Ontem, domingo, dia 1º de maio, o Papa Bento XVI
presidiu a solenidade de beatificação de seu predecessor, o Papa João Paulo II.
Penso ser um dever de justiça render homenagem a esse grande homem pelo imenso
bem que fez não apenas aos católicos e aos cristãos em geral, mas a toda a
humanidade.
Mas como prestar uma justa homenagem em tão curso
espaço sem que ela soe como algo redutivo, que ressalta apenas um detalhe,
talvez até acidental, num homem cuja grandiosidade a história se encarregará de
enaltecer cada vez mais?
Ouso correr esse risco, quando menos para afirmar que
um dos maiores prodígios de João Paulo II foi saber mostrar ao homem e à mulher
do final do século passado e início deste conturbado terceiro milênio a sua
verdadeira identidade.
Em entrevista concedida ao escritor e jornalista Vittorio
Messori, reproduzida no livro Cruzando o
Limiar da Esperança, respondendo a uma indagação de seu interlocutor que
questionava sobre o avanço de outras religiões e o declínio do número de
cristãos no mundo, João Paulo II começa por afirmar que não há como medir em
estatísticas a fé das pessoas. Em seguida, aborda uma questão de maior
profundidade e que toca na essência do cristianismo:
“Sempre e em
toda parte o Evangelho será um desafio para a fraqueza humana. Mas precisamente
neste desafio está toda a sua força. O homem, talvez, no seu inconsciente
espera por esse desafio, pois nele há de
fato a necessidade de superar-se a si mesmo. Apenas superando a si mesmo o
homem é plenamente homem.
“Esta é a verdade mais profunda sobre o homem. Cristo é o primeiro que a conhece. Ele
sabe verdadeiramente ‘o que há no homem’ (cf Jo 2,25). Com o Seu Evangelho ele
atingiu a íntima verdade do homem”.
Fiel ao mandato que recebeu, o Papa João Paulo II
pregou incansavelmente a mesma verdade de sempre sobre o homem e a mulher, mas
com os matizes que os problemas do mundo moderno exigem. No afã de transmitir a
toda a humanidade a mesma verdade que liberta e abre os caminhos da felicidade,
escreveu inúmeras encíclicas, pregou incansavelmente, empreendeu muitíssimas
viagens, promoveu o diálogo com outras religiões. E em tudo isso soube esbanjar
alegria e bom humor.
João Paulo II soube promover a paz no mundo muito
mais e melhor do que qualquer outro líder do seu tempo. É que a sua atuação se
deu, primordialmente, onde a paz há de reinar de verdade: no coração do ser
humano. É bem verdade que ele também promoveu o diálogo entre as religiões e
entre os povos em conflito, empreendendo imensos esforços em busca da concórdia.
No entanto, conhecedor profundo da natureza humana, ele sabia perfeitamente
quão frágeis são os acordos de paz entre as nações se a semente do amor e da
fraternidade não é plantada nas pessoas, que são a razão de ser dos Estados e
da sociedade.,.
Há dois milênios, o Cristo pendido na Cruz bradava:
“Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. Há cerca de três décadas,
aquele a quem Ele confiou o seu rebanho foi alvo de vários tiros na Praça de
São Pedro. Mas também manifestou o seu perdão, exatamente o mesmo que aprendeu
do Mestre. E quando perguntam ao Papa o que ele falou ao seu agressor ao
visitá-lo na prisão, respondeu: “Falei-lhe como se fala a um irmão que goza da
minha confiança e a quem perdoei”. Com a sua terna bondade, abria as portas de
uma nova superação e ascensão àquele infeliz criminoso que tanto havia se
rebaixado.
Um dos grandes méritos de João Paulo II, se é que
podemos dizer assim, foi o de manter incólume esse valiosíssimo tesouro que nos
foi legado: a verdade sobre o homem e a mulher. Assim como as águas de um rio
banham inúmeros locais por onde passam, a todos trazendo vida e em todas as paisagens
segue sendo o mesmo rio, assim também é a verdade sobre o ser humano, que
perpassa os séculos e os povos que fazem a história da humanidade sendo em todo
tempo e lugar a mesma verdade, ainda que com contornos peculiares. E essa mesma
verdade segue o seu curso vital, trazendo paz e alegria a todos os que desejam
nela saciar a sua sede de felicidade e de eternidade.
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