segunda-feira, 2 de maio de 2011

Um homem para a eternidade

Ontem, domingo, dia 1º de maio, o Papa Bento XVI presidiu a solenidade de beatificação de seu predecessor, o Papa João Paulo II. Penso ser um dever de justiça render homenagem a esse grande homem pelo imenso bem que fez não apenas aos católicos e aos cristãos em geral, mas a toda a humanidade.
Mas como prestar uma justa homenagem em tão curso espaço sem que ela soe como algo redutivo, que ressalta apenas um detalhe, talvez até acidental, num homem cuja grandiosidade a história se encarregará de enaltecer cada vez mais?
Ouso correr esse risco, quando menos para afirmar que um dos maiores prodígios de João Paulo II foi saber mostrar ao homem e à mulher do final do século passado e início deste conturbado terceiro milênio a sua verdadeira identidade.
Em entrevista concedida ao escritor e jornalista Vittorio Messori, reproduzida no livro Cruzando o Limiar da Esperança, respondendo a uma indagação de seu interlocutor que questionava sobre o avanço de outras religiões e o declínio do número de cristãos no mundo, João Paulo II começa por afirmar que não há como medir em estatísticas a fé das pessoas. Em seguida, aborda uma questão de maior profundidade e que toca na essência do cristianismo:
 “Sempre e em toda parte o Evangelho será um desafio para a fraqueza humana. Mas precisamente neste desafio está toda a sua força. O homem, talvez, no seu inconsciente espera por esse desafio, pois nele há de fato a necessidade de superar-se a si mesmo. Apenas superando a si mesmo o homem é plenamente homem.
“Esta é a verdade mais profunda sobre o homem. Cristo é o primeiro que a conhece. Ele sabe verdadeiramente ‘o que há no homem’ (cf Jo 2,25). Com o Seu Evangelho ele atingiu a íntima verdade do homem”.
Fiel ao mandato que recebeu, o Papa João Paulo II pregou incansavelmente a mesma verdade de sempre sobre o homem e a mulher, mas com os matizes que os problemas do mundo moderno exigem. No afã de transmitir a toda a humanidade a mesma verdade que liberta e abre os caminhos da felicidade, escreveu inúmeras encíclicas, pregou incansavelmente, empreendeu muitíssimas viagens, promoveu o diálogo com outras religiões. E em tudo isso soube esbanjar alegria e bom humor.
João Paulo II soube promover a paz no mundo muito mais e melhor do que qualquer outro líder do seu tempo. É que a sua atuação se deu, primordialmente, onde a paz há de reinar de verdade: no coração do ser humano. É bem verdade que ele também promoveu o diálogo entre as religiões e entre os povos em conflito, empreendendo imensos esforços em busca da concórdia. No entanto, conhecedor profundo da natureza humana, ele sabia perfeitamente quão frágeis são os acordos de paz entre as nações se a semente do amor e da fraternidade não é plantada nas pessoas, que são a razão de ser dos Estados e da sociedade.,.
Há dois milênios, o Cristo pendido na Cruz bradava: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. Há cerca de três décadas, aquele a quem Ele confiou o seu rebanho foi alvo de vários tiros na Praça de São Pedro. Mas também manifestou o seu perdão, exatamente o mesmo que aprendeu do Mestre. E quando perguntam ao Papa o que ele falou ao seu agressor ao visitá-lo na prisão, respondeu: “Falei-lhe como se fala a um irmão que goza da minha confiança e a quem perdoei”. Com a sua terna bondade, abria as portas de uma nova superação e ascensão àquele infeliz criminoso que tanto havia se rebaixado.

Um dos grandes méritos de João Paulo II, se é que podemos dizer assim, foi o de manter incólume esse valiosíssimo tesouro que nos foi legado: a verdade sobre o homem e a mulher. Assim como as águas de um rio banham inúmeros locais por onde passam, a todos trazendo vida e em todas as paisagens segue sendo o mesmo rio, assim também é a verdade sobre o ser humano, que perpassa os séculos e os povos que fazem a história da humanidade sendo em todo tempo e lugar a mesma verdade, ainda que com contornos peculiares. E essa mesma verdade segue o seu curso vital, trazendo paz e alegria a todos os que desejam nela saciar a sua sede de felicidade e de eternidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário