segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Ciúmes ou indiferença?

O casamento é, queiramos ou não, uma entrega e uma doação que fazemos de nós mesmos ao outro. Diante dessa radicalidade que marca a união conjugal é comum que os cônjuges receiem não ser correspondidos, ou ao menos que essa correspondência do outro não se dê conforme as próprias expectativas.
Quando se diz que o amor é doação não se está a dizer que quem se doa não deseja também receber. A auto-suficiência do marido ou da esposa, que tolhe qualquer possibilidade de receber demonstrações de carinho, priva o outro do direito de manifestar o seu sentimento. Por exemplo, há homens ou mulheres que não permitem que se lhes prestem pequenos serviços, como trazer um remédio quando está doente. “Não precisa, deixa que eu mesmo faço isso”, dirá em seu tom altivo e independente. Acontece que sem o intercâmbio dessas demonstrações de afeto, ainda que se tenha muita força de vontade de levar o relacionamento adiante, ele tende a perder o sabor que brota da afetividade. Assim, quem ama de verdade deve também estar disposto a receber amor, como e quando o outro o queira manifestar.
Marido e mulher trazem muitas expectativas para a vida matrimonial. Em geral a mulher gostaria que ele se importasse com ela tal como nos tempos de namoro; que se mantivesse atencioso e carinhoso; enfim, que apreciasse estar com ela. O marido também espera que ela se esforce por estar atraente para ele e não apenas quando se arruma para o trabalho ou compromissos sociais; que o compreenda e valorize o seu esforço por buscar melhores condições para a família. Mas é inevitável que muitas dessas expectativas se frustrem. Porque são pessoas diferentes, porque o outro sequer conhece de verdade as expectativas do cônjuge e porque muitas delas são mesmo irreais, fruto da imaturidade e da imaginação. Diante dessa frustração, costumam surgir duas posturas diametralmente opostas, mas ambas incompatíveis com o verdadeiro amor: o ciúme e a indiferença.
No afã de ver correspondida a entrega que se faz ao outro, há quem desenvolva uma atitude possessiva, que faz exigir do outro manifestações de afeto do seu próprio modo. A lógica do marido ou da mulher ciumento(a) é mais ou menos essa: “já que faço isso e aquilo por você, quero ser o centro de todas as suas atenções”. E então se vale da chantagem emocional para exigir a atenção e para fazer que o outro demonstre o seu afeto do nosso próprio jeito.
A atitude oposta é a indiferença. Quando alguém se depara com as frustrações, o sofrimento é iminente. Com efeito, quanto mais radical for a entrega, maior é a possibilidade do sofrimento quando notamos que a correspondência do outro não se dá como havíamos idealizado. Assim, talvez inconscientemente, muitos cuidam de reduzir o sentimento, pois assim se “sofre menos”.
 No entanto, ainda que o amor não se limite ao coração, mas se manifeste também na vontade de querer amar o outro, não se pode amar sem o sentimento. E a indiferença é um distanciamento, por medo de sofrer, que acaba por dar veneno ao verdadeiro amor conjugal.

Dizem que a virtude está no meio. De nada adianta o ciúme possessivo ou a chantagem emocional, pois não há verdadeiro amor sem liberdade, sobretudo a liberdade interior para querer amar. Tampouco a indiferença é o resultado do bom uso da liberdade, mas uma atitude covarde de não se querer dar por medo de sofrer. Nesse grande dilema do amor conjugal o melhor é a doação desinteressada, que se traduz em pequenos gestos todos os dias. Não se fica sempre a exigir do outro uma “contraprestação”, mas se aceita de bom grado e se regozija nas demonstrações de afeto do outro.

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