É interessante notar como cada vez mais as pessoas se
preocupam com a saúde e, por consequência, tomam iniciativas destinadas a
proporcionar uma tão propalada melhor qualidade de vida. Para isso enchem-se as
academias de ginástica, as pistas de corrida e as clínicas de beleza. Essas
ações, para que sejam eficazes, exigem esforço e perseverança. De certo modo, é
bom notar esse empenho em se buscar uma vida mais saudável. No entanto, o mesmo
esforço não se nota em levar adiante os grandes empreendimentos dos quais
depende essencialmente a nossa felicidade, tais como a família, os amigos e o
próprio projeto profissional. Com efeito, vemos os laços familiares serem
rompidos e reconstruídos ao sabor de cada momento, as amizades formadas com
base no interesse e o trabalho voltado apenas para ganhar dinheiro e para a
disputa pelo poder, sem uma preocupação em edificar algo em benefício dos
demais. Mas qual seria a razão disso?
Tal indagação não é fácil de se responder. São muitos os
fatores que influem nesse modo de agir. No entanto, não seria demasiado
simplista apontar como causa desse fenômeno uma concepção da vida e do mundo
marcada pelo hedonismo e pelo individualismo. Essa conclusão, contudo, nos
remete a outro questionamento: como reverter esse quadro? Ou melhor, como
ajudar as pessoas a construírem o seu projeto de vida sobre bases mais sólidas?
Penso que a sociedade e o mundo atual precisam de pessoas
suficientemente fortes para enfrentar com a firmeza as dificuldades e agirem
com constância na procura do bem para si e para os outros. Que estejam
dispostas a se sacrificar pelos grandes ideais que, no fundo, dão sentido às
nossas vidas. Precisamos, em suma, de cultivar a virtude da fortaleza.
E para isso o trabalho há de começar bem cedo na educação de
nossos filhos e alunos. Outro dia alguém me fez a seguinte observação: “Repare
como as mães e pais carregam a mochila escolar dos filhos. Se pudessem
levariam-na até a classe. E, ao buscá-los ao final da aula, já vão logo pegando
aquele objeto pesado, poupando-os daquele incômodo”. É verdade. Como muitos
pais se empenham em poupar os filhos do menor esforço! Mas qual será o
resultado disso?
Certa vez uma mãe fez registrar a seguinte reclamação no
livro de ocorrências do condomínio: “a filha do morador do apartamento tal
beliscou a minha filha enquanto brincavam no parque”. Será que tamanha
intervenção é educativa? Estamos, com isso, ensinando nossos filhos a resolver
por conta própria os seus problemas? Há quem sustente, com uma certa dose de
razão, que o Judiciário está abarrotado de processos porque as pessoas não são
educadas, desde pequenas, a resolver por si sós os próprios conflitos,
recorrendo à intervenção de um terceiro diante do mais insignificante
incidente. Educar filhos e alunos fortes exige que sejam treinados a suportar
com valentia as incomodidades e a resolver sozinhos, quando for possível, os
próprios conflitos.
Mas para educar filhos fortes é necessário, acima de tudo, o
bom exemplo dos pais. Para isso, talvez devêssemos nos questionar como são os
nossos finais de semana, ou mesmo as nossas noites em casa. Será que ficamos
o tempo todo esparramados no sofá diante da TV? Deveríamos considerar que
outras atividades, como os jogos educativos e o esporte apresentam
oportunidades fantásticas de formarmos os nossos filhos. Dentre outras coisas
podemos estimulá-los a perseverarem diante das dificuldades, aceitar as
derrotas, vendo nelas oportunidades de luta e superação.
A cultura hedonista e individualista que marca a nossa
sociedade não nos impõe a fuga do esforço e do sacrifício em si, mas apenas
daquele que é feito pelos outros e desinteressadamente. Nesse contexto, se nos
empenharmos em ser melhores pais, mães, esposos, esposas, trabalhadores, que
saibam se doar aos demais, enfrentando com valentia e sem ares de vítima as
adversidades da vida, estaremos construindo um mundo melhor a nossa volta, ao
mesmo tempo em que construímos a nossa própria felicidade sobre bases mais
sólidas e duradouras.
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