quarta-feira, 20 de maio de 2009

Intrigas eletrônicas

Há poucos dias, numa dessas listas de discussão que se faz pela internet, ocorreu um incidente que, ao menos inicialmente, pareceu por demais desagradável. Um dos integrantes da lista, sensibilizado com uma dada tragédia, da qual fora vítima um membro do grupo, enviou a todos um pedido de ajuda aos demais integrantes. Houve repostas positivas e muitos se solidarizaram e se dispuseram a ajudar. Um deles, porém, num momento de irritação, quiçá aborrecido pela insuportável quantidade de mensagens que entupia sua caixa postal eletrônica, deu uma reposta grosseira e um tanto quanto irônica. Isso gerou polêmica e muita confusão. Tive a sorte de ficar dois dias sem acessar a caixa de mensagens de modo que, quando o fiz, estava ela repleta. Mas tive o privilégio de observar o fato quando já estava consumado.
Estou certo de que muitas pessoas passam por situações semelhantes e já presenciaram como e-mails agressivos ou difamadores se espalham a um imenso número de pessoas e, tal como fogo ateado no álcool, geram rapidamente estragos enormes. Penso que essa constatação nos remete para uma indagação: estamos interiormente preparados para viver num mundo em que a informação se transmite numa velocidade e com uma facilidade fascinantes?
Há alguns séculos se uma pessoa pensasse em dizer algo a outra que a ferisse teria de se deslocar para falar pessoalmente, mandar um mensageiro ou enviar uma carta. Para isso seria necessário escrever, selar a correspondência e levá-la ao correio. Quem a recebesse, não pensaria em fazer várias cópias manuscritas para, depois, também selar e postar para outros... E se se dispusesse a fazê-lo, isso demandaria tempo e esforço, de tal sorte que muitos desanimariam no caminho. É que a raiva costuma passar e então o mais fácil é relevar a ofensa...
Hoje, ao contrário, tudo é instantâneo. Alguém recebe uma mensagem eletrônica que não lhe agrada e, em menos de um minuto, pode “dar o troco” com muito veneno e irritação. Além disso, pode encaminhar a mensagem para um grande número de pessoas, que, por sua vez, irá tomar partido de alguém, ou difundir ainda mais a discórdia.
E não é apenas a intriga que pode se propagar rapidamente, mas também outras coisas ruins, como a pornografia. Isso sem contar o insuportável lixo eletrônico. Alguém já se dispôs a contar quanto tempo se perde apenas apagando as mensagens que não serão lidas?
Apesar desses inconvenientes, a velocidade da informação não é algo em si ruim. Há muitas coisas boas que somente se conseguem por meio dela. Um dia desses, enquanto conversava com um amigo, ele parou a conversa para enviar uma mensagem ao celular da filha, pois sabia que em cinco minutos ela faria uma prova que a preocupava muito, querendo com isso acalmá-la e deixá-la mais segura. Conheço também um casal que, apesar de terem contraído o matrimônio há quase duas décadas, é raro o dia em que não trocam um e-mail ou uma mensagem pelo celular apenas para dizer: “eu te amo!”.
Felizmente, a história que relatei no início teve um final feliz. Aquele que deu a resposta indelicada prontamente se desculpou, enviando a mensagem a todos. Com isso, mostrou uma grandeza de alma, reconhecendo o erro. Assim, ambos ganharam a estima de todos: o que tomou a iniciativa de pedir ajuda pela sua generosidade e altruísmo, e o outro pelo nobre gesto de pedir perdão. E todos que participaram do entrevero saíram fortalecidos pelos dois bons exemplos.

Deixando de lado os saudosismos baratos, afinal, o mundo não voltará para a era das cartas e dos pombos-correio, a velocidade da informação é um fato inquestionável. Ela em si não é boa nem ruim, mas depende do que se transmite nesse ritmo frenético. Devemos, pois, ser responsáveis e empenhados em transmitir coisas boas, que façam mais agradável a vida dos demais. Afinal, más notícias, intrigas  e fofocas existem desde os tempos da carochinha.

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