A Revista Metrópole do penúltimo domingo, dia 18 de
outubro, trouxe uma reportagem sobre os resultados de uma pesquisa, feita por
duas psicólogas norte-americanas, Melissa Burkley e Jessica Parker, da Universidade
Estadual de Oklahoma, na qual se constatou que as entrevistadas
descompromissadas sentiam maior atração por homens comprometidos.
Não pretendo questionar nem concordar com o resultado
da pesquisa. Aliás, se analisarmos com sinceridade e coragem, concluiremos que
é de certa forma inevitável que homens e mulheres sintam atração uns pelos
outros, sejam ou não comprometidos. Por exemplo, ao se deparar com uma mulher
bonita, atraente, com um perfume agradável e bem arrumada pode ocorrer que o
primeiro impulso no homem seja desejá-la como parceira de uma relação íntima,
independentemente de serem ou não casados. Mais ainda, tal como revela a
pesquisa, a aliança no dedo pode mesmo ser um atrativo a mais. Penso, porém,
que a questão que se coloca como fundamental não é esse sentimento inicial. O
que importa é a atitude que tomaremos após esse impulso, quando a nossa
inteligência tomar conta da situação.
Ao deparar com esses questionamentos, vem-me à
memória um cachorrinho que possuíamos há alguns anos, quando ainda morávamos
numa cidade muito pequena do interior. O Slinky
era um puddle adorável e obediente.
Mas havia ocasiões em que nos fugia completamente do controle. Quando alguma
cachorrinha da vizinhança entrava no cio, a situação ficava insustentável. Ele
roia os pés da mesa, rasgava o sofá, pulava o muro e sempre dava um jeito de
escapar e ir ao encontro dela.
Poderíamos traçar um paralelo entre a atitude do Slinky e a das pessoas mencionadas na
pesquisa. Ambos sentem uma atração sexual. Mas seria conveniente que nós, seres
humanos, reagíssemos diante de um estímulo exatamente como o faz um cachorrinho
de estimação?
Penso que a sexualidade é parte integrante da
natureza dos seres e é dela indissociável. Um animal, mais precisamente um
mamífero recém-nascido necessita da proteção da mãe, que ela o amamente e
dispense os cuidados até que atinja a maturidade suficiente para cuidar de si
próprio. O ser humano, ainda que necessite desses cuidados materiais e
alimentação a ser proporcionados pelos pais, deles dependem muito mais.
Precisam de ser formados, de carinho, de afeto e de acolhida. Em suma,
necessitam de amor.
E se é isso o que nos define como seres humanos, ou
seja, como seres que possuem e aspiram ao amor, nisso está indissociavelmente
inserida a nossa sexualidade. Assim, quando se dissocia o sexo do amor e da
afetividade, coloca-se esse ato humano, em si sublime e belo, abaixo do
acasalamento praticado pelos animais. É que esses quando menos o fazem com
total “disposição”, se é que se pode assim dizer, imposta pelo instinto natural
de preservação da espécie, de acolher e alimentar a prole que disso advenha.
Lembro-me do que me contou um grande amigo, que bem
pode ficar a título de conclusão. Na época, ele era professor universitário e uma
aluna passou a assediá-lo indiscretamente. Certa vez, ao final da aula, a aluna
lhe disse: “Professor, todas as meninas da classe acham que o senhor é o
professor mais charmoso que nós temos”. Ele não perdeu a compostura. Deu um
suspiro, lançou um olhar penetrante e sério. Em seguida, disse: “Eu agradeço o
elogio, muito embora acredito que quem disse isso não esteja bem da visão. Mas,
faça um favor, diga a quem pensa isso de mim que eu estou casado há dezessete
anos e que, depois desses anos todos, posso dizer que amo minha esposa ao menos
setecentas vezes mais do que a amava quando, diante do altar, prometi a ela que
esse amor seria para sempre. Diga também que, todas as noites, beijo meus
filhos em suas camas e depois, ao me deitar, beijo minha esposa enquanto renovo
em voz baixa a mesma promessa: meu amor, é para sempre, para sempre...”.
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