segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Semana da Família

Iniciou-se ontem a Semana Nacional da Família. Ao contemplar esse tema, vem-me à mente, quase que instintivamente, a recordação dos domingos da minha infância. O calor intenso já inundava com os primeiros raios de sol aquela cidadezinha do interior. A vida despertava num ritmo letárgico. O comércio simplesmente não funcionava, de modo que o cardápio havia de ser muito bem pensado na véspera. E em meio a esse marasmo brotava no mais íntimo de cada um uma alegria inexplicável. Após a Missa matinal, o acontecimento mais esperado parecia dar sentido a tudo: o almoço em família.
É triste contemplar que esse saudável convívio familiar é pouco desfrutado atualmente. Não se trata de fazer considerações saudosistas do tipo “antigamente sim era bom”, mas temos de reconhecer que muito se perdeu da alegria que marcava a vida em família. Nossos domingos muito se aproximam dos dias normais, com o comércio todo funcionando, muitos trabalhando, e o lazer, ainda que o desfrutem pais e filhos, muitas vezes o fazem isoladamente. E por quê?
Penso que o grande mal que assola nossa sociedade é o hedonismo individualista, que se manifesta na busca do prazer pessoal a qualquer custo, esquecendo-se por completo do outro, ou, pior ainda, usando do outro apenas como instrumento para uma satisfação pessoal. E isso ocorre de forma muito cruel no seio das famílias. Dentre inúmeras outras manifestações disso, podemos pensar nos pais separados que quase se matam em demandas judiciais para obter o convívio dos filhos nas datas festivas e nas férias como se fossem um brinquedinho a aplacar a solidão e, ao contrário, pouco se empenham na formação desses filhos.
Mas isso não se manifesta somente nas famílias desfeitas. Aliás, nelas se torna patente algo que se haveria de ter cuidado antes e que depois se percebe que são a causa da triste separação. Por que se empenha tanto em que cada membro da família tenha a sua própria televisão no quarto, o próprio computador onde se jogam fora horas e dias na internet, roubando-os do convívio com os filhos, pais e irmãos, e isso quando o egoísmo não chega ao ponto de impedir que haja irmãos...
Num dia frio do mês de julho, as crianças se deliciavam derretendo marshmellow diante da lareira. E, de repente, com a naturalidade de quem está muito feliz e a vontade, passaram a improvisar umas apresentações de teatro. Uns se fizeram de roqueiros, outras de Cinderela, outros ainda encenaram cenas de filmes policiais. E depois de tanto riso e diversão foi difícil convencê-los de ir para a cama. Com efeito, era muito bom estarmos juntos. E nem é necessária a lareira. Poderia ser – e ouso dizer que seria mais divertido ainda – diante de uma fogueira improvisada sobre um simples chão de terra...
A família é um lugar em que não cabe o egoísmo. Nela a felicidade se constrói a custa de sacrifício e esquecimento próprio. Essa postura, porém, ao contrário do que parece, não nos faz tristes e lamurientos. A entrega ao outro, por amor, é a maior fonte de alegria.
Soube do que aconteceu num lar que bem ilustra esse ambiente saudável que se há de viver na família. O filho pequeno, ao contemplar uma cena de uma pessoa que recebia o café da manhã na cama, disse: “eu nunca tomei café na cama”. O irmão mais velho, sabendo disso, resolveu fazer-lhe uma surpresa. No dia do aniversário do irmão, pulou cedo da cama e pôs-se a fritar ovos, preparar um chocolate quente e tudo o mais que o aniversariante gostava. E após muito esmero subiu com a bandeja repleta de guloseimas e bem enfeitada. Após o barulhento “parabéns a você” entoado desafinado pelos irmãos, o pequeno acordou sem saber ainda o que se passava. Ao notar a surpresa que lhe prepararam não pode esconder o sorriso de satisfação adornado pelo brilho de felicidade nos olhos.

O resultado foi que após umas garfadas nos ovos e um pequeno gole no chocolate tudo veio ao chão. Mas não importa. A paz e a felicidade na família se constrói com pequenos gestos como esse, ainda que às custas de uma colcha manchada, ou de uma vidraça quebrada.

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