segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Tempo de paz

Nestes últimos dias do ano, a palavra que mais aparece nas mensagens de Natal é a paz: “Feliz Natal e um Ano Novo repleto de paz e realizações”, “que a paz do Natal inunde cada um de seus dias no próximo ano” etc. Mas para que esse anseio se concretize em nossas vidas, o que é necessário? Como encontrar a tão sonhada paz?
Antes de buscarmos a paz, temos de encontrar o seu verdadeiro sentido. A paz não é a ausência de guerra, nem tampouco depende ela de não se ter problemas. Costuma-se dizer que as nações estão em paz quando uma não está em atacando a outra e respeitando a sua soberania. No entanto, muitas vezes essa aparência de paz está construída sobre a desconfiança e sobre o temor. Cada um se abstém de agredir o outro não em respeito à dignidade dos semelhantes, mas receoso dos danos que possam advir do conflito.
E nós, muitas vezes, construímos a paz no trabalho, na família e em nossas relações sociais sobre bases semelhantes. Por exemplo, quando se está diante do chefe, simula-se um respeito e uma lealdade a ele, mas se faz de forma interesseira, de modo obter uma promoção. Entre os colegas, mantém-se um tratamento externamente respeitoso com o objetivo de ser bem visto pelos demais e manter a posição. Com isso, pode-se até construir um ambiente de aparente paz, por não haver conflitos entre as pessoas. Contudo, basta que haja um interesse econômico em jogo para se jogue tudo isso fora, e então surgem as famosas “puxadas de tapete” que corroem as instituições.
Na família também pode ocorrer algo de semelhante. Coloca-se uma TV exclusiva para cada um, pois assim se evitam os conflitos na escolha dos programas. Cada um com o seu celular, seu computador, sua internet etc. Com isso, evitam-se muitas brigas, é certo. Porém, não chamem a isso de família. São pessoas que convivem juntas por mera conveniência, mas cada uma isolada em seu reduto, imersas no mais cego egoísmo. E não há verdadeira paz nessa casa. Há, quando muito, mera acomodação de interesses.
A paz exige que busquemos a reconciliação com aqueles com quem, por um motivo ou por outro, com ou sem razão, tenhamos nos indisposto. E o tempo de Natal é propício para isso. A proximidade das festas aguça em nossos corações sentimentos de solidariedade que nos movem a querer reatar as relações rompidas. E é muito bom que aproveitemos essa oportunidade. Uma vez perguntei a um amigo como ele se sentia após ter restabelecido a amizade com um irmão com quem há anos não conversava. A resposta foi simples e sincera: “parece que tirei uma tonelada das costas. Caminho agora com a serenidade de quem aliviou um peso imenso que me esmagava”.
Para que reine a paz na sociedade, ela deve reinar antes em nossos corações. E ela somente terá nele a sua morada se encontrar um ambiente propício. É fundamental, nesse intuito, que nos demos razões suficientemente fortes para viver. E não há sentido maior para nossa vida do que doá-la por amor aos que nos cercam, em especial os nossos familiares e amigos.
E quando vivemos assim, a nossa marca será a alegria. E essa, como ensina São Tomás de Aquino, nasce do amor. E o amor tem tanta força “que esquecemos a nossa alegria para alegrar aqueles que amamos”.

Outro dia eu conversava descontraidamente com a minha filha de três anos, quando resolvi aprofundar um pouquinho num assunto. Fiz-lhe, então, uma pergunta: “Filha, você é feliz?”. “Sou”, respondeu ela imediatamente. “Por que você é feliz?”, insisti. “Porque eu te amo muito”, respondeu-me ela. E depois de alguns segundos, ela continuou, como que descobrindo um motivo ainda mais forte para a sua felicidade: “E porque a mamãe gosta muito de mim”. Talvez tenhamos aqui uma possibilidade enorme de buscarmos a paz tão sonhada: imitar a simplicidade de uma criança bem pequena.

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