Há alguns anos atrás minha filha me fez a seguinte pergunta:
“Pai, quando você vai se aposentar?”. “Só posso me aposentar quando fizer
sessenta anos”, respondi-lhe imediatamente. Sem se dar conta do tempo que ainda
falta, ela prosseguiu animada com a ideia: “quando você se aposentar, você
poderá ir ao cinema comigo?”. “Quando eu me aposentar provavelmente ela estará
casada, com filhos, ou ao menos será já suficientemente adulta para não
precisar (ou não querer) do pai para ir ao cinema”, pensei comigo mesmo, sem
lhe desanimar com essa observação. Esse breve diálogo me fez pensar no quanto
adiamos as coisas boas que podemos fazer por aqueles que amamos, em especial os
nossos filhos.
A propósito, vale a pena recordar a conversa entre um
pai e o seu filho pequeno. Era já quinta-feira e a criança não o via desde
domingo, apesar de viverem na mesma casa. É que saía pela manhã bem cedo,
quando o filho ainda dormia, e retornava tarde da noite, quando já se deitara.
Nesse dia, aconteceu que o garoto acordou mais cedo e surpreendeu o pai saindo
afobado: “Papai, aonde vai?”. “Vou trabalhar, filho, e já estou atrasado”,
respondeu já abrindo a porta da casa. “Nós quase não ficamos juntos nesses
dias”, disse o menino querendo um pouco de atenção. “Filho, o que importa não é
a quantidade, mas a qualidade”, argumentou o pai. “Papai, para onde você vai
agora?”. “Tenho uma reunião muito demorada e, depois, terei de trabalhar até
tarde para terminar o serviço pendente”. “Papai, mas você não disse que o que
importa é a qualidade e não a quantidade, então por que não vem mais cedo
hoje?”. Sem resposta, o pai saiu remoendo aquela pergunta.
A vida moderna impõe muitos desafios na educação, e
talvez o maior deles seja encontrar tempo para estar com os filhos. Não há
regras fixas nem muito menos soluções mágicas. Cada pai e cada mãe devem, com
um pouco de criatividade e com esforço heroico, se necessário, encontrar o
tempo para isso. E mais que estar juntos, cuidar de que sejam momentos
verdadeiramente felizes, permeados daquela alegria que inunda o ambiente quando
se dispõe a esquecer de si próprio para fazer a vida mais agradável aos outros.
Quantas vezes não dedicamos sequer alguns poucos
minutos por dia para estar com os nossos filhos porque passamos por temporadas
em que o trabalho profissional exige uma dedicação maior. Com isso, pensamos
conosco mesmos que “quando as coisas melhorarem”, “quando tivermos uma situação
econômica mais folgada”, então sim poderemos dedicar mais tempo aos filhos.
Acontece que o tempo é implacável. Os dias rapidamente se transformam em meses
e esses anos e, quando menos esperamos, eles terão crescido. E então ficará a gozosa
saudade dos bons momentos passados juntos, ou o triste arrependimento das
oportunidades desperdiçadas.
E tanto mais importante ainda é cuidar do tempo que
se dedica à esposa e ela ao marido. Há de se cuidar para que o convívio seja
bem aproveitado para estreitar os laços de amor e de carinho. Afinal, tal como
um tecido feito à mão se constrói ponto por ponto, a felicidade no casamento se
edifica minuto a minuto. E assim como a beleza e a solidez do tecido dependem
do capricho que se coloca em cada movimento, também o casamento depende de cada
sorriso, de cada abraço, de cada gesto de dedicação e acolhida cuidadosamente
praticados dia a dia, minuto a minuto.
O tempo presente é um grande tesouro que possuímos. O
dia de ontem já passou e o amanhã não sabemos se chegará para nós. Assim, é uma
enorme demonstração de sabedoria aproveitar esses minutos que nos cabem agora
para fazer neles o que verdadeiramente importa. E o que de verdade é importante
é cultivar a alegria no coração dos demais. O agricultor lança para longe de si
a semente, que cai na terra, germina, cresce, floresce e depois produz os
frutos abundantes, que são a causa de sua alegria. O mesmo pode ser feito com o
nosso tempo. Parece que o jogamos fora quando nos esforçarmos por fazer um
trabalho bem feito, por estar com a esposa, com os filhos ou com os amigos. Mas
depois ele frutifica e se multiplica, trazendo consigo uma paz e uma alegria
tão intensos que não há mau tempo que as possa apagar.
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