sábado, 30 de setembro de 2006

Jovens “dessensibilizados”

Uma característica essencial do ser humano é a necessidade de se relacionar com os demais, tanto que já se disse que o homem é um animal social. Na era da informática, porém, tem-se notado certo empobrecimento das relações humanas, sobretudo entre os mais jovens, que facilmente substituem o convívio com os amigos e familiares pelo computador.
É comum as crianças e os adolescentes terem no videogame e nos jogos de computador a quase que única diversão. O problema disse é que se diverte, se frustra e se vence sozinho, sem precisar de ninguém. Para um jogo de futebol, basquete, vôlei e outros esportes, ao contrário, são necessárias duas ou mais pessoas. E para que ocorra a partida, cada jogador deve estar motivado, querendo participar, e então se discute, se luta, se vence, enfim, relacionam-se. E isso é importante para ir amoldando a personalidade. A máquina, ao contrário, é incansavelmente submissa ao jogador que a controla. E isso acaba por criar pessoas centradas em si, com dificuldades de relacionamento, em uma palavra, tremendos egoístas, incapazes de pensar nos demais.
E as conseqüências são piores ainda se os jogos forem de violência. É que então a morte passa a ser apenas um “game over”, algo que se apaga e se supera apenas acionando o “start” novamente. E, dependendo do tempo em que se dedica a participar desses jogos, é tristemente corriqueiro nessas pessoas uma total indiferença à sorte dos demais. Afinal, quem ou o que passa a ser o outro? Nada, ninguém, algo semelhante aos CD´s que se inserem no equipamento para mudar de jogo quando do anterior não mais se tira nenhuma satisfação.
E penso que mesmo os bons recursos criados para se facilitar a comunicação, como o MSN, podem vir a servir para deteriorar as relações humanas. É que, se por um lado encurtam distâncias, permitem conversas mais demoradas e freqüentes entre pessoas que estão longe entre si, por outro, quando se busca falar com os amigos apenas dessa forma, quando é possível o diálogo na presença um do outro, tira-se a cor e o sabor de uma conversa em que se olha no olho, se sente o calor de um abraço, o peso de uma confidência, o sabor de um sorriso.
Tempos atrás, era comum se fabricar o próprio brinquedo, como uma pipa, por exemplo, em que se havia de adquirir o material, cortar, colar, ajustar até que ficasse pronto. E depois, colocá-la e mantê-la no ar exigia técnica, paciência, perspicácia. E nessa empreitada, não era comum lançar-se só, mas com outros amigos. Tudo isso implicava em relacionar-se, em vencer, em frustrar-se, pois, se calhava de enroscar em uma árvore, todo o trabalho se perdia, e então havia de se começar tudo de novo, como acontece na vida real de cada um.
Penso que não se trata de sustentar um saudosismo tristonho que afirma que as coisas modernas e, dentre elas a informática, são ruins. Não, há coisas muito boas e que muito facilitam a vida das pessoas. Não se pode permitir, porém, que isso que deveria ser um auxílio, transforme-se em algo que escraviza o ser humano, que o impede de manter um sadio relacionamento com os demais.

Conheço uma família em que, após o jantar, pais e filhos costumam se reunir por alguns minutos, no que chamam de tertúlia. E esses encontros nunca um é igual ao outro. Por vezes, cada qual conta como foi o dia. Noutros, seguem contando piadas e outros assuntos alegres. Em outros ainda, improvisa-se uma peça de teatro ou uma apresentação de mágica. O importante é passar bons momentos juntos e, com isso, constrói-se a alegria do ambiente familiar, em que cada um se sente bem e feliz simplesmente por estar em casa.

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