, com iniciativas que gerem empregos para os nossos pobres. É que, com trabalhos dignos, poderão adquirir honradamente o que necessitam, e não simplesmente sobreviverem de doações que apenas fomentam o ócio dos cidadãos e a popularidade de governantes falsamente generosos. Essa postura assistencialista de governos de “cestas básicas”, no final das contas, atenta contra a própria dignidade do ser humano. É que não há honra maior ao homem e à mulher que proverem a si próprios e aqueles a quem amam com o suor de seus trabalhos.
Para atingirmos esse nível de justiça social não é preciso, perdoem-me a rudeza do adjetivo, uma imbecil luta de classes. É necessária uma guerra mais intensa contra nós mesmos, bem no fundo de nosso ser. É lá que podemos forjar a virtude da justiça e, com ela, empenharmo-nos, cada um no lugar que ocupamos na sociedade, para dar a cada um o que é seu e, com isso, reduzirmos a ridícula desigualdade social que tanto nos envergonha.
Ontem celebrávamos a Páscoa. A fantástica passagem daquele Carpinteiro da morte para a vida. Ao ressurgir para uma vida nova, ressurgiu também nos corações dos muitos amigos seus. Alguns deles muito pobres, como os pescadores que o cercavam. Outros ricos, como Nicodemos e José de Arimatéia, que lhe deu a sepultura. Mas a todos abriu imensos horizontes de amor ao próximo em seus corações. E é esse mesmo Amor que deve nos impulsionar a que saibamos construir em nossas casas, lares luminosos e alegres, dignos e sóbrios, pequenos ou grandes, mas que tenham tom e sabor de acolhida, de paz, de vida...

A todos uma Feliz Páscoa!

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