Na última sexta-feira, o Correio
Popular trouxe o resultado de uma pesquisa feita pela Confederação Nacional do
Comércio (CNC), intitulada “Endividamento e Inadimplência do Consumidor”, que revela
a quantidade crescente de famílias endividadas no País.
Ouvi
há tempos uma frase que muito me chocou: “uma família com dívidas é presa fácil
do diabo”. Com isso se quer dizer que o endividamento para além dos limites da
renda rouba a paz familiar e, frequentemente, leva ainda a acusações recíprocas,
no mais das vezes injustas e que em nada contribuem para a solução: “é que você
fica comprando coisas desnecessárias no supermercado”. “Ah, é?!”, retrucará o
outro, “não sou eu que fico mandando uma gorda mesada todo mês para a folgada
da sua mãe!”.
Os
problemas financeiros que abalam a família costumam ter dimensão mais profunda
e nem sempre os casais se dão conta disso: a falta de um planejamento familiar.
Essa expressão tem sido tomada, com muita frequência, como sinônima de controle
de natalidade. De fato, por vezes as dificuldades econômicas justificam espaçar
os nascimentos dos filhos ou mesmo reduzi-os a um número que se possa sustentar
com dignidade. Mas não é esse o ponto central do problema. Planejar a vida
familiar implica definir, em conjunto, a forma de utilizar os recursos
econômicos. Mas, muito mais que isso, que o diálogo seja a forma de conduzir
todos os temas, especialmente aqueles que não têm preço, como a educação dos
filhos e o amor conjugal.
É
fundamental, portanto, que marido e mulher decidam juntos como administrar o
orçamento familiar. Não se trata de deliberar sobre a marca de molho de tomate
a ser comprada, mas que ambos tenham muito claro o quanto dispõem para gastar e
que se empenhem com ações concretas e perseverantes por se manterem dentro
desses limites. E que não lhes falte, nessa tarefa, a generosidade de reservar
uma parte para entidades que promovam o bem daqueles que são menos favorecidos.
Mas
essa forma de administrar a família não se limita às finanças. Igual profissionalismo
deve nortear a educação dos filhos. O que queremos para cada um deles? Quais
são suas dificuldades? Que ações poderemos tomar nesta semana, no próximo mês, enfim,
a cada dia para que esse filho ou essa filha cresçam como pessoas e que nessa
evolução sejam responsáveis e felizes? Esses assuntos devem marcar, muito
acentuadamente, a pauta do diálogo dos casais.
E
também o próprio relacionamento conjugal deve ser tema de uma “pauta de
trabalho”. Homem e mulher trazem para o casamento muitas expectativas. Ela
gostaria, por exemplo, que ele se mantivesse carinhoso e se preocupasse com ela
tal como o fazia nos tempos de namoro. E ele, talvez, que ela mantivesse a
mesma disponibilidade para as relações íntimas dos primeiros anos de casamento.
E, no dia-a-dia, muitas dessas expectativas são frustradas por um comportamento
diferente do que se esperava.
Isso,
em si, não é um problema. O pior é quando não manifestamos serenamente e no
momento oportuno essas insatisfações. As coisas se avolumam a tal ponto que
parecem ter dado veneno ao amor conjugal. Isso revela a importância de um
diálogo franco e sincero sobre o que se espera do outro. E depois que haja um
empenho decidido de, tanto quanto for possível, corresponder aos legítimos
anseios do outro.
Certa
vez um amigo me disse que seu pai, já com seus quarenta anos de casado, fez um
cartão de visitas que tinha a foto de sua família, e nele constava como
profissão marido e pai. Ao lhe perguntarem o motivo disso, ele respondia
simplesmente: “é que essa foi a única empresa que montei que deu certo”. E que
sucesso! De fato, esse é o único empreendimento que não podemos deixar falir
jamais. A propósito, quanto investimos hoje, nesta segunda-feira, em carinho
pela esposa, em atenção ao marido e em desvelo sincero e terno pelos filhos?
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