Enquanto
visitava umas casas à venda num loteamento fechado, notei que o corretor,
talvez como técnica de venda, afirmava que haviam sido construídas por pessoas
que pensavam em habitá-las e não simplesmente para vendê-las. Indagado o motivo
de estarem se desfazendo dos imóveis, a resposta mais frequente foi que o casal
havia se separado.
Esse
dado torna manifesto um ingrediente fundamental em toda relação matrimonial de
sucesso: a necessidade de se ter projetos comuns. O Código Civil brasileiro, de
maneira muito sábia, consagra em seu artigo 1.511 que o casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade
de direitos e deveres dos cônjuges. E no inciso II do artigo 1.566,
estabelece como dever dos cônjuges a vida
em comum, no domicílio conjugal. Sendo assim, o projeto da casa é
importante, afinal, esse sonhar e construir juntos é importante para o
casamento. Porém, o projeto de vida a dois há de ser muito mais abrangente.
Um
dos motivos do crescente fracasso dos casamentos está no modo que se tem vivido
o tempo de namoro. Parte-se prematuramente para as relações íntimas e pouco se
dedicam a se conhecerem a fundo.
O que
pensa ela ou ele a respeito dos filhos? Como serão educados? Trata-se de um
assunto fundamental a ser tratado antes do casamento e também durante a vida
matrimonial. Quando se diz que se há de ter projetos em comum, é evidente que
nisso não se inclui a profissão dos filhos ou se eles haverão de se casar e com
quem. São questões que eles próprios decidirão com total liberdade no momento
adequado. Mas a formação dos filhos e os objetivos a serem buscados com isso
devem estar muito claros para o casal. Todos nós queremos que os filhos sejam
homens e mulheres felizes e responsáveis. Mas com que frequência conversamos sobre
esse assunto? Quais são os meios de que se valem o pai e a mãe para auxiliá-los
e orientá-los nessa direção?
Outro
ponto que precisa estar bem ajustado é a vida profissional de cada um. A
escolha do trabalho e da profissão é algo pessoal, que não pode ser imposto
pelo outro cônjuge. Contudo, na medida em que isso possa influir – e
frequentemente influi – na vida familiar, o marido e a mulher devem ser ouvidos
antes de se tomar qualquer decisão. Aliás, um bom critério parar avaliar a
escolha do marido e da esposa advém da resposta a essa indagação: “Ele (ou ela)
está disposto a qualquer sacrifício profissional pelo bem da esposa (ou do
marido) e da família? Para ele (ou para ela), o que é mais importante a família
ou o trabalho? No mais das vezes não haverá incompatibilidade entre família e
trabalho, mas não está apto para o casamento quem não sabe colocar, não em
teoria, mas nas ações práticas de todos os dias, a família acima do trabalho.
Há
que se conversar também sobre as convicções religiosas. A fé é algo pessoal
sobre o que não tem o outro direito de interferir. Mais ainda, trata-se de uma
demonstração de amor sincero o fato de se ajudar o marido ou a esposa a viver
de maneira coerente com a sua fé, inclusive quando ela não é compartilhada. No
entanto, a vivência de uma determinada religião produz consequencias na vida
conjugal e familiar: assistência aos cultos, frequentar ou não frequentar
determinados locais, a educação religiosa dos filhos etc. E ao se traçar um
projeto de vida em comum, esses pontos hão de estar bem claros e alinhados.
“Que seja eterno enquanto dure esse
amor, que dure para sempre, que venha abençoado por Deus, que seja diferente, que
tenha alegria, que ponha fogo em mim, quem é que não quer um amor assim”, cantam os apaixonados ao som da
composição do grande Peninha. O erro de muitos, porém, está em pensar que o
sucesso desse empreendimento seja aleatório e dependa exclusivamente da sorte.
Ao contrário, pode ser edificado dia a dia, tal como numa construção, um tijolo
após o outro. E, como toda obra bem feita, deve ser antes planejada e depois
executada harmonicamente pelos construtores.
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