Recentemente tivemos a notícia da prisão do
ex-jogador Romário por não pagar pensão alimentícia. Não pretendo comentar o
caso em si e nem fazer uma espécie de abordagem jurídica do assunto. Mais
importante que isso é nos voltarmos ao coração das pessoas que tiveram uma
relação conjugal rompida e que acabam por cair numa situação triste como essa.
Apesar de tantos traumas e ressentimentos que trazem o homem e a mulher que
passaram por uma separação, o que os impede de encontrar de novo a felicidade?
Uma das características mais importantes da união
conjugal é a perenidade. Quando se inicia um relacionamento dessa natureza
ninguém pensa que será por um prazo determinado. Acredito que nenhum homem e
nenhuma mulher ousariam dizer: “eu te amarei por dois anos”, ou, “eu pretendo
estar contigo por seis meses e, depois, tudo estará acabado”. E se houver quem
pense assim, por certo se trata de uma situação patológica de egocentrismo
digna de tratamento psiquiátrico. É que o verdadeiro amor matrimonial é
exclusivo e feito para durar. Aliás, isso não é uma exclusividade do amor
conjugal. Algo de semelhante se passa com a amizade. Também não é nada comum
pensar ou dizer “serei seu amigo por dois meses”.
Sendo assim o relacionamento conjugal, é evidente que
a sua ruptura sempre deixa marcas amargas em que passou por ela. Nuns mais,
noutros menos, é certo que o divórcio e a separação causam estragos enormes.
Mas sabemos que, por vezes, a separação se faz inevitável. Nesses casos, como
deveriam se portar os ex-cônjuges entre si e para com os filhos?
O pai ou a mãe que após a separação mantém um
convívio mais freqüente com os filhos, aquele que fica com a guarda, como se
diz na linguagem jurídica, deve se esforçar por fomentar o respeito pelo
ex-marido ou pela ex-esposa. Por mais defeitos que se possua, por mais
terríveis que tenham sido suas ações, em cada ser humano há sempre qualidades
boas que podem ser reconhecidas e enaltecidas diante dos filhos. Ainda que isso
seja muito difícil de ser feito, talvez se devesse tentar ao menos por amor aos
filhos. Para se ter uma idéia de como eles se sentem quando o pai ou a mãe faz
críticas ao outro diante desses, basta que nos examinemos como nos sentimos
quando, diante de nós, se caluniam as pessoas a quem amamos de verdade.
Criticar o pai ou a mãe diante dos filhos é uma das
piores fontes de violências que pode praticar quem enfrentou a separação, e
também para o casal que vive junto. É que, aconteça o
que acontecer, o pai será sempre o pai, e a mãe, mãe, de modo que os ataques a
ele ou a ela, ainda que justos, são recebidos como punhaladas que ferem e
machucam por dentro.
E do pai ou da mãe que não tem a guarda, o que se
espera é responsabilidade e honradez de prover com as necessidades materiais e
afetivas. Pagar a pensão convencionada é um mínimo que se pode fazer. Mas mais
que isso, há de se desdobrar para manter um convívio saudável, que promova a
formação dos filhos.
E entre o homem e a mulher que tiveram o
relacionamento rompido, é necessário o perdão. É comum saírem da separação com
uma tonelada de ressentimento nas costas. É o peso que têm os sonhos
frustrados, os projetos que fizeram para uma vida toda e que agora desabou, os
bons momentos passados juntos e depois atirados no lixo. É, pois, natural que
guardem mágoas. Porém, enquanto não se libertarem delas não encontrarão de novo
a paz necessária para alcançar a felicidade.
O ressentimento é um peso insuportável de que
precisamos nos libertar. Imaginemos que tivéssemos de fazer uma caminhada e,
num determinado momento, alguém nos colocasse um saco cheio de pedras grandes e
pesadas nas costas. Haveríamos de nos livrar desse fardo o quanto antes, sem o
que seria impossível prosseguir. Assim ocorre com o nosso coração. Não importa
quem nos tenha ferido, mas é necessário perdoar, do contrário, o rancor se
converterá em correntes que nos aprisionam e nos impedem de caminhar com a
leveza de espírito que marca aqueles que encontraram, entre as agruras da vida,
o caminho da verdadeira felicidade.
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