segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Tropa de Elite e a Dignidade Humana

O personagem Capitão Nascimento, do filme Tropa de Elite, assumiu o papel de herói nacional. Com efeito, uma das maiores indignações do brasileiro é a impunidade. Nesse cenário, um policial honesto e implacável com os criminosos rapidamente se converte no baluarte da ética nos meios policiais. Semelhante efeito causou a invasão pelas Forças Armadas do Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, fazendo ressurgir a esperança de uma nova ordem que proporcione mais segurança para o cidadão de bem.
Mas há um fato marcante no filme e na operação policial nas favelas no Rio de Janeiro que também deveria despertar nossa atenção: muitos de nós vibramos quando os bandidos eram sumariamente mortos pela ação dos policiais.
A nossa Constituição Federal consagra como fundamento da nação brasileira a dignidade da pessoa humana. Mas será esse princípio universal e absoluto, ou depende dos méritos pessoais de cada indivíduo? O criminoso, o traficante ou o assassino são pessoas que tiveram a sua dignidade diminuída ou mesmo aniquilada como resultado de suas más ações, ou, apesar disso, a mantém intacta?
Penso que não é possível dar uma resposta cabal sem analisarmos o que é, na essência, o ser humano.
Não é necessário ser especialista para constatar a maravilha do corpo humano. São milhares de células que formam tecidos, que se organizam em órgãos. Temos os sentidos que nos permitem compreender e nos relacionar com o mundo exterior e muito mais. Além disso, o ser humano possui uma alma imortal, de modo que sequer a morte o aniquilará por completo. E, como corolário disso tudo, traz dentro de si uma incrível capacidade da amar, de se doar desinteressadamente aos demais.
Essa vocação para a transcendência, que o move a buscar o bem do próximo (esposa, marido, filhos, amigos) é, de certo modo, o que mais acentuadamente caracteriza o ser humano. É bem verdade que muitos não a desenvolvem e, com isso, desperdiçam a vida ou parte dela em caminhos de frustração e infelicidade. Nem por isso, porém, perdem a natureza humana que os fazem titulares de uma imensa e inabalável dignidade.
Somente se consegue construir uma sociedade mais justa e solidária, que é a base para a tão almejada segurança pública, se soubermos ter esse olhar para todo ser humano, seja para o embrião que cresce no seio materno (ou está congelado em clínicas de fertilização), seja para a criança (ou adulto) que pede esmola num semáforo, seja para um bandido que cometeu as piores atrocidades.
Isso não justifica uma atuação relapsa do Estado no combate ao crime. Não é correto, sob falsas desculpas de defesa dos direitos humanos, deixar que os malvados destruam famílias, semeiem medo e divisões, fraudem o patrimônio público e permaneçam impunes. Mas apesar disso, cabe a todos, em qualquer circunstância, uma atitude incondicional respeito para com cada ser humano, por sua imensa dignidade que lhe é inerente.
Um fato relatado pelo Pe. Luiz Roberto Teixeira Di Lascio, reproduzido no texto base da Campanha da Fraternidade de 1.997, retrata o heroísmo com que se pode viver o respeito à dignidade da pessoa humana, fruto de um amor gratuito e fraterno por cada criatura:

“Em visita a um preso do Pavilhão 9 da Casa de Detenção do Carandiru – SP (...) observei que entrou uma senhora de seus 60 anos, simples, cabelo grisalho, rugas no rosto, andar calmo, meio curvada, semblante sereno, carregando uma sacola. Dirigiu-se até o banco onde estava sentado um jovem de uns 25 anos. Ele a acolheu com carinho, e ela, com seus gestos de amor materno. Fiquei admirado como aquela mãe demonstrou o tempo todo carinho, acolhimento, alegria, como o seu olhar para o rapaz era de ternura e como ele se sentia alegre. No abraço que eles trocaram para se despedir, Deus estava presente. O preso que eu visitava percebeu que eu estava admirando aquela cena, e disse: - Sabe, Pe. Luís Roberto, aquela senhora não é a mãe dele, mas a mãe do rapaz que ele matou. Ela prometeu, no dia do enterro, que ela o perdoava, e como sinal deste perdão ela o acompanharia com muito amor e assistência enquanto ele estivesse na prisão.”

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