segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Dedicar tempo à família

Há alguns anos atrás minha filha me fez a seguinte pergunta: “Pai, quando você vai se aposentar?”. “Só posso me aposentar quando fizer sessenta anos”, respondi-lhe imediatamente. Sem se dar conta do tempo que ainda falta, ela prosseguiu animada com a ideia: “quando você se aposentar, você poderá ir ao cinema comigo?”. “Quando eu me aposentar provavelmente ela estará casada, com filhos, ou ao menos será já suficientemente adulta para não precisar (ou não querer) do pai para ir ao cinema”, pensei comigo mesmo, sem lhe desanimar com essa observação. Esse breve diálogo me fez pensar no quanto adiamos as coisas boas que podemos fazer por aqueles que amamos, em especial os nossos filhos.
A propósito, vale a pena recordar a conversa entre um pai e o seu filho pequeno. Era já quinta-feira e a criança não o via desde domingo, apesar de viverem na mesma casa. É que saía pela manhã bem cedo, quando o filho ainda dormia, e retornava tarde da noite, quando já se deitara. Nesse dia, aconteceu que o garoto acordou mais cedo e surpreendeu o pai saindo afobado: “Papai, aonde vai?”. “Vou trabalhar, filho, e já estou atrasado”, respondeu já abrindo a porta da casa. “Nós quase não ficamos juntos nesses dias”, disse o menino querendo um pouco de atenção. “Filho, o que importa não é a quantidade, mas a qualidade”, argumentou o pai. “Papai, para onde você vai agora?”. “Tenho uma reunião muito demorada e, depois, terei de trabalhar até tarde para terminar o serviço pendente”. “Papai, mas você não disse que o que importa é a qualidade e não a quantidade, então por que não vem mais cedo hoje?”. Sem resposta, o pai saiu remoendo aquela pergunta.
A vida moderna impõe muitos desafios na educação, e talvez o maior deles seja encontrar tempo para estar com os filhos. Não há regras fixas nem muito menos soluções mágicas. Cada pai e cada mãe devem, com um pouco de criatividade e com esforço heroico, se necessário, encontrar o tempo para isso. E mais que estar juntos, cuidar de que sejam momentos verdadeiramente felizes, permeados daquela alegria que inunda o ambiente quando se dispõe a esquecer de si próprio para fazer a vida mais agradável aos outros.
Quantas vezes não dedicamos sequer alguns poucos minutos por dia para estar com os nossos filhos porque passamos por temporadas em que o trabalho profissional exige uma dedicação maior. Com isso, pensamos conosco mesmos que “quando as coisas melhorarem”, “quando tivermos uma situação econômica mais folgada”, então sim poderemos dedicar mais tempo aos filhos. Acontece que o tempo é implacável. Os dias rapidamente se transformam em meses e esses anos e, quando menos esperamos, eles terão crescido. E então ficará a gozosa saudade dos bons momentos passados juntos, ou o triste arrependimento das oportunidades desperdiçadas.
E tanto mais importante ainda é cuidar do tempo que se dedica à esposa e ela ao marido. Há de se cuidar para que o convívio seja bem aproveitado para estreitar os laços de amor e de carinho. Afinal, tal como um tecido feito à mão se constrói ponto por ponto, a felicidade no casamento se edifica minuto a minuto. E assim como a beleza e a solidez do tecido dependem do capricho que se coloca em cada movimento, também o casamento depende de cada sorriso, de cada abraço, de cada gesto de dedicação e acolhida cuidadosamente praticados dia a dia, minuto a minuto.

O tempo presente é um grande tesouro que possuímos. O dia de ontem já passou e o amanhã não sabemos se chegará para nós. Assim, é uma enorme demonstração de sabedoria aproveitar esses minutos que nos cabem agora para fazer neles o que verdadeiramente importa. E o que de verdade é importante é cultivar a alegria no coração dos demais. O agricultor lança para longe de si a semente, que cai na terra, germina, cresce, floresce e depois produz os frutos abundantes, que são a causa de sua alegria. O mesmo pode ser feito com o nosso tempo. Parece que o jogamos fora quando nos esforçarmos por fazer um trabalho bem feito, por estar com a esposa, com os filhos ou com os amigos. Mas depois ele frutifica e se multiplica, trazendo consigo uma paz e uma alegria tão intensos que não há mau tempo que as possa apagar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário