segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Brigas: como ficam os filhos?

Um amigo me contou que enquanto conversava descontraidamente com sua filha de 4 anos, ela lhe disse em tom divertido: “Pai, já pensou um pai brigando com a mãe?”. “Como assim, filha?”, perguntou ele. “Ora, pai, já imaginou um pai brigando, discutindo com a mãe!”, retrucou ela. “Por que, pai e mãe não brigam?”, insistiu ele. “É claro que não”, respondeu ela, e depois conclui: “pai e mãe não brigam”. Aquele bom homem se sentia orgulhoso do que disse a filha. Com efeito, após muito esforço dele e da esposa, conseguiram que as discussões, que inevitavelmente aconteciam, ocorressem em momentos que não tinham os filhos por perto. Mas depois me fez um desabafo: “com os meus filhos mais velhos não consegui essa proeza, de modo que presenciaram grandes discussões nossas. Porém, após anos de convivência, os cursos que fizemos e o empenho que colocamos, por amor a nossos filhos, resolvemos nossos desentendimentos a sós. E que diferença isso faz na educação deles!”. Será essa vitória alcançada por esse casal algo irrealizável em nossos dias?
Evitar a todo custo as brigas e discussões diante dos filhos é algo difícil de se conseguir. Porém, os benefícios que isso traz para os filhos, para a família e para o próprio relacionamento do casal são imensos, de modo que vale a pena o esforço.
Quando pai e mãe brigam diante dos filhos, é comum que eles tomem partido de um ou de outro. No mais das vezes, porém, eles não têm critérios suficientes para saber qual dos dois tem razão, de modo que optam por ficar do lado daquele com quem tem maior empatia, ou simplesmente porque a postura de um foi menos destemperada que a do outro durante o entrevero. Aliás, numa discussão é muito raro que alguém esteja cem por cento certo e o outro totalmente errado. Assim, quando as crianças se põem do lado da mãe contra o pai ou vice-versa, a briga somente contribuiu para a desunião familiar.
Outra grave consequência é o enfraquecimento dos valores, contribuindo para arraigar cada vez mais o relativismo na consciência dos filhos. Eles buscam no pai e na mãe modelos de valores a serem seguidos para guiar as suas vidas. Contudo, se falta coerência entre os dois, dá-se lugar a uma terrível confusão. Imaginemos como nos sentiríamos se, em meio a um longo voo, quando a aeronave sobrevoa um imenso oceano, piloto e copiloto se pusessem a discutir acaloradamente sobre que rota seguir e como conduzir o avião. Por certo que os passageiros ficariam desnorteados, perdidos e extremamente amedrontados. “Que será de nós se essas pessoas que devem conduzir nossas vidas nesse momento não se entendem?”, poderiam pensar. Ora, é assim que se sentem os filhos cujos pais vivem às turras diante deles.
Mas talvez o maior mal que os desentendimentos dos pais causam nos filhos é a sensação de que não os amam de verdade. Atribui-se a São Bernardo a frase: “quem me ama, ama também o meu cão”. Em suma, mostramos o nosso apreço por alguém, no mínimo respeitando aqueles a quem eles amam. Pai e mãe são as pessoas mais importantes da vida das crianças. Porém, se o pai falta ao respeito com a mãe, ou a mãe com o pai, no fundo não demonstram um amor sincero pelo filho. Afinal, agridem aquele ou com aquela que eles muito amam neste mundo.

É inevitável que haja desentendimento entre o casal. Aliás, ouso dizer que é bom que aconteçam as brigas, até para que se saboreie o gosto da reconciliação. Porém, há que se evitar que ocorra diante dos filhos. Mas, se acontecer, devemos procurar compensar o mal causado com um exceder-se no carinho e nas demonstrações de afeto. Muitas vezes os filhos presenciam o desentendimento, mas não que fizeram as pazes. Para isso, um buquê de rosas de surpresa num dia em que não haja nada de especial pode apagar muitas mágoas. Igualmente, aquele jantar bem preparado, com amor e atenção nos detalhes é capaz de afogar, em abundância de bem, muitos males do passado. Vale a pena, vale a pena!

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