Um fenômeno marcante do nosso tempo é a falta de
maturidade. É frequente encontramos quarentões, cinquentões ou sessentões que
ainda mantêm comportamentos típicos de adolescentes. É o caso, por exemplo, de homens
e mulheres que já ultrapassaram as quatro décadas de vida e ainda se lançam a
disputas no trânsito, colocando em risco a vida de outras pessoas, como se
fossem ainda garotos de dezesseis ou dezoito anos. Não que tal comportamento
seja tolerável entre os mais jovens. O ideal é que ao se obter a habilitação
para conduzir veículo já se tenha desenvolvido o suficiente respeito por si
próprio e pelos outros. Mas, além disso, é de se esperar que, com o passar dos
anos, se verifique um amadurecimento que se traduza numa nova postura, mais
respeitosa e zelosa pela vida dos demais.
Mas a falta de maturidade não se manifesta apenas em
situações aberrantes. Se observarmos bem encontraremos governantes,
parlamentares, magistrados, empresários, dirigentes de entidades e instituições,
ou seja, que ocupam cargos importantes, esbanjando descontrole emocional ou
mesmo atitudes verdadeiramente infantilizadas. É o que se manifesta, por
exemplo, em frases do tipo: “Sabe com quem está falando?”. Agem como se o poder
que possuem fosse uma espécie de narcótico para o próprio ego, e não mero
instrumento para zelar pelo bem comum, pela justiça e pela paz no meio em que
foram constituídos como autoridade.
Nesse contexto, cabe a nós indagarmos as razões mais
profundas desse fenômeno. E penso que uma das causas desses comportamentos
imaturos é a falta da virtude da prudência.
Frequentemente construímos uma noção distorcida dessa
virtude. Pensamos que prudente é a pessoa extremamente indecisa, que dá mil
voltas ao mesmo assunto antes de tomar uma decisão e que, quase sempre, deixa
de agir com medo de errar. Trata-se de uma noção errônea. Na verdade, a pessoa
prudente é a que, ao decidir, sabe encontrar em cada situação de sua vida o
verdadeiro bem para si e para os demais, assim como escolher os meios adequados
para buscar esse fim. Apenas para ilustrar, a pessoa que se lança do último
andar de um edifício em chamas em uma cama elástica aberta no solo age com a
mais pura prudência. Por outro lado, o pai que deixa de corrigir o filho,
energicamente se necessário, por medo de magoá-lo ou de perder a amizade é, no
mais das vezes, um terrível imprudente.
Os anos vividos são importantes. Mas o tempo, por si
só, não basta. Com efeito, podemos encontrar pessoas de pouca idade capazes de
tomar decisões acertadas. Ao contrário, encontramos homens e mulheres de idade
avançada com comportamentos ainda imaturos. É que as experiências vividas
somente contribuem para o nosso amadurecimento se meditamos sobre elas, tirando
lições que nos movam a sermos melhores como pessoas. É certo que sempre
erraremos em nossas decisões. Mas o crescimento se forja no meditar nesses
erros e acertos, bem como nos propósitos que deles extraímos.
Outro sintoma da imaturidade é a incapacidade de
tomar decisões que comprometam, talvez por toda a vida e, sobretudo, na falta
de determinação para cumprir com valentia os compromissos assumidos. Esse é o
motivo de encontramos muitas mulheres e homens feitos que ainda se lançam a relacionamentos
passageiros, sem qualquer comprometimento, numa busca desenfreada por prazeres
efêmeros e inconstantes. No entanto, com esse viver buscando interesses
egoístas e passageiros, cedo ou tarde notarão que não construíram nada de
verdade. Não edificaram aquelas obras que deixam a certeza de que foram feitas
para a eternidade. Dentre essas podemos mencionar, muito especialmente, a
dedicação à esposa e aos filhos, da qual se forja uma família cujos frutos se
prolongam para muito além dessa breve existência terrena.
Os versos de Drummond, em Memória, talvez nos ajudem a concluir: “As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão...”. De
fato, os bens pelos quais lutamos, os prazeres que veneramos rapidamente nos
causam enfado, deixando na boca um amargo sabor. Mas um sorriso, um abraço, o sacrifício
alegre e desinteressado que fazemos por aqueles que amamos, enfim, as coisas findas, muito mais que lindas,
essas ficarão.