segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Cuidar dos doentes

Quando observamos os avanços da medicina, muitas vezes ficamos maravilhados ao ver como a tecnologia tem contribuído para os tratamentos. E isso não apenas para alcançar a cura de doenças outrora incuráveis, como para atenuar o sofrimento dos pacientes em situações que antes se mostravam extremamente dolorosas. No entanto, em um aspecto talvez tenhamos regredido. É que voltamos nossas atenções excessivamente para as técnicas a serem empregadas e, por vezes, nos esquecemos que o fim último disso tudo é um ser humano em concreto, que necessita das medidas terapêuticas, mas, mais que isso, deseja um alento, uma companhia solícita, pessoas serenas e, se possível alegres, que saibam conforta-los nesses momentos de dor e angústia. 

Os doentes podem encontrar um sentido para os difíceis momentos por que passam, ainda que se trate de uma enfermidade incurável. Há um filme muito bom, Antes de Partir, que talvez ajude encarar melhor esse terrível momento em que alguém se depara com o anúncio de uma doença grave. Os dois personagens, Carter Chambers (Morgan Freeman) e Edward Cole (Jack Nicholson), acabam por ficar num mesmo quarto de um hospital, e descobrem que lhes restam poucos meses de vida. Por acaso decidem escrever a "lista da bota", que consiste em enumerar o que gostariam de fazer antes de partir. É interessante notar como as diferentes opções de vida de cada um acabam por influir nesse momento terrível. Mas talvez a melhor mensagem consista em descobrir como aproveitar bem o tempo, sobretudo para reatar as relações com as pessoas queridas e para construir algo de positivo para os demais.

E também os parentes e amigos do doente podem crescer muito com essa experiência. Trata-se de uma oportunidade imperdível de viver a caridade. Cuidar desinteressadamente de um doente, esforçando-se por contar-lhe coisas alegres, por fazer com que passe bons momentos nessa difícil situação, é, antes de mais nada, algo que inunda de muita paz e alegria a quem presta esse valioso serviço.

Além disso, com muito respeito e delicadeza, talvez será o momento de mostrar ao doente o verdadeiro sentido da vida. Quer se acredite ou não em outra vida após a morte, é inegável que estamos aqui de passagem. Aliás, uma passagem muito breve. Assim, sem forçar a nada e com profundo respeito pela liberdade das consciências, muitos desses doentes serão eternamente gratos a uma atenção espiritual que lhes forem prestadas nesses momentos.

Não se trata de criar escrúpulos nem de impor convicções religiosas nesse momento. Mas os doentes têm direito de que lhes falemos de amor, e o amor transcende aos credos e às convicções religiosas. Como diz o Papa Bento XVI, em sua primeira encíclica (Deus é Amor), “a caridade não deve ser um meio em função daquilo que hoje é indicado como proselitismo”. E mais adiante acrescenta: “O cristão sabe quando é tempo de falar de Deus e quando é justo não o fazer, deixando falar somente o amor”. Esse carinho e esse afeto desinteressados não podemos jamais negá-los a esse imenso tesouro que são os nossos doentes.

Há poucos dias tive a imensa alegria de visitar uma grande amiga, que há dois meses se encontrava internada num hospital. Encontrei a D. Marina muito fraca e debilitada pela doença, mas com a paz e a serenidade que sempre marcaram a sua face. Não foram poucos os dissabores que a vida lhe reservou, mas a todos eles soube superar com a sua fé inabalável. Mesmo naquela situação debilitada, quando ela soube que um casal de amigos passava por uma dificuldade, arrancou forças de onde não tinha e disse: “eu vou ficar boa, vou sair daqui e então vou ajudá-los nisso de que estão precisando”. Não foi possível que ela realizasse esse desejo. Na última sexta-feira Deus a chamou à Sua casa. Mas ainda que aparentemente ela não tenha ajudado os amigos, muito mais que uma ajuda material, nesses últimos instantes da sua existência terrena nos deixou um magnífico exemplo: devemos encontrar no serviço desinteressado aos demais a razão de ser para a nossa própria vida!

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