segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Pai X Mãe

Um dia desses presenciei uma cena interessante. Um amigo chegava à casa do trabalho e seus dois filhos o aguardavam na porta. Ao entrar, as crianças iniciaram uma lista de reclamações contra a mãe. É que ela os havia proibido de assistir ao jogo da seleção brasileira de futebol. Os argumentos dos garotos me pareciam razoáveis, por isso fiquei curioso para ver o que o pai faria. Após ouvi-los por uns instantes, como estavam exaltados, disse-lhes em tom firme e sereno: “Esperem um pouco! Eu não sou um tribunal de apelação das decisões da mamãe. Nós decidimos as coisas juntos. Se ela disse que não assistirão mais TV hoje, deve haver um motivo razoável e eu não vou mudar a decisão dela”. Episódios como esses são relativamente comuns nas famílias. Porém, será que essa atitude sábia do pai é tão freqüente como deveria ser?
Os filhos costumam descobrir desde muito cedo que colocar o pai contra a mãe é uma estratégia eficaz para conseguir o que querem. Com efeito, se sabem que o pai ou a mãe é mais condescendente, após sofrer um castigo, ou mesmo receber um não a um pedido, sabem o jeitinho de fazer com que o outro volte atrás da decisão. E se os pais são separados então a estratégia costuma ser muitíssimo mais eficaz.
Paradoxalmente, porém, ainda que os filhos usem desse expediente, no fundo eles esperam ardentemente que pai e mãe sejam coerentes e ajam em sintonia em relação a eles. É que isso lhes dá segurança sobre o que é certo ou errado, bom ou mau. No exemplo que citei acima, a primeira reação do filho mais velho foi dizer com ar de derrota: “deixa pra lá, ele também não vai deixar a gente assistir...”, e saiu cabisbaixo e se arrastando. Porém, poucos minutos após, ambos estavam muito contentes. E, apesar do castigo, foram para a cama alegres e serenos.
Penso que pai e mãe deveriam ter essa regra essencial na educação, ainda que custe muito: jamais contrariar o outro diante dos filhos. É muito mais prejudicial aos filhos o desentendimento dos pais sobre a sua educação do que uma injustiça que eventualmente um venha a cometer. Além disso, se o pai ou a mãe forem injustos em alguma situação, o próprio autor da injustiça poderá retificar depois, inclusive pedindo perdão.
É evidente que pai e mãe não estarão sempre de acordo em relação a todos os assuntos, nem mesmo os referentes aos filhos. Cada um veio de uma família diferente, com costumes diferentes. Por vezes na família dele se dá pouca importância para as datas, ao passo que na dele esquecer o aniversário de namoro é uma falta gravíssima. Assim, é natural que haja divergências. Porém, o casal há de se esforçar por decidir e, se necessário brigar, mas longe dos filhos. Aliás, também é absolutamente normal e saudável que haja desentendimentos e até pequenas brigas. Porém, após discutirem, um tem de ceder, e é muito bom que não seja sempre o mesmo que cede. Mas depois de tomada a decisão, deve ela ser comunicada aos filhos como sendo dos dois. E aquele que soube ceder não pode assumir uma postura agourenta, que fica esperando que dê errado para colocar o dedo no nariz do outro e dizer: “não falei? Se tivesse me ouvido...”. Tomada a decisão, ela é do casal, aconteça o que acontecer.

Certa vez ouvi um orientador familiar dizer que a família pode ser comparada com uma carroça puxada por dois animais. É claro que toda comparação é imperfeita, explicou ele, e pai e mãe não são na família simples “burros de carga” a transportar os filhos comodamente numa charrete. Mas, sob certo aspecto, a comparação pode ser útil. É que se ambos andarem alinhados, lado a lado, a viagem será tranqüila e, no seu ritmo, chegarão ao destino. Porém, se um se puser a querer puxar cada um em sentidos diferentes, é provável que não saiam do lugar, ou botem tudo a perder. E se um abandonar o seu posto, o outro terá de levar tudo sozinho. Ocorre que essa “carroça” foi projetada para ser puxada a dois, de modo que somente a duras penas um a consegue levá-la sozinho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário