segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Álcool na Adolescência


Uma matéria publicada no Correio Popular, na edição do dia 19 de setembro deste ano, aponta que “o álcool é um ingrediente cada vez mais comum na rotina de jovens e adolescentes com idades entre 12 e 17 anos”. Isso me fez lembrar um comentário sobre os hábitos dos jovens da década de 60 de uma pacata cidade do interior paulista: “Eles bebiam feitos uns loucos e, como é de se supor, aprontavam as mais inusitadas estripulias. No dia seguinte, passada a fogueira, reuniam-se na praça para conversar e se divertiam relembrando as peripécias da véspera”.
O problema não é recente. O hábito de se embriagar aos finais de semana ou em determinadas ocasiões é socialmente aceitável há longa data entre nós. Por certo que os saudosistas dirão: “Sim, mas antigamente não havia a proliferação das drogas e outras coisas terríveis que vemos na juventude de hoje”. E talvez tenham razão. Mas, por outro lado, será a embriaguez, ainda que esporádica, tão inocente assim?
A mesma matéria que mencionamos acima traz o relato de profissionais da área de saúde que “afirmam que a bebida pode ter reflexos nocivos ao organismo de um ser humano, principalmente em idade de crescimento. Além disso, “as bebidas alcoólicas são a porta de entrada mais fácil para as drogas ilícitas, como maconha, crack e cocaína”. Sendo assim, como combater tão grave problema?
Como toda questão complexa, temos de ir à raiz, sem o que ficaremos apenas com meros paliativos. Como exemplo disso temos o aumento da punição para os proprietários de bares e restaurantes que vendam bebida alcoólica para menores, ou permitam o consumo por eles em seus estabelecimentos. A medida é elogiável, mas não resolve.
Uma vez ouvi o seguinte comentário de um adolescente sobre o seu colega de classe: “Puxa, ele nem precisa beber para ser tão divertido assim! Consegue conversar, ser simpático e atraente com as meninas...”. Esse mesmo jovem se intitulava como tímido, de modo que via na bebida um meio para se libertar da timidez.
Convém que não se encare a timidez como algo irreversível ou uma característica imutável da pessoa. Trata-se de uma defesa desenvolvida por quem talvez tenha uma baixa auto-estima e receia se expor para que os outros não criem um mau conceito de si próprio. Cabe aos pais e professores fomentar uma saudável auto-estima – e para isso não é necessário criar um falso conceito sobre si próprio – que anime os filhos e alunos a se portarem com naturalidade em qualquer ambiente. O objetivo não será expor desnecessariamente a intimidade, mas agir com segurança. E isso somente se consegue com êxito quando se toma consciência da imensa dignidade que é inata a cada ser humano.
Talvez outra causa seja o desejo de grandes aventuras que marca os jovens e adolescentes. Temos de ajudá-los a ver que não precisam do álcool para isso. A vida toda pode ser uma grande aventura, conquanto que estejamos abertos a lutar por grandes ideais que valham a pena. Além disso, com um pouco de sacrifício podemos proporcionar-lhes passeios verdadeiramente estimulantes, como acampamentos, escaladas a montanhas, viagens de bicicleta etc. São atividades que exigem esforços e, ainda que tenham um certo risco, proporcionam momentos inesquecíveis, que valem ser a pena ser recordados no dia seguinte, numa roda de amigos, e por toda a vida.
Há tempos estive numa fazenda de tratamento de dependentes químicos. Era um dia festivo, pois se comemorava a recuperação de um rapaz, que voltaria ao convívio social. Enquanto almoçávamos, o responsável pelo trabalho, que também era um ex-dependente, fez uma brincadeira: “ontem eu bebi todas! Guaraná, coca-cola, suco de laranja e depois cheguei a casa chapado de amor a Deus”. Os jovens que o rodeavam na mesa, acostumados com esse linguajar e nutridos de esperança, soltavam grandes gargalhadas. No brilho de seus olhos ecoava de novo a alegria. “Como é boa a felicidade que se alimenta numa vida simples e sóbria!”, talvez pensassem. De fato, somente quem é senhor de si mesmo pode-se doar livremente aos outros. E a mensagem estampada na parede do local bem nos serve de conclusão: “Felicidade e sobriedade: aprecie sem moderação”.

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