segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Casamento: até quando?

Recentes alterações legislativas facilitaram enormemente o divórcio. Desde 2007 a separação e o divórcio consensual em que o casal não possua filhos menores já podem ser feitos diretamente em cartório, sem a necessidade de qualquer decisão judicial. E, desde julho deste ano, quando entrou em vigor a Emenda Constitucional n. 66/2.010, o divórcio pode ser realizado a qualquer tempo, ou seja, não mais se exige um tempo mínimo de casamento, nem tampouco a prévia separação judicial ou de fato. Diante desse novo cenário jurídico, podemos nos indagar se as mudanças serão benéficas para o casal, para a família e para a sociedade em geral.
Penso que numa visão mais imediatista e superficial as alterações podem ser justificadas. Há uma forte tendência em se facilitar o acesso do cidadão aos serviços públicos, bem como que esses sejam prestados da maneira cada vez mais célere e eficiente. Nessa linha, não convém exigir que as partes procurem o Poder Judiciário para se divorciar, com as demoras, custos e entraves que isso implica, se podem fazê-lo diretamente em cartório. De igual modo, exigir um tempo mínimo de casamento, no mais das vezes, representava apenas um entrave burocrático imposto pelo Estado, pois em muitos casos a união conjugal já estava mesmo desfeita e apenas se aguardava para regularizar a situação.
Porém, se por um lado a alteração legislativa é coerente com uma visão pragmática, por outro, é ela o ponto culminante de um fenômeno social no mínimo preocupante, qual seja, a banalização do casamento. A possibilidade de se divorciar no mesmo dia em que se casou, se assim o quiserem, retrata uma postura pouco responsável perante o próprio matrimônio.
Um dos mais importantes ingredientes para o sucesso na vida conjugal é a maneira como o homem e mulher tomam essa decisão. Conta-se que Hernán Cortés, o conquistador espanhol, ao desembarcar no México, afunda os seus barcos a fim de evitar deserções e penetra no continente. Penso que essa deva ser a postura correta para quem busca o casamento: afundar os barcos que os pudessem conduzir à vida de antes. É que quando se encara como um caminho sem retorno, então não se medem os esforços para que haja sucesso. E vale a pena, pois desse empenho diário por honrar o compromisso assumido depende, em grande medida, a felicidade do casal, a formação dos filhos e a própria sobrevivência da sociedade.
Certa vez soube de um pai que, ao se despedir da filha que saia em lua-de-mel, resolveu dizer-lhe: “olha filha, vou deixar o seu quarto montado do jeito que está. Se não der certo...”. Péssimo conselho! Se não der certo? Ora, se for com essa visão que ela se entrega ao marido o casamento já faliu antes mesmo de começar.
Igual efeito deletério poderão ter as recentes inovações legislativas. A banalização do casamento é agora oficial. Com isso, as inúmeras facilidades para se obter o divórcio podem ter o efeito de estimular as pessoas a buscarem o casamento de maneira irresponsável.

Não são com entraves burocráticos que conseguiremos manter a estabilidade e a felicidade nas famílias. Porém, agora com a chancela do Estado estimulando cada vez mais o divórcio será um grande desafio formar em nossos jovens a convicção sobre a responsabilidade que devem ter ao se decidirem pelo casamento. Na edição da última terça-feira, o Correio Popular trouxe a emocionante história de vida do Sr. João Bicudo e da sua esposa, Luzia. Em dezembro eles completarão 60 anos de casados! E ela dá um conselho que bem pode servir de conclusão a tudo o que falamos: “É preciso muita fé, amor, paciência e diálogo. Casar é uma decisão séria. É um compromisso que não pode ser assumido num ato impulsivo”.

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