segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Bioética hoje

Acendeu-se no bojo da campanha eleitoral o debate sobre a questão da descriminalização do aborto. Talvez temendo perder votos, ou com o propósito de angariar a simpatia dos eleitores cristãos, ora vemos os candidatos participando com aparente piedade da Santa Missa, ora vemo-los beijando um crucifixo bem ostensivamente sob o brilho dos flashes fotográficos e da curiosidade dos repórteres. Mas será que o tema do início e do fim da vida humana deve estar atrelado à crença religiosa? Não seria a vida um valor em si, independentemente da fé ou mesmo de concepções filosóficas?
Penso que as grandes questões que se apresentam como relevantes para a sociedade haveriam de ser discutidas sob uma perspectiva humanística. E para que seja verdadeiramente humana, deveriam abordar aspectos de fundamental importância e que se traduzem nas grandes indagações que todo ser humano se faz em determinado momento de suas vidas: quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? Da resposta a esses questionamentos é que afloram as nossas convicções mais profundas. Dentre elas, o início e o fim da vida humana, com a consequente tutela jurídica que lhe deve ser dispensada.
O atrelamento de conceitos à religião é frequentemente utilizado com técnica muito eficaz de manipulação da opinião pública. Tomemos um exemplo de como isso ocorre. Alguém poderá desenvolver essa linha de raciocínio: “sou católico e, como tal, sou contrário ao aborto. Porém, o Estado é laico e não pode sofrer influências de qualquer religião. Portanto, deve ser legalizado o aborto”.
O argumento é malicioso, porém, no mais das vezes, nos passa despercebido. Primeiro apresenta a defesa da vida ou a condenação do aborto como algo inventado pela Igreja Católica, semeando subliminarmente a ideia de que se trata de algo válido exclusivamente para os adeptos dessa religião. Depois de atrelar o tema à religião, vem a segunda premissa, qual seja, que todos temos a liberdade de crença. Com isso, vem a conclusão de que não se pode impor a todos algo que é exclusivo de uma ou de algumas religiões.
Se não estivermos atentos, ou melhor, se não nos dispormos a pensar no assunto, o manipulador, que não tem preocupação alguma em explicar mas apenas de lograr a sensação de ter ganho a discussão, faz com que aceitemos seus argumentos falaciosos sem qualquer questionamento.
Acontece que o valor da vida humana não está vinculado a qualquer religião. Trata-se de um bem em si, que decorre da própria natureza do homem e da mulher e tem como fundamento o princípio da dignidade humana, seja qual for a crença religiosa.
O mundo acompanhou emocionado o resgate dos mineiros no Chile que se mantiveram presos em galerias subterrâneas por longos 70 dias. E por que? Penso que porque, dentre outros motivos, a vida humana é um valor universal. Por certo não devem ter faltado críticos a dizer que com os milhões de dólares gastos na operação poderiam ser construídos muitos hospitais, escolas, casas populares etc. Mas não interessa, são trinta e três vidas. Uma só delas possui um valor infinito. E por que não o tem aquele coração que pulsa no ventre materno? E por que se há de encurtar os dias  dos chamados pacientes terminais? Para lhes dar uma morte digna? Não seria uma morte digna aquela que ocorre no seu tempo natural, mas cercada de carinho e de atenção dos familiares, dos médicos, dos enfermeiros, inclusive com medicamentos que atenuem o sofrimento?
Não dou a resposta a esses questionamentos porque não pretendo usar a mesma arma do manipulador. Que pense o leitor de verdade no assunto e por certo encontrará a resposta numa lei natural e universal gravada em cada coração e que pode ser lida com a voz de uma consciência bem formada. Essa lei não foi escrita por Papas, Pastores evangélicos ou por Ministros de quaisquer religiões. Já nascemos com ela e só não a vê quem não quer.

Para os que se interessam pelo aprofundamento no assunto sob uma perspectiva científica, ocorrerá em Campinas, no próximo dia 6 de novembro, das 8:45 às 12:30, no Auditório da Biblioteca Central da UNICAMP, um seminário que terá como tema Bioética hoje. As informações podem ser obtidas no endereço eletrônico: seminario.hoje@gmail.com ou pelo telefone (19) 8124-8090. Vale a pena conferir.

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