segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O Natal em família

Há quem diga, com uma forte dose de nostalgia, que a cada ano que passa os enfeites de Natal são mais escassos e sem vida. Talvez haja uma forte dose de saudosismo nessa afirmação. De qualquer modo, essa festa continua a ser ocasião de imensa alegria para as crianças. E talvez nos indaguemos por quê?
Penso que o principal motivo é que a crianças observam o presépio e veem ali refletido claramente o que se passa em seu interior. Os adultos, porém, não mais se espelham naquele acontecimento que, com o passar dos anos, se tornou incompreensível. Com efeito, a cena reflete simplicidade, solidariedade, paz, anseio de vida, tudo facilmente encontradiço nas crianças. Quase tudo, ao contrário, acaba ofuscado nos homens e mulheres que deixaram de ser como elas.
O nascimento do Menino ocorreu num ambiente de extrema simplicidade. Aquela gruta é magnificamente simples. Falta-lhe tudo, mas, se considerarmos bem, há uma alegria tão intensa que se pode pensar que não falta nada.
Soube de uma criança de família rica que ganhou um presente sofisticado e caro. Dias após, brincando sem muito interesse numa praça, travou logo amizade com outro garotinho, que trazia um caixote de madeira. Com pouco tempo de convívio e sem muita negociação, não hesitaram em trocar em definitivo os presentes. O “negócio desvantajoso” causou verdadeira comoção familiar: “que absurdo, trocar o brinquedo importado por um caixote de madeira!”.  Mas as crianças não pensam assim. São simples e exatamente por isso a simplicidade eloquente do presépio não lhes choca, ao contrário, alegram-se com isso.
Os personagens que contemplamos são solícitos uns com os outros. O esposo ocupa-se da esposa e ela cuida do marido e do menino que nasceu em um estábulo, junto com os animais. E desse desvelo de uns para com os outros brota um ambiente de terna serenidade.
As crianças veem no presépio três personagens extremamente solidários uns com os outros, e se alegram porque isso reflete o que elas são. Os que deixaram de ser crianças, porém, imersos em seu egoísmo, em um afã desordenado de riqueza, de “status”, de fama, de poder, não conseguem enxergar isso.
A cena reflete uma imensa paz. As crianças não se preocupam se haverá peru, se o vinho será suficiente... Nada disso lhes preocupa. Ao contrário, é Natal. Talvez se preocupem um pouco em como quebrar as castanhas, mas não hesitarão em deixar as cascas atrás da porta, agora usada como quebra-nozes.
O Menino que se contempla no presépio nasceu para viver. Elas, as crianças, também. Não se sabe se por uns instantes, ou por cem anos. Não importa, todos vêm com uma missão e querem alcançá-la.
Há pessoas que avançam nos anos e continuam sendo crianças. Há outras, porém, que com muitos ou poucos anos de vida estão velhos, carcomidos pela cultura da morte. Essas, se olhassem para Maria ainda grávida e soubessem que o menino viveria apenas 33 anos e que morreria de forma brutal, talvez a ela sugerissem: “não valerá a pena viver apenas esse tempo para depois ainda morrer numa cruz, vamos interromper de forma humanitária a gravidez e poupar a ambos de todo esse sofrimento”. São os mesmos velhos que agora sustentam que, por estar uma criança destinada a viver alguns minutos ou dias, a gravidez é inviável.
As crianças não pensam assim. Muito mais sábias, elas dão aos minutos sabor de eternidade. Sabem que o que vale é o minuto presente, sem se importarem com o anterior, que já passou, nem com o seguinte, que não sabemos se chegará para qualquer um de nós.

Talvez um bom propósito para sermos felizes neste Natal e sempre seja imitarmos a simplicidade e a alegria das crianças. Mas mais que isso, que nós, pais e mães, saibamos criar um ambiente de paz e serenidade. Que em nossa casa brote muito fortemente a luz e a alegria que inundava aquela gruta de Belém!

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